Chamaram-lhe sessão de propaganda porque, diziam, não tinha contraditório e sobre as perguntas dos cidadãos acharam que eram generalistas ou pessoais e que não interessavam para nada. Sobre as respostas do primeiro-ministro e dos ministros que falaram, disseram que omitiram muita coisa e que só falaram do que lhes interessava. Isto passou-se na RTP3 nos comentarios dos dois directores André Macedo e António José Teixeira (o primeiro mais que o segundo) durante o encontro do governo com os cidadãos .
Talvez os dois jornalistas não se tenham apercebido do sinal de arrogância e superioridade que deixaram a quem os via e ouvia, como se apenas os jornalistas soubessem o que interessa aos cidadãos e como se as pessoas que fizeram perguntas aos ministros fossem uns ignorantes.
Ora, como acontece neste caso em Portugal mas não apenas entre nós, os jornalistas não raras vezes privilegiam a intriga politica em detrimento dos assuntos que interessam ao cidadão comum e por isso erram tantas vezes nos seus diagnósticos e previsões.
António Costa e o seu governo foram fustigados por jornalistas e comentadores durante este primeiro ano de governo mas os cidadãos- os tais que segundo eles não sabem fazer perguntas – dão nota positiva ao governo como mostraram as sondagens.
E sobre o contraditório, é o que não tem faltado a António Costa e ao seu governo, como se viu na RTP3, em que os dois jornalistas tiveram tempo de sobra para contrariarem o que o primeiro-ministro e os ministros iam respondendo aos cidadãos.
Mas não se pense que os jornalistas esgotam o contraditório porque há sempre alguma coisa que fica por perguntar e por responder, quer da parte de quem pergunta quer da de quem responde.
Por isso, um pouco de humildade e respeito pelos cidadãos não fica mal aos jornalistas e uma conversa de um governante com os cidadãos não é necessariamente uma sessão de propaganda.
Valeu, pois, a pena o governo expor-se perante cidadãos desconhecidos e sem voz nos media, por muito que os jornalistas nao gostem. E talvez fosse aconselhável que os jornalistas reflectissem sobre a distância que vai entre as suas opiniões e previsões e os sentimentos dos cidadãos comuns.
Artigo publicado inicialmente no blog VAI E VEM