A imprensa escrita ensaia várias visões onde não é possível discernir entre o que é reportagem e opinião. Diga-se, em abono da verdade, que, quer pelo contexto e situação que se vive, quer pelo papel que o PCP passou a desempenhar após ter viabilizado o Governo, não é possível, separar águas.
Reconhecendo isso, nem o tentamos.
Os congressos dos partidos não são todos iguais
Podíamos aqui, porque a tudo assistimos, colarmo-nos ao texto do Público em que se considera ser o Congresso do PCP um congresso diferente dos outros e escreve em quê, referindo: a pontualidade britânica; a segurança e a organização; a sala sempre cheia; o léxico próprio (e exemplifica no que dá identidade ao partido); o palco, sublinhando que durante todos os dias dos trabalhos está presente a Mesa do Congresso; o prime-time, não se podendo dizer que os discursos dos principais dirigentes estejam todos concentrados nas melhores horas do dia para efeitos mediáticos e que ninguém se atropela a disputar a mesma hora, ao final da tarde de Sábado; a desmontagem do pavilhão (no final dos trabalhos há um espectáculo curioso que é ver os próprios delegados a desmontarem a “mobília”); a data e frequência; a hospedagem, os delegados ao congresso não costumam esgotar os hotéis da zona onde o conclave se realiza por subsistir o hábito de ficarem hospedados em casa de “camaradas”. Noutros partidos, tal também pode acontecer, mas não com a mesma expressão.
Consideramos que corroborando da mesma opinião, com todos estes aspectos referidos no Público, este jornal e, de uma maneira geral, toda a imprensa, omite o que realmente diferencia o congresso comunista de todos os outros: o trabalho dos militantes e a representatividade dos delegados.
De facto, não é nem mera estatística nem característica irrelevante considerar que os delegados eleitos o são em plenários de militantes e que os 1200 que estiveram presentes no congresso representam mais de 20 mil militantes, tantos quantos os que foram envolvidos na discussão das teses, muitos meses antes. A imprensa mainstream omite isso. E tal omissão explica que os media se concentrem, repetidamente, na questão da unanimidade para deixar a (injusta, manipuladora e nada inocente) insinuação de o congresso ser uma mera encenação. Se o fosse bem podiam os partidos da direita dormir descansados.
Os congressos do PCP não são todos iguais
Por mais que os comentadores encartados o declarem, o PCP não se mobiliza para cumprir, de quatro em quatro anos, um ritual. Jerónimo de Sousa, sem lhes pretender responder, assinala na sua intervenção de encerramento, o que afirmara no congresso anterior, «numa situação dura como punhos, quando os trabalhadores, o povo português e o país sofrem um vendaval destrutivo e arrasador da política do governo PSD/CDS-PP, nós afirmamos: Nada está perdido para todo o sempre.» e acrescentou «Quando os trabalhadores e as populações intensificaram e alargaram a luta o governo abanou; se essa luta crescer o governo será derrotado». Diria ontem “E foi”.
Mas não foi só por isso que este congresso foi diferente. Nas 122 intervenções, numa grande parte, ressalta que é a palavra de ordem “Basta de submissão à União Europeia e ao Euro”, aquela que mais desafios vai lançar a marcar a agenda dos outros partidos. Não que seja nova, pois é uma luta antiga, mas porque, no seu discurso Carlos Carvalhas lhe dá uma dimensão diferente e porque João Ferreira lembra que «Foi por iniciativa do PCP que a renegociação das dívidas públicas ou a revogação do Tratado Orçamental foram levadas ao Parlamento Europeu.» e deu ainda conta «Avançámos com propostas inovadoras, como um programa de apoio aos países intervencionados pela troika ou programas de apoio à saída negociada do Euro, por parte dos Estados-Membros cuja permanência na moeda única se tenha revelado insustentável.»
Por fim, este congresso foi ainda mais diferente do que o anterior tinha sido do seu precedente: a média etária dos membros do Comité Central eleito passa a ser 48 anos. Por ser um facto, toda a imprensa o assinala, só não comenta o significado e o impacto.