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João de Sousa

Quinta-feira, Novembro 21, 2024

007 SPECTRE – É tempo de tirar as máscaras

Com 007: Spectre, Sam Mendes regressa a Bond naquele que será um dos grandes blockbusters do Outono. Depois de sucesso de 007: Skyfall é natural que as expectativas em redor de Spectre se elevem ao máximo. Qual é então o resultado? Um Bond clássico e tentacular que faz pontes com as outras aventuras de Daniel Craig, mas não só, numa verdadeira celebração da saga, a começar logo pelo título. Ralph Fiennes regressa como M. Ele que passou recentemente por Moscovo numa acção de promoção do filme e onde descreveu a sua visão do filme.

Antes de Daniel Craig, aka James Bond, beber o seu vodka Martini ‘sujo’ – aparentemente, a sua nova receita de cocktail -, na companhia de uma bela francesinha loira que dá pelo nome de Léa Seydoux, já abatera alguns vilões e escapara ileso de acrobáticas e desastrosas aventuras. Por isso, ‘saúde!’ Brindemos ao novo Bond, o 24º da série num regresso saudado (ou saudoso) por Sam Mendes. Mas, se calhar, o melhor será evitar comparações. Até porque Spectre não é a continuação de Skyfall, ainda que seja fiel aos elementos que têm consagrado a saga do popular agente secreto com licença para matar, criado por Ian Fleming nos anos 50.

Ao entrarmos nesta aventura já sabemos o que esperar: acção delirante, intriga insondável em locais deslumbrantes e inesperados, bem como vilões musculados e génios do mal macabros a contrastar com bond girls fogosas. Mas sabemos também que tudo acabará bem, até porque o que importa é mesmo a viagem. É esse o DNA de Bond. Spectre não é diferente.m4n0g

O próprio Ralph Fiennes confirma-o com a sua própria experiência: “Eu sei o que é o Spectre porque li os livros do Ian Fleming”, refere no encontro com a imprensa em Moscovo. Leu os livros e ele, como muitos de nós, vimos os filmes. E será esse, talvez, um dos exercícios deliciosos a fazer, se calhar, até num segundo visionamento, a identificar as inúmeras piscadelas de olho com personagens e cenas da longa cronologia de Bond. Sim este é um filme de vários espectros, alinhavados pelo guião cuidado por John Logan Neal Purvis, Robert Wade e Jez Butterworth.

Numa altura em que não está ainda definido se o britânico Daniel Craig continuará a vestir o smoking de James Bond, o compatriota Sam Mendes ensaia aqui uma ambiciosa aventura em que se sente o cheio de homenagem num registo que privilegia uma quase serenidade clássica, numa aventura que nos toca não só pela dimensão da espionagem global como também assume uma profundidade que agita os fantasmas do passado. 007: Spectre é, por assim dizer, um filme vintage nesse sentido: procura honrar os pergaminhos ao mesmo tempo que evita as arestas mais gratuitas. Certamente, o público saberá acolhê-lo, tal como o tempo.

Logo no início, James lança-nos numa longa, alucinante e bem coreografada sequência no Dia de los Muertos, na Cidade do México, a cargo do trabalho de câmara magnífico de Hoyte van Hoytema, optando pelo realista filme de 35mm, em vez do imaculado digital. Já aqui tentaremos perceber onde vimos aquelas personagens com fatos de caveira – pois foi em Vive e Deixa Morrer, de 1973, onde uma criatura participava em rituais letais, onde um dos pontos altos é vivido a bordo de um helicóptero a poucos metros de altura de uma praça cheia de convivas que rodopia à medida da luta que se trava no seu interior. Até aqui Mendes honra o passado que nos remetem a cenas de 007: Contra Goldfinger, 007: Aventura no Espaço e mesmo 007: GoldenEye. De resto, sugere-se mesmo o exercício de ver (ou rever) o filme com olhar analítico para tentar abarcar todas as curiosidades, mais ou menos intencionais. E são muitas.

Entretanto, antes de terminar o pré-genérico, o agente secreto deixou já para trás um edifício literalmente reduzido a escombros e um alvo abatido com ligações ao passado interrompendo um mega atentado. Já em Roma encontra-se com Lucia Sciarra (Monica Bellucci), a viúva do criminoso infame, e ainda numa reunião secreta e macabra denominada Spectre. E por aí seguimos, embora recordando a organização outrora dirigida por um tal Ernst Stavro Blofeld e referida em inúmeros episódios.

De volta à realidade, defronta-se com as mudanças no interior do MI6. Em particular com a entrada ao serviço de um activo com a missão de acabar com as missões ‘00’, dando primazia a um programa de vigilância global. Em face destas novas medidas, o próprio James Bond terá no seu sangue um catalisador que permitirá detectar não só o seu paradeiro como a sua actividade corporal. Mas nada que o agente não saiba contornar com uma sábia ‘cunha’ ao engenhocas Q (num regresso se Ben Whishaw) que lhe dá um espaço de 48 horas para actuar a solo. O tempo necessário para chegar perto de um homem (e de um passado) funesto que agora controla a organização Spectre.

E quando, finalmente, chegamos ao quartel-general da Spectre, já para a derradeira parte do filme, não deixamos de sorrir com o seu formato de base dentro de uma cratera, que nos parece familiar. Mas tal como as perseguições nocturnas em Roma, os episódios nos Alpes ou as cenas de tortura macabra dão-nos o tom certo que brota das páginas de Ian Fleming. Um filme que é uma espécie de polvo. Agarra-nos.

A nossa Opinião ****

(de * a *****)

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