De 05 a 13 de Abril em cinco cidades portuguesas. Na abertura, “Sonhos cor-de-rosa” de Marco Bellochio.
Outrora presença habitual nos ecrãs portugueses, o cinema italiano (e, ao fim e ao cabo todo o cinema não norte-americano) passou a ter desde há muitos anos uma representação residual no panorama da nossa exibição comercial.
Longe vão os tempos em que para o público português, e não falamos dos cinéfilos mais inveterados, os nomes de Rossellini, Visconti, Vittorio de Sica, Antonioni, Fellini, Pasolini, Monicelli, Comencini, Risi, Scola, Bertolucci e muitos outros eram completamente familiares. Anna Magnani, Giulietta Massina, Sophia Loren, Claudia Cardinale, Gina Lollobrigida, Monica Vitti, Silvana Mangano, Tótó, Mastroianni, Gassman, Alberto Sordi, Giancarlo Gianini povoaram o imaginário da juventude de várias gerações.
A descoberta do cinema neorrealista (apesar das cópias mutiladas pela censura) e da comédia italiana fez com que o cinema transalpino fosse durante décadas muito popular em Portugal. Depois veio o cerco resultante da estrutura quase monopolista da distribuição e exibição, quase completamente dominada pelas “majors” norte-americanas.
Cerco rompido episódicamente por Tornatore (“Cinema Paraíso”), um ou outro Moretti, um ou outro Benigni, mais recentemente Paolo Sorrentino e pouco mais. Evidentemente que para a abertura dessas brechas muito contribuíram o trabalho da Cinemateca Portuguesa, dos cineclubes e de algumas instituições preocupadas em combater o afunilamento da oferta cultural. Um exemplo muito recente, tivemo-lo na MONSTRA 2017, dedicada ao cinema de animação, que fez da Itália o país em destaque.
Festa do Cinema Italiano
O objectivo principal desta prosa é dar realce à 10ª edição da Festa do Cinema Italiano promovida desde 2008 pela Associação Sorpasso e que de 5 a 13 de Abril vai decorrer em Lisboa Porto, Coimbra, Almada e Setúbal. Mais tarde seguirá para o Brasil, Angola e Moçambique.
Cerca de meia centena de títulos, curtas e longas, documentários, ficções e filmes de animação preenchem um programa que dará a conhecer algumas das obras recentes mais significativas fazendo também, no entanto, várias incursões na “História” do cinema italiano.
Nesta última perspectiva deve ser destacado o ciclo Dino Risi promovido com a colaboração da Cinemateca Portuguesa e que assinala o centenário do nascimento do realizador, autor de, entre muitas outras obras, de “Uma Vida Difícil” e de “A Ultrapassagem” (Il Sorpasso), título curiosamente adoptado pela associação promotora da Mostra, dirigida por Stefano Savio.
Suspiria, Sonhos Cor-de-Rosa, In Guerra Per Amore, Le Confessioni entre outros
“Suspiria” de Dario Argento e “Trinitá, Cowboy Insolente” de E.B. Clucher (pseudónimo de Enzo Barboni), com Bud Spencer e Terence Hill serão exibidos na secção ‘Amarcord’ dedicada à exibição de filmes que, de alguma forma, fizeram história.
Nápoles estará em foco nesta 10ª Mostra com a exibição dos 9 episódios da segunda temporada da série Gomorra e ainda com o espectáculo musical “Napoli Sentimental” concebido expressamente para a Festa pela cantora portuguesa Mísia.
“Sonhos Cor-de-Rosa” (Fai Bei Sogni), filme sobre a superação do luto e a necessidade do amor, do veterano Marco Bellochio agora com 77 anos, foi o escolhido para as sessões de abertura que tiveram lugar na noite de ontem.
Esta obra que abriu no ano passado a Quinzena dos Realizadores do Festival de Cannes, passou em Lisboa no São Jorge, no Porto no Rivoli, em Coimbra no Gil Vicente e em Almada no Romeu Correia. A película entrará hoje na exibição comercial.
O filme de encerramento será, também em antestreia, “In Guerra Per Amore”, de Pierfrancesco Diliberto – Pif. De entre os títulos novos destacamos também “Perfetti Sconosciuti” (Amigos, Amigos, Telemóveis à Parte), de Paolo Genovese (que estreará comercialmente em 20 de abril) e “Le Confessioni” de Roberto Andò, que tivemos oportunidade de ver em Karlovy Vary onde conquistou o prémio do Júri Ecuménico.
A programação geral da Festa pode ser consultada em Festa do Cinema Italiano.