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Quarta-feira, Dezembro 25, 2024

2017, o tal…

Luís Fernando, em Luanda
Luís Fernando, em Luanda
Jornalista, correspondente do Tornado em Angola

 

Pintura de Norberto Costa

Quer isso dizer que o candidato carrega às costas o peso de uns quantos anos a preparar 2017. A estudar teorias de outras eleições em diferentes lugares, a reler discursos de campanha que outros fizeram, a comparar práticas, a avaliar posturas, até a tentar perceber como se dorme num tempo assim sem o fantasma das insónias…

Ninguém o convence do contrário: 2017 é o tal. A vitória que tentou em três outras eleições – para a comissão de moradores no andar do prédio; para líder comunitário no quarteirão e para presidente de junta – parece que é desta vez que se resolve.

“Desta vez fica em casa”, tem repetido à sua equipa de campanha, num paralelismo com a saga do seu Benfica de Katalambanza quando venceu o campeonato das regedorias no último e decisivo jogo, no seu campo. Há 25 anos!

Sérgio Inocente é um homem de sobrevivências sucessivas. Crê-se um protegido de uma força qualquer que pode ser o deus da política ou ainda um elemento acima do seu poder. “Só pode”, comentou à mulher Zumba, depois que dominou, milagrosamente, o barulhento protesto à porta de casa por não pagar a avença à equipa de campanha logo no decisivo mês do Natal.

2016, ano de enormes solavancos, lá se foi e as energias e estratégias que sobraram, estão todas mobilizadas para a vitória eleitoral que tem de acontecer. Falhar o triunfo em disputas para liderar o andar do prédio, o quarteirão ou a junta, são sempre percalços menores quando o que está em jogo é ser “chefe-de-tudo-isso”.

Não há nada mais apetecível, de facto, pelo que já chega o tempo em que se entreteve com essas campanhas. “Digamos que foi a formação necessária para o grande político que sou hoje”, diz daqueles anos, quando o tema vem à baila.

Com o ano eleitoral a começar, o primeiro desafio está sobre a mesa: com quem contar para o trabalho de campo depois da demonstração de deslealdade da sua equipa?

– Querido, é natural que tens de mandar embora essa corja de traidores que só querem o teu dinheiro…o nosso dinheiro, aliás! – insinua Zumba, a provável futura primeira dama no seu jeito implacável.

– Mulher, tu até sabes que estamos em falência técnica. Não me fales em mudar de equipa. Traidores ou não, estes já são os únicos que conseguem estar do meu lado – abriu-se num discurso sincero que não podia ser, de modo algum, o do político candidato mas o do marido honesto.

O autor escreve em PT Angola

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