Putine poderá, em 2018, continuar a ser “o homem mais poderoso do mundo” mas, por mais que isso lhe possa desagradar, a China substituiu a desaparecida URSS como a grande potência continentalista e imperial e é quem tenta agora disputar a hegemonia global com a grande potência marítima e democrática, os USA.
Por isso, o facto mais importante do ano, numa destas potências, é um facto importante para todo o mundo.
Claro que “o facto mais importante do ano” tem sempre muito de subjectivo. Daí que explicações sejam sempre necessárias. No Intelnomics, consideramos a demissão do General James Mattis, de patrão do Pentágono, como o acontecimento americano, deste ano, com mais peso. Não só pelo seu terrível lado simbólico como pelas pesadas consequências imediatas e também de médio e longo prazos. A não ser que decida retirar-se para um convento, “The Warrior Monk” vai continuar, pelos próximos anos, bem presente (até mesmo ou alvez sobretudo, quando se ausente…).
Na China, o facto do ano é o aparecimento de rachas e outras fendas, a vários níveis da realidade chinesa. O ano correu mal ao imperador Xi. Economia totalmente dependente da exportação (tal como a Alemanha…), a China ressentiu-se e, para agravar as coisas, Trump cravou-lhe um par de bandarilhas (a senhora ministra da Coltura que não se ofenda muito com as bandarilhas) ao ripostar com as suas taxas e outras medidas a sucessivas ofensivas chinesas. A recente queda em desgraça (e que queda e que desgraça!) do patrão dos “serviços” chineses (que não foi uma queda solitária…) prova também que no aparelho de Estado as coisas se complicaram ou mesmo se degradaram.
Até no sancta sanctorum do Partido, voltou a aparecer um conturbado clima que não se via desde há mais de 40 anos… E o comité central voltou às práticas da “auto-crítica”, como nos tempos de Mao e da sua ‘revolução cultural’. Ou seja, a luta de facções estalou no coração do sistema chinês e Xi perdeu o “odor de santidade”, o que para um imperador (vermelho ou de qualquer cor) é sempre crítico.
Na Europa, mesmo se ninguém está excessivamente preocupado com tal coisa residual, três factos marcaram 2018: a queda em slow motion de Merkel, a imparável ascensão de Salvini e a irrupção da ‘open source insurgency’ dos ‘gilets jaunes’ com a sequente ‘systems disruption’, talvez o facto mais marcante e de maiores consequências dos últimos anos europeus. Estes três factos têm a irmaná-los a rejeição, nas urnas e na ruas, da elite política que se auto-deslegitimou, pelas suas práticas reincidentes como cúmplice da elite financeira e suas aleivosas manigâncias e trapalhadas.
Facto do ano em Portugal: a fragmentação da direita política… António Costa, ao olhar para tal paisagem fragmentada, pode cantar o clássico “venham mais cinco, de uma assentada que eu pago já”.
2019 até poderá correr normal mas os augúrios não dão margem para optimismos…
Exclusivo Tornado / IntelNomics