É um dos mais recentes livros da Parsifal e para mim, é já o livro sobre Abril deste 2017. São depoimentos de variadíssimas pessoas que têm em comum (quase todas) o facto de terem protagonizado ou vivido, de forma mais ou menos intensa, o 25 de Abril.
Pelos seus aspectos particulares, valorizo mais os testemunhos dos civis do que os dos militares, ainda que o texto de Carlos Matos Gomes tenha a grande virtude de nos falar do 25 de Abril vivido na Guiné, não tão conhecido assim, e nos lembrar Carlos Fabião, mais do que um grande militar, um dos grandes homens daqueles tempos e que hoje está praticamente esquecido.
Não se pode passar indiferente a testemunhos com os de Júlia Matos Silva, que sendo conhecedora do que se preparava naquela madrugada, ficou a aguardar ansiosamente as músicas que serviram de senhas – e a alegria chegou quando soaram. Depois foi calcorrear as ruas de Lisboa em busca dos amigos, a fim de lhes dar conta do que estava em marcha e porque não estava segura de que tudo iria correr pelo melhor e tinha uma filha com 11 meses, o pedido aos pais: «cuidem bem dela».
Também o depoimento de Helena Pato é emocionante. Aborda as muitas horas que muitos entusiastas da liberdade passaram nas imediações da prisão de Caxias, aguardando, também com muita ansiedade, a libertação dos presos políticos. Reinava o pavor de que os pides ali de serviço se quisessem vingar e o fizessem nos homens e mulheres que ali estavam retidos e indefesos. E o pior surgiu quando, na noite, foi ouvido um tiro e depois um segundo. O horror instalou-se nos espíritos. Felizmente não se confirmariam as piores suspeitas e a longa espera acabaria por ser compensada. Já se consumia a primeira hora do dia 27 quando as portas se abrirem. A alegria e a emoção transbordaram, tocando cada centímetro quadrado de pele, quando os presos começaram a sair.
Um livro a não perder para quem gosta do tema. Ainda bem que há quem nos continue a surpreender e ainda bem que há quem vá teimando em divulgar a História através de livros como este.