Chama-se Maryam Akbari Monfared está presa há doze anos e cumpre uma pena de quinze por Moharebeh (inimizade com Deus). Foi recentemente transferida da mais conhecida prisão política de Teerão, Evin, para uma prisão provincial para presos de direito comum.
Dos seus sete irmãs e irmãos, quatro foram assassinados pela teocracia iraniana na década de 1980, outro está preso, tal como ela, e outros dois estão exilados e, tal como os que foram assassinados, militam na Organização dos Mujahedines do Povo do Irão (OMPI), a principal organização de oposição iraniana.
De acordo com uma organização que defende direitos humanos de iranianos, ela terá tentado manter-se à parte de qualquer actividade política, mas nem assim escapou. Na hora da sentença o juiz ter-lhe-á dito:
Este é o preço a pagar pelos crimes dos seus irmãos e irmãs. Traga as suas crianças para que nós as possamos ver chorar
Maryam Monfared é uma entre as incontáveis vítimas do terror totalitário iraniano que os seus dois irmãos exilados têm vindo a trazer à atenção da opinião pública. É um rosto que dá uma identidade, um rosto e um sentir às vítimas do imenso vale de desolação do regime jihadista iraniano.
Num regime em que os homens se arrogam o direito de matar, roubar, julgar e violar em nome de Deus, a misoginia é de regra, e transparece em tudo, mesmo nos mais macabros dos pormenores, como o de impor a violação das mulheres a executar no massacre de 1988 para assegurar que estas ‘não teriam acesso ao céu’.
Sendo certo que o 25 de Abril não é propriedade de ninguém, nem está preso a qualquer ideologia em particular, só o consigo conceber no quadro do respeito pela liberdade e pela dignidade humana.
O 25 de Abril de 2021 celebra-se na semana em que uma organização das Nações Unidas votou a República Islâmica do Irão para a sua Comissão encarregada da defesa do ‘estatuto das mulheres’, numa votação secreta, num acto que a generalidade da comunicação social fez o seu melhor para manter longe da atenção da opinião pública.
De acordo com a informação revelada pelo dirigente da ‘UN Watch’ – a principal organização governamental que tenta pôr a descoberto o que se passa nessa instituição internacional – Portugal é um dos países que poderá ter votado essa designação.
SHAME: At least 4 of these democracies voted #Iran onto the UN Commission on Women’s Rights.
🇦🇺 Australia
🇦🇹 Austria
🇧🇬 Bulgaria
🇨🇦 Canada
🇫🇮 Finland
🇫🇷 France
🇩🇪 Germany
🇱🇻 Latvia
🇱🇺 Luxembourg
🇳🇱 Netherlands
🇳🇴 Norway
🇨🇭 Swiss
🇬🇧 UK
🇺🇸 US
🇵🇹 Portugal https://t.co/xy0bMsH2ay— UN Watch (@UNWatch) April 22, 2021
Não vi até hoje a imprensa portuguesa questionar as autoridades portuguesas para saber se Portugal votou e se votou qual foi sentido do seu voto na eleição da República Islâmica do Irão para tratar do ‘Estatuto das Mulheres’ nas Nações Unidas. Na verdade, tão pouco a imprensa europeia se mostrou interessada no assunto, o que seria de esperar dada a presidência portuguesa da União Europeia.
Se há matéria em que creio que o segredo é incompatível com os mais elementares princípios constitucionais, é a do respeito pelos princípios sagrados da liberdade e dignidade humanas por quem age em nome do cidadão.
E por isso creio que neste 25 de Abril nada seria mais importante do que vermos as autoridades portuguesas esclarecer com rigor o que fizeram nesta matéria.
Não há liberdade que se possa erguer ou celebrar sobre o massacre de quem quer que seja. Celebrar o 25 de Abril hoje é defender a liberdade de todos, onde quer que estejam, e por estas e outras razões que aqui não digo, a liberdade e dignidade dos iranianos deveria estar no centro das nossas celebrações.