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Segunda-feira, Dezembro 23, 2024

3 perguntas a… Luís Leal Miranda

J. A. Nunes Carneiro, no Porto
J. A. Nunes Carneiro, no Porto
Consultor e Formador

Desdicionário da Língua Portuguesa

Luís Leal Miranda
Jornalista.

 

Como surgiu a ideia de escrever este «Desdicionário da Língua Portuguesa»?

Antes do desdicionário vieram as palavras. Uma espécie de “no princípio era o verbo”, só que comigo eram sobretudo adjectivos e substantivos. Comecei a inventar palavras durante os tempos mortos de um emprego maçador. Quando já tinha um acervo considerável de palavras inventados criei um site onde as arrebanhava todas. A ideia, mais do que partilhar estes verbetes, era po-los todos num sítio para não os perder. Mais tarde fiz uma página de Facebook e o projecto descolou. Atingiu uma certa, como se diz agora, “viralidade” em 2015 e daí surgiram alguns convites de editoras. Acabei por publicar uma antologia das minhas palavras preferidas pela Stolen Books, quase quatro anos depois de ter iniciado o projecto.

Este livro tem 218 palavras inventadas por si: qual é a que lhe deu mais gozo descobrir?

As minhas preferidas são aquelas que surgiram por acaso, como dedegrau: “Aquele degrau que requer um passo e meio para subir ou descer”. A palavra aparece porque tinha umas escadas assim perto da minha casa, com degraus compridos, que me davam a sensação, ao subi-los, que estava a gaguejar das pernas. Mas também gosto muito das palavras que surgiram de uma necessidade real de baptizar uma coisa sem nome. Um bom exemplo disso é zulmirar: “dar um jeito à casa antes de chegar a empregada de limpeza”. Tenho um fraquinho ainda pelas palavras inventadas que não são mais do que brincadeiras com a língua. Exemplo: Deus de Ará, “divindade responsável pelo desleixo. Para apaziguar a sua ira todos os dias são sacrificados todos os dias vários assuntos importantes. O culto deu origem à expressão, “deixar tudo ao deus de ará”.

Pensando no futuro: já está a escrever uma nova versão revista e aumentada desta obra ou tem outros projectos?

Podia fazer uma versão revista e aumentada do desdicionário – tenho mais de 500 palavras escritas e continua a inventar termos e definições. Foi um hábito que ganhei. Mas neste momento estou concentrado noutros projectos: esta semana saem dois guias coordenados por mim, Time Out EN2 e Time Out Açores, e estreou recentemente um programa na RTP2 do qual sou um dos autores (Siga o Coelho Branco, domingos, 23.00). Lá para Setembro vou lançar uma micro-editora com pequenos livros e tiragens muito limitadas chamada Livraria Plutão.


Luís Leal Miranda

Desdicionário da Língua Portuguesa

Stolen Books 13,99€

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