Diário
Director

Independente
João de Sousa

Domingo, Setembro 1, 2024

5 de Outubro por Shakespeare de Odivelas

Eduardo Águaboa
Eduardo Águaboa
Escritor, Ensaísta, Comentador político especializado em ideias gerais
sebastiao
Dom Sebastião, O Desejado – Pintura atribuída a Cristóvão de Morais

Portugal no ano de 2016, assiste ao regresso do Desejado.

Fazia esta manhã um nevoeiro intenso na zona algarvia quando um batel de madrugada deu à costa, trazendo nele o Rei D.Sebastião e com ele seis cavaleiros.

Depressa o povo da zona começou aos gritos de boas-vindas e prostrou-se a rezar nas areias da praia, dando graças pelo regresso de Sua Alteza Real, cumprindo assim a lenda.

Vendo que o povo estava magro, mal vestido e cheio de lágrimas perguntou:
-Meu povo, o que se passa?

Um rapaz novo, já ganzado àquela hora, respondeu-lhe:
– Ó «sebas» por causa de ti os reis de Espanha tomaram conta das terras de Portugal, e agora que esta merda já não é monarquia uns gajos permitiram que toda a Europa fizesse de Portugal – que já foi teu e nosso – um penico, tás a ver meu?

D. Sebastião, o Desejado, ficou a saber que o «seu povo» andou quatro anos a ser pilhado, humilhado, com os corpos quase devorados pelo sol, vergado por meia dúzia de fidalgos que agora se chamam capitalistas. Que estes fizeram ao povo coisas piores que os Filipes, os Bárbaros, os Romanos e os franceses todos juntos.

E que, mesmo assim, faz agora um ano, precisamente na véspera deste dia, esse mesmo povo foi a votos (lá tiveram de lhe explicar o que era isso dos votos) e voltou a votar neles!!!

Olhando para o mar, vendo que o nevoeiro continuava cerrado, o Desejado, ordenou aos seus homens para regressarem imediatamente, que se fizessem de novo ao mar, murmurando que sentia vergonha deste povo pelo qual se batera, pelo qual milhares de outros morreram por causas válidas (segundo ele) e por ele, por este povo, tivessem também espalhados umas bordoadas nos mouros… e, portanto, esse mesmo povo não merecia agora a sua clemência, nem a dos valorosos cavaleiros que o acompanhavam e tinham sobrevivido com ele na batalha de Alcácer Quibir.

Sentindo-se o rei mais infeliz da província Ibérica, crendo que não havia nação mais lamentável, perdeu-se de novo no nevoeiro.

O povo acenando-lhe só lhe perguntava:
– Quando voltas Sebastião, quando voltas?

O único que tinha a resposta foi o tal jovem, também ele cheio de nevoeiro no cérebro:
– Seus ranhosos, deixai o pobre Sebas, que quer curtir o choro sozinho para chorar mais à vontade…e tem muito que chorar. Ó se tem…ó se tem — que o nevoeiro o leve…nada melhor do que o nevoeiro…ó meu rei!

E caiu o pano sobre o palco, sob fortes aplausos à Viva A Coisa! A Viva Portugal!

E assim terminou a encenação no Bar dos Canalhas a propósito do regresso do Feriado do 5 de Outubro.

Nota do Director

As opiniões expressas nos artigos de Opinião apenas vinculam os respectivos autores e não reflectem necessariamente os pontos de vista da Redacção ou do Jornal.

Receba a nossa newsletter

Contorne o cinzentismo dominante subscrevendo a nossa Newsletter. Oferecemos-lhe ângulos de visão e análise que não encontrará disponíveis na imprensa mainstream.

Artigo anterior
Próximo artigo
- Publicidade -

Outros artigos

- Publicidade -

Últimas notícias

Mais lidos

- Publicidade -