Após vários anos de uma ausência quase total do cinema português neste festival espanhol, Portugal é o país convidado da 63ª edição da SEMINCI que termina no próximo sábado. Analisar o “fenómeno internacional” do cinema português: é este o desiderato e a terminologia usada pela organização do certame que organizou um ciclo com 20 longas-metragens (entre elas 4 documentários) e 10 curtas, realizadas entre 2006 e 2017, e que, em muitos casos foram premiadas nos mais prestigiados festivais internacionais. Nas palavras da SEMINCI, “o objectivo fundamental da mostra é dar a conhecer ao público os títulos mais significativos realizados nos últimos anos por cineastas portugueses, que converteram Portugal num importante foco de atenção do panorama cinematográfico internacional”. Diz o dito popular que ‘ninguém é bom profeta na sua terra’. Pelos vistos essa sentença assenta como uma luva ao nosso cinema que, com muito raras excepções, é muito mais reconhecido fora de portas do que pelos espectadores portugueses.
O conjunto dos filmes seleccionados para este ciclo é, em nossa opinião, bem representativo do que de melhor se tem feito em Portugal nos últimos anos e permite recordar aos mais desatentos (ou àqueles que deliberadamente não o querem ver) a impressionante lista de prémios que lhes estão associados.
Os títulos presentes na SEMINCI
Estão a ser exibidos em Valladolid, desde o passado sábado, os seguintes filmes:
Longas-metragens
- “Aquele Querido Mês de Agosto”, de Miguel Gomes (2008), premiado nos festivais de Buenos Aires, Coimbra, Guadalajara, Las Palmas, São Paulo e Viena;
- “Cartas a uma ditadura”, de Inês de Medeiros (Documentário, 2008), prémio do público em São Paulo;
- “É na Terra, Não é na Lua”, de Gonçalo Tocha (Documentário, 2011), premiado em Buenos Aires, DocLisboa, Locarno e San Francisco;
- “A vingança de uma mulher”, de Rita Azevedo Gomes (2012), presente na secção oficial de Edimburgo e premiado em Coimbra;
- “Tabu”, de Miguel Gomes (2012), premiado em Berlim, Ghent e Las Palmas;
- “A última vez que vi Macau”, de João Pedro Rodrigues e João Rui Guerra da Mata (Documentário, 2012), premiado em Locarno, Turim , Coimbra e Santa Maria da Feira;
- “E agora? Lembra-me”, de Joaquim Pinto (Documentário, 2013), premiado em Locarno, Curitiba, Recife e Valdívia, Coimbra, DocLisboa e Santa Maria da Feira;
- “Cavalo Dinheiro”, de Pedro Costa (2014), melhor realizador em Locarno e premiado em Mar del Plata, Munique, Recife e Yamagata;
- “John From”, de João Nicolau (2015), premiado em Coimbra;
- “Montanha”, de João Salaviza (2015), presente em Veneza e San Sebastián e premiado em Montpellier e Coimbra;
- “Cartas da guerra”, de Ivo M. Ferreira (2016), presente na secção oficial de Berlim e premiado em Coimbra;
- “O ornitólogo”, de João Pedro Rodrigues (2016), melhor realizador em Locarno e premiado em Denver e Istambul;
- “São Jorge”, de Marco Martins (2016), premiado em Veneza e Coimbra;
- “A Fábrica de Nada”, de Pedro Pinho (2017), premiado em Cannes, Sevilha, Barcelona, Duhok, Recife, Munique, Portland, Taipé e Turim;
- “Amor Amor”, de Jorge Cramez (2017);
- “Colo”, de Teresa Villaverde (2017), presente na secção oficial de Berlim e premiado em Basileia;
- “Fátima”, de João Canijo (2017);
- “Ramiro”, de Manuel Mozos (2017);
- “Verão Danado”, de Pedro Cabeleira (2017), premiado em Locarno;
- “Yvone Kane”, de Margarida Cardoso (2014), premiado em Coimbra e Santa Maria da Feira;
Curtas-metragens
- “História Trágica Com Um Final Feliz”, de Regina Pessoa (2006), premiado em Annecy, Hiroshima, Talin, Coimbra e Évora;
- “Rafa”, de João Salaviza (2012), ‘Urso de Ouro’ em Berlim;
- “O Velho do Restelo”, de Manoel de Oliveira (2014)
- “A Glória de fazer cinema em Portugal”, de Manuel Mozos (2015), premiado no DocLisboa e em Santa Maria da Feira;
- “A Balada de um batráquio”, de Leonor Telles (2016), ‘Urso de Ouro’ em Berlim e premiado em Belo Horizonte, Hong Kong, IndieLisboa e Coimbra;
- “Cidade Pequena”, de Diogo Costa Amarante (2016), ‘Urso de Ouro’ em Berlim e premiado em Bucareste;
- “Estilhaços”, de José Miguel Ribeiro (2016), premiado em Locarno e Coimbra;
- “Água Mole”, de Laura Gonçalves e Alexandra Ramires (2017), premiado em Chicago e Coimbra;
- “Coelho Mau”, de Carlos Conceição (2017), premiado em Coimbra e no Queer Lisboa;
- “Farpões baldios”, de Marta Mateus (2017), premiado no Curtas Vila do Conde.
Omitimos muitos prémios em outros festivais e eventos portugueses e a presença da generalidade dos filmes em outros inúmeros festivais internacionais.
Outras presenças do cinema português
Para além da exibição dos filmes antes mencionados há ainda a anotar outros factos relevantes já referidos em textos anteriores.
Em primeiro lugar, a participação de três personalidades do cinema português nos principais júris do certame: Miguel Gomes (presidente do Júri Internacional), Manuel Mozos (no júri da secção ‘Punto de Encuentro’) e Ricardo Vieira Lisboa (no júri de ‘Tiempo de Historia’).
Em segundo lugar a presença de filmes portugueses em competição na secção oficial – “Djon África” de João Miller Guerra e Filipa Reis e as curtas “Agouro” de David Doutel e Vasco Sá e “Entre Sombras” de Alice Guimarães e Mónica Santos – e de outras duas curtas na secção ‘Punto de Encuentro’: “3 Anos Depois”, de Marco Amaral e “Amor, Avenidas Novas”, de Duarte Coimbra.
Finalmente, o facto de Miguel Gomes dar hoje uma das ‘masterclasses’ da SEMINCI na Universidade de Valladolid.
Mesa redonda “El cine portugués del siglo XXI” cinema português
De referir ainda a conversa que terá lugar hoje à tarde, no âmbito do ciclo que o festival dedica ao cinema português e na qual estarão presentes Javier Rioyo (Director do Instituto Cervantes de Lisboa), o realizador Miguel Gomes, Miguel Dias (director do Curtas Vila do Conde), Pedro Berhan da Costa (Adido Cultural da Embaixada de Portugal em Madrid e antigo Presidente da Direcção do ICAM) e José Vieira Mendes (crítico de cinema e programador e autor do livro “Cine Portugués del Siglo XXI” editado pelo festival.
A Rainha D. Letizia visita a SEMINCI
A organização do Festival anunciou entretanto que a Rainha D. Letizia visitará amanhã a SEMINCI. Para além de um encontro com o “Consejo Rector” do certame para abordar o presente e o futuro da mostra de Valladolid e de um outro com realizadores presentes no Festival, a Rainha assistirá à exibição do clássico mudo “Safety Last!”/ O Homem Mosca, um dos filmes mais famosos de entre os protagonizados por Harold Lloyd, realizado em 1923 por Fred Newmeyer e Sam Taylor. A projecção terá acompanhamento musical, ao vivo, pela Orquestra Sinfónica de Castela e Leão.
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