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Domingo, Novembro 17, 2024

64ª SEMINCI – “Punto de Encuentro”: lugar aos novos cineastas

José M. Bastos
José M. Bastos
Crítico de cinema

Quando aqui se falou da secção oficial da 64ª Semana Internacional de Cinema, que está a decorrer na cidade de Valladolid até ao próximo sábado, tivemos oportunidade de salientar que a secção oficial do festival integra filmes de realizadores já consagrados, outros premiados em vários festivais mas também algumas primeiras ou segundas obras.

Contudo, é a secção ‘Punto de Encuentro’ o espaço de programação expressamente criado para a apresentação e descoberta de cineastas em início de carreira. Trata-se de uma mostra paralela de carácter competitivo que reúne obras de ficção, primeiros ou segundos filmes dos seus autores.

13 longas-metragens e 14 curtas participam nesta edição de 2019.

As 13 longas-metragens selecionadas, sendo maioritariamente co-produções internacionais, são provenientes de vinte países. Temos assim presentes cinematografias que, não sendo muito habituais, são razoavelmente conhecidas dos espectadores mais atentos: Argentina, Suíça, Turquia, Alemanha, República Checa e Eslováquia. Mas também outras cujas obras são de difícil acesso ou completamente desconhecidas : Marrocos, Tunísia, Índia, Azerbaijão ou Afeganistão.

Histórias do tempo presente, vivências familiares em sociedades e geografias muito distintas, com particular ênfase na infância, nos diferentes modelos de família, na condição feminina, nas religiões e nos condicionamentos que elas impõem e no envelhecimento e na doença estão presentes nesta mostra onde se pretende encontrar novas formas de abordagem, novos conceitos estéticos e formais. É sempre o que se procura nos ‘novos realizadores’: que façam diferente, que tragam algo de novo.

 

Um filme português, de produção suíça, presente na competição

“O Fim do Mundo” de Basil da Cunha

Basil da Cunha é um realizador nascido na Suíça em 1985, filho de pai português e mãe suíça.  Fez a sua formação no país natal mas reside há alguns anos na Reboleira, no concelho da Amadora, local e realidade humana e social que tem sido o cenário dos seus trabalhos cinematográficos. A sua primeira longa-metragem, “Até Ver a Luz” (2013)  participou na ‘Quinzena dos Realizadores’ do Festival de Cannes e a segunda – “O Fim do Mundo” – integrou a secção oficial do Festival de Locarno deste ano. É este o filme de Basil da Cunha presente na secção ‘Punto de Encuentro’ da SEMINCI. Um filme de produção integralmente suíça mas que é afinal um filme português. “O Fim do Mundo” é o retrato de uma geração sem esperança e sem perspectivas de futuro centrado na figura de um jovem, Spira, que depois de oito anos numa casa de correcção regressa a uma Reboleira que está em processo de demolição. Ao mesmo tempo que se reencontra com a família e os amigos um dos antigos traficantes do bairro faz-lhe ver que ele não é bem-vindo. Basil da Cunha narra histórias e vivências do seu bairro e conta com os amigos e conhecidos para lhe dar corpo. Não é um estranho que chega ao bairro e resolve inventar uma trama. Este é um filme feito pelo lado de dentro, com actores não-profissionais que sabem que estão a falar da sua própria vida. A fotografia e a montagem têm também a participação de Basil da Cunha que faz quase tudo neste filme, um filme de uma autenticidade desconcertante.

 

Outros filmes em competição

  • “Bik Eneich: Un Fils” / Um Filho de Mehdi M. Barsaoui (Tunísia/França/Líbano/Catar)

Tunísia, Verão de 2011. As férias no sul do país terminam mal para um casal e o seu filho de dez anos quando este é atingido por um disparo acidental durante uma emboscada. Um acidente que mudará a vida da família já que o rapaz vai necessitar de um transplante de fígado.

  • “Ende der Saison” / Fim de Estação, de Elmar Imanov (Azerbaijão / Alemanha / Geórgia)

Uma família azerbaijana está prestes a desmoronar-se. O filho quer tornar-se independente; a mãe procura recuperar a vida própria depois de anos a dedicar-se à família e o pai só quer que o deixem tranquilo.

  • “36 Horas”Un Fils” / Um Filho de Néstor Mazzini (Argentina)

Pedro está envolvido num processo de divórcio que não consegue resolver e mergulhado num mar de dívidas, tudo isto em plena crise económica da Argentina. No dia anterior ao aniversário da sua filha de seis anos recebe um ultimato de um credor.

  • “Hava, Maryam, Ayesha” de Sahraa Karimi (Afeganistão / Irão / França)

Três mulheres afegãs de diferentes classes sociais, residentes em Cabul, estão numa encruzilhada. As três estão grávidas. Hava é uma mulher tradicional que vive com os sogros. Maryam, una mulher culta, está à espera que o seu marido se divorcie dela. Ayesha, uma rapariga de 18 anos, aceita casar-se com um primo porque está grávida do namorado que entretanto desapareceu.

Este filme é o candidato do Afeganistão ao Oscar para o melhor filme falado em língua não-inglesa.

  • “Fin de siglo”, de Lucio Castro (Argentina)

Um poeta argentino na casa dos trinta anos está a passar férias em Barcelona. Da varanda da casa em que está alojado avista um jovem espanhol por quem sente uma atracção persistente. Depois de uma tentativa falhada de o encontrar na praia encontram-se finalmente no que parece ser um episódio de sexo casual.

  • “Le Miracle du Saint Inconu”/O Milagre do Santo Desconhecido,de Alaa Eddine Aljem (Marrocos / França / Qatar)

Amine rouba um saco de dinheiro e foge para os montes perseguido pela polícia. Antes que o detenham enterra o dinheiro simulando uma pequena sepultura. Anos depois, quando sai da prisão vê que construíram um santuário a um santo desconhecido no local onde tinha escondido o dinheiro.

  • Küçük Seyler”/ A Bela Indiferença, de Kıvanç Sezer (Turquia)

A frase “a bela indiferença” designa a aparente falta de interesse que algumas personas mostram por determinadas situações que as afectam. No caso de Onur, o que se passa é que a sua vida se desmorona. O homem não admite que o seu despedimento possa desencadear uma grave crise existencial não só para ele, mas também para a mulher.

  • Moothon” , de Geetu Mohandas (Índia)

Depois de roubar uma pequena embarcação em mau estado, Mulla, de catorze anos, foge da idílica ilha em que vive para mergulhar no bulício de Bombaim. O irmão mais velho há anos que foi para a cidade e Mulla, sem outra informação senão um número de telefone, está convencido que o vai encontrar.

  • Nech Je Svetlo” / Que Haja Luz , de Marko Škop (Eslováquia / República Checa)

Este é o filme escolhido para representar a Eslováquia na corrida ao Oscar para o melhor filme falado em língua não-inglesa.

Milan, de 40 anos, tem três filhos e trabalha na construção civil na Alemanha para manter a família que vive na Eslováquia.  Quando vai passar as férias de Natal com a família descobre que o filho mais velho pertence a uma organização juvenil paramilitar.

  • “Oray”, de Mehmet Akif Büyükatalay (Alemanha)

Enquanto discute com a sua esposa Burcu, Oray pronuncia três vezes a palavra ‘talaq’, a fórmula islâmica para desencadear o divórcio. O seu ‘imán’ informa-o sobre as consequências: Oray terá que separar-se da mulher durante três meses. Mas Oray muda-se para Colónia para começar com Burcu uma nova vida. Mas o ‘imán’ da sua nova comunidade é mais exigente no cumprimento da lei islâmica, e por isso Oray deve divorciar-se da mulher.

  • “Tiché Doteky” / Um Certo Tipo de Silêncio,  de Michal Hogenauer (República Checa / Holanda / Letónia)

Mia, uma jovem checa, trabalha como ‘au pair’, cuidando do filho de dez anos da família que a acolhe. Ao início cumpre toda a estranha série de regras impostas pelos patrões mas, pouco a pouco, começa a deixar de satisfazer os seus próprios princípios morais e a descuidar a relação com a criança.

  • “Un Tiempo Precioso”, de Miguel Molina (Espanha)

Miguel é um actor em declínio a quem diagnosticaram Alzheimer e um tumor cerebral. O filho, Carlos, que foi abandonado pelo pai, hesita na hora de lhe prestar ajuda. Sandra, tia de Carlos e actual companheira de Carlos, procura refazer a relação entre pai e filho e recuperar um amor quase perdido.

Este filme assinala a estreia como realizador de um conhecido actor espanhol agora com 56 anos. Miguel Molina, que em “Un Tiempo Precioso” é também actor, argumentista e produtor, conhece os palcos desde criança e tem no currículo participação em filmes de Manuel Gutiérrez Aragón,  Jaime Camino, Pedro Almodóvar, Jaime Chávarri ou Antonio José Betancor.

 

Cinema português também nas curtas de “Punto de Encuentro”

“Invisível Herói” de Cristèle Alves Meira

“Inside Me” de Maria Trigo Teixeira

Entre as 15 curtas-metragens  que competem nesta secção encontram-se duas presenças portuguesas: “Invisível Herói” de Cristèle Alves Meira e “Inside Me” de Maria Trigo Teixeira.

O primeiro, que esteve na competição nacional do IndieLisboa e na Semana da Crítica do Festival de Cannes é uma co-produção luso-francesa. “Invisível Herói” é uma história de perseverança e disponibilidade: Duarte, de 50 anos, tem uma deficiência visual. Anda à procura de Leandro, um imigrante cabo-verdiano desaparecido.

“Inside Me” foi produzido na Filmuniversitat Babelsberg Konrad Wolf, na Alemanha, onde Maria Trigo Teixeira estudou animação. Baseia-se em histórias verídicas da vida de várias mulheres que foram entrevistadas para este projeto. O único filme de animação a competir em ‘Punto de Encuentro’ aborda a questão da interrupção voluntária de gravidez e dos sentimentos contraditórios que assaltam as pessoas que encaram a possibilidade de a concretizar.

Os restantes treze títulos em competição são filmes oriundos do Reino Unido, Tailândia, Holanda, Vietname/Coreia do Sul/Estados Unidos, França/Albânia, Suécia e Espanha.  Os filmes do país vizinho são apresentados no âmbito de  ‘La Noche del Corto Español’.

 

O júri de “Punto de Encuentro”

O júri de ‘Punto de Encuentro’ é formado por Álvaro Arroba, programador do Festival de Buenos Aires, pela realizadora sul-coreana Malene Choi e pela cineasta georgiana Salomé Alexi.

 



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