Com cerca de trinta anos de actividade de divulgação da cultura cinematográfica na sua cidade o Cineclube de Fafe começou, há alguns anos, a organizar “Encontros de Cinema” que, mais recentemente se transformaram no Fafe Film Fest. A 6ª edição deste evento decorreu há alguns dias e contou com o apoio da Câmara Municipal daquele concelho minhoto.
Programação diversificada:
Literatura e música…
Com o foco principal dirigido para o cinema, o Fafe Film Fest proporcionou um programa diversificado que abrangeu outras áreas culturais como a literatura e a música.
A apresentação do livro de poesia “Pornographia” de Cláudia Chéu, contou com a presença do crítico e ensaísta César Freitas e com a leitura de alguns poemas pelo actor Albano Jerónimo.
Um concerto com Sandy Kilpatrick, músico britânico há muito radicado em Portugal, preencheu uma das noites do certame. A bela sala do Teatro Cinema de Fafe encheu para um espectáculo musical de música de influência country.
Cinema…
Quanto ao cinema propriamente dito, a oferta teve também múltiplas vertentes.
A importância do Plano Nacional de Cinema, este ano a ser implementado num Agrupamento de escolas de Fafe, foi motivo para um Encontro Regional de Escolas Integradas no PNC em que foi discutida a importância do cinema no processo de ensino e aprendizagem.
O realizador Abi Feijó, nome cimeiro da animação em Portugal e director da Casa Museu de Vilar, dirigiu uma Oficina com jovens alunos da Escola de Montelongo que, em poucas horas, foram capazes de fazer alguns pequenos filmes. Uma muito interessante experiência de iniciação.
E exposições…
Exposições houve duas, ambas resultantes da colaboração do Museu do Cinema de Melgaço. Peças do espólio de Jean-Loup Passek (cartazes de grande formato de filmes franceses, fotografias de actrizes – “Divas do Cinema”, livros, …) preencheram o hall de entrada da Sala Manoel de Oliveira e uma sala do edifício do Arquivo Municipal.
6ª edição do festival Fafe Film Fest
O cineasta Luís Filipe Rocha foi figura central desta edição do Fafe Film Fest. Foram exibidos os seus filmes “Amor e Dedinhos do Pé” (1991), “Sinais de Fogo” (1995), “A Passagem da Noite” (2003) e “Cinzento e Negro” (2015). O autor esteve presente na projecção dos três últimos títulos (a assistir a “Cinzento e Negro” esteve também o actor Miguel Borges). As projecções foram seguidas de animados debates em que Luís Filipe Rocha manifestou a sua proverbial afabilidade e disponibilidade. A figura e a obra de Jorge de Sena, o tema da violação e da gravidez na adolescência, o trabalho de escrita do argumento, a escolha e a direcção de actores, as condições de produção, foram assuntos largamente abordados num ambiente completamente informal.
Filmes de autores portugueses
O Fafe Film Fest teve também uma área com carácter competitivo em que estiveram presentes filmes de autores portugueses, mas também alguns estrangeiros (por exemplo da Galiza). Aqui, brilhou a grande altura Carlos Eduardo Viana, que com a sua equipa da Associação Ao Norte tem vindo a desenvolver um trabalho muito importante de recolha etnográfica (em Portugal e fora de portas, nomeadamente nos países de expressão portuguesa).
Com “Águas em conta”, obteve o Prémio para a melhor longa-metragem. Este é um interessante registo do ancestral e aparentemente complexo modo de repartição da água de rega em Montaria (S. Lourenço), uma freguesia rural do concelho de Viana do Castelo. A limpeza e a manutenção dos regos, levadas e espaços de retenção da água são também retratados neste magnífico trabalho que mostra quão importante foi este tema no passado e como estas tradições ainda vão resistindo apesar do processo acelerado de abandono da agricultura. Um documento de grande relevância.
Igualmente importante é “Ouro de Lei – Histórias do Ouro Popular Português”, o outro filme de Carlos Viana apresentado em Fafe e que, muito justamente recebeu o Prémio UNESCO. O fabrico artesanal, em Póvoa de Lanhoso e Gondomar, a produção com carácter mais industrial, o aparecimento das novas tecnologias e do fabrico em série, a entrada da contemporaneidade no desenho de novas peças, o ouro como modo de aforro tradicional das populações rurais, o comércio ambulante e a esplendorosa tradição das colecções de peças de ouro pelas mulheres minhotas (e em particular das de Viana de Castelo) tudo isto está presente num documentário que é um registo para a História.
Prémios
“Atopia” de Luís Azevedo e Alexandre Marinho recebeu o prémio para a melhor curta-metragem e o prémio do público distinguiu “Goya, Manet, Picasso – Horrores da Guerra” do galego Anxo Santomil, grande amigo dos cineclubes e cineclubistas portugueses.
Gala de Encerramento
Na Gala de Encerramento do festival, em que actuou a Orquestra de Fafe, para além da entrega dos prémios houve lugar a duas significativas homenagens. Uma a Jean-Loup Passek – falecido no final do ano passado (ver Jean-Loup Passek, um francês que gostava de imigrantes) que contou com a presença do Presidente da Câmara de Melgaço e com uma bela evocação por Bernard Despomadères –, e a outra ao cineasta Luís Filipe Rocha.
Está de parabéns o Cineclube de Fafe, o seu presidente, João Artur Pinto, e a restante equipa! O Fafe Film Fest não é um grande festival mas é um evento em que é patente um grande amor pelo cinema. É um muito agradável lugar de encontro entre os que fazem os filmes e os que os vêem ou sobre eles reflectem.