Bowe Bergdahl é um soldado norte-americano que, em Junho de 2009, resolveu sair, sozinho, da base onde estava colocado, no Afeganistão. Foi capturado por talibans e mantido em cativeiro durante cinco anos, até ser resgatado pelo seu país, em 2014.
A euforia que rodeou o seu regresso a casa rapidamente se transformou num mar de críticas, à medida que Bowe Bergdahl passava de herói a mau da fita, era acusado de deserção e levado a tribunal militar.
A sua história vai ser esmiuçada na segunda temporada de Serial. Não se trata de uma série, reality show ou investigação jornalística televisiva. Enfim, é um pouco de tudo isso, mas na forma de podcast, ou seja, de programas de rádio especialmente produzidos para serem consumidos na Internet.
Em Portugal, este é um formato que não tem quase expressão, mas há milhões de pessoas, em especial, nos Estados Unidos e em Inglaterra, que não passam sem ele. O grande boom deu-se ao longo da segunda metade de 2014 e, em boa medida, a grande responsável por isso foi, exactamente, Serial, que, na primeira temporada, investigou a história de Adnan Syed, um homem que está a cumprir pena de prisão perpétua numa prisão norte-americana sob a acusação de, em 1999, ter assassinado a sua namorada.
Culpado ou inocente?
A investigação levada a cabo por Serial levantou muitas dúvidas sobre a sua culpabilidade, o que levou a que fosse seguida, ao longo de doze episódios, por milhões de pessoas. É praticamente impossível saber exactamente por quantas, mas estima-se que a série tenha tido entre 25 e 30 milhões de downloads, tornando-a a mais popular, desde que, há dez anos, se começou a ouvir falar de podcasts.
O interesse foi tão grande que levou a que muitas empresas começassem a investir a sério neste meio de comunicação, fomentando o aparecimento de uma autêntica indústria.
Há várias explicações para um sucesso que apanhou toda a gente de surpresa, a começar pela pequena equipa liderada pela apresentadora, Sarah Koening. Tratava-se de uma história policial cujo desfecho não se adivinhava: saber se o homem que há 15 anos está preso é ou não culpado. E, à medida que se avançava, percebia-se que a investigação tinha algumas pontas soltas, não sendo seguro que a justiça tivesse condenado o culpado, uma situação que adensava o mistério e o interesse dos ouvintes.
A forma como a investigação foi contada também contribuiu para o sucesso. Os episódios eram produzidos e apresentados, basicamente, em tempo real. Sarah Koening não se escusava de ir partilhando com os ouvintes as suas dúvidas e a avaliação que ia fazendo das pistas que lhe surgiam no caminho, como se estivesse a pensar em voz alta. Foi ao local do crime, falou com amigos dos envolvidos, com polícias e advogados; entrevistou, telefonicamente, várias vezes, Adnan Syed; ouviu as gravações dos interrogatórios feitos pela polícia e as relativas aos dois julgamentos realizados. Seguiu todas as linhas de investigação, mas a série terminou sem que tenha chegado a uma conclusão definitiva.
Agora está de volta. E, se a primeira série foi dedicada à investigação de um crime do qual poucas pessoas tinham ouvido falar, esta tem como base um caso bem conhecido de milhões de americanos e que continua em aberto. A exposição mediática promete, por isso, ser ainda maior, tal como a polémica, pois a investigação vai, seguramente, trazer a lume muitos pormenores da política externa e da organização militar dos EUA que, normalmente, ficam escondidas do escrutínio público.