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Quinta-feira, Novembro 21, 2024

91% do plástico utilizado não é reciclado

Joana Forte
Joana Forte
Jornalista e activista social. Presidente da associação Integrar Diligente

Mil milhões de toneladas de plástico foram produzidas nas últimas décadas e muita desta quantidade está a transformar-se em lixo e detritos, revela a primeira análise sobre o assunto. 

Cuidar da saúde do nosso planeta deveria ser um imperativo moral de todos nós, ainda mais quando a poluição ambiental tem atingido proporções gravíssimas, gerando fenómenos como a diminuição da camada de ozono e o consequente aumento dos raios ultravioleta, o aumento das catástrofes naturais e a poluição dos mares e oceanos que, por sua vez, levam à diminuição de espécies marinhas, muitas delas já em vias de extinção. Um dos maiores flagelos dos últimos tempos no que concerne à poluição é a quantidade de plástico que consecutivamente continua a ser produzida, consumida e não reciclada, indo parar ao lixo e por consequência muitas vezes aos mares e oceanos.

De facto, e segundo dados recentes, mil milhões de toneladas de plástico foram produzidas nas últimas décadas e muita desta quantidade está a transformar-se em lixo e detritos.

A produção em massa de plástico, que teve início há apenas seis décadas, cresceu tão rapidamente que criou 8,3 mil milhões de toneladas métricas — na sua maioria, relativa a produtos descartáveis que acabam por ir parar ao lixo. Foi a este número que chegaram, horrorizados, os cientistas dispostos a realizar a primeira contagem mundial da quantidade de plástico produzido, deitado fora, queimado ou colocado em aterros. “Todos sabíamos que existiu um aumento rápido e acentuado na produção de plástico desde 1950 até ao presente, mas, na verdade, quantificar o volume de plástico acumulado alguma vez produzido foi bastante chocante”, afirma Jenna Jambeck,  engenheira ambiental da Universidade de Georgia, especializada no estudo dos resíduos de plástico nos oceanos.

“Este tipo de aumento iria quebrar qualquer sistema que não estivesse preparado para recebê-lo e é por este motivo que temos assistido a uma fuga dos sistemas de resíduos globais para os oceanos”, declara.

Tendo em conta que o plástico leva mais de 400 anos a decompor-se, grande parte ainda existe sob qualquer forma e só 12% foi sujeito a incineração.

Este estudo foi iniciado há dois anos quando os cientistas tentaram entender a quantidade astronómica de plástico que acaba no mar e o mal que está provocar a aves, animais marinhos e peixes que muitas vezes fazem deste plástico o seu alimento por lhes cheirar a comida! A previsão de que, até metade do século, os oceanos irão conter mais resíduos de plástico do que peixe, tonelada a tonelada, tornou-se numa das estatísticas mais citadas e um verdadeiro pedido de ajuda para se fazer algo sobre assunto.

Não é possível gerir o que não se quantifica

Este novo estudo, publicado no início deste mês na publicação científica especializada Science Advances, constitui a primeira análise global de todo o plástico alguma vez produzido e o respetivo destino final. Assim, dos 8,3 mil milhões de toneladas métricas que foram produzidas, 6,3 mil milhões de toneladas métricas transformaram-se em resíduos de plástico e deste número, só 9% foi reciclado. A grande maioria, 79%, está a acumular-se em aterros ou a arrastar-se no ambiente como lixo o que leva a que, a determinada altura, muito deste lixo acabe por ir parar ao oceano.

Se a tendência atual continuar, até 2050, existirão 12 mil milhões de toneladas métricas de plástico nos aterros, quantidade esta 35 mil vezes mais pesada que o Empire State Building!

O principal autor do estudo, Roland Geyer, afirma que existe uma equipa de cientistas que está a tentar criar uma fundação para melhor gerir os produtos de plástico. “Não é possível gerir o que não se quantifica”, afirma. “Não produzimos apenas muito, estamos é a produzir mais ano após ano”. De facto, de acordo com resultados deste estudo, metade das resinas e fibras utilizadas no plástico foi produzida nos últimos 13 anos e só a China representa 28% da produção global de resina e 68% das fibras de poliéster, poliamida e acrílico.

Geyer, engenheiro de formação, é especializado em ecologia industrial na qualidade de professor na Universidade da Califórnia, Santa Bárbara. Estudou vários metais e a forma como os mesmos são utilizados e geridos. O rápido crescimento da produção de plástico, que até ao presente já duplicou a cada cerca de 15 anos, já ultrapassou praticamente qualquer outro material produzido pelo homem. E é praticamente distinto de qualquer outro material. De facto, se enquanto metade de todo o aço produzido, por exemplo, é utilizada na construção civil, com uma vida útil de década, já metade de todo o plástico produzido transforma-se em lixo em menos de um ano, revelou o estudo. Muito do crescimento na produção de plástico deve-se ao aumento da utilização de embalagens de plástico, que representa mais de 40% do plástico sem fibras.

Contagem dos resíduos de plástico no mundo inteiro

A mesma equipa, liderada por Jambeck, elaborou o primeiro estudo que avaliou a quantidade de lixo de plástico que vai parar ao oceano todos os anos. Esse estudo, publicado em 2015, estimou que 8 milhões de toneladas métricas de plástico vão parar ao oceano todos os anos. Esta quantidade é o equivalente a cinco sacos de compras de lixo plástico por cada 30 cm de costa à volta do mundo. “Desconhecíamos as implicações de o plástico ir parar ao nosso ambiente até o mesmo aparecer lá”, afirma Jambeck. “Agora, temos esta realidade e precisamos de recuperar o atraso”. E o mesmo acrescenta: “conseguir obter controlo dos resíduos de plástico é uma tarefa tão grande que requer uma abordagem abrangente e global. Implica repensar a química dos plásticos, o design dos produtos, as estratégias de reciclagem e a utilização por parte dos consumidores”. Este estudo revelou ainda que os EUA estão atrás da Europa (30%) e da China (25%) no que diz respeito à reciclagem que, nos EUA, se tem mantido nos 9% desde 2012.

“Como sociedade, temos de considerar se vale a pena trocar alguma conveniência por um ambiente limpo e saudável”, conclui Geyer. “Para alguns produtos que são muito problemáticos no ambiente, talvez tenhamos de pensar em utilizar outros materiais. Ou em eliminá-los.”

Uma bolsa de plástico flutua no mar das Filipinas. O plástico no oceano apareceu literalmente em todos os lugares, mesmo no mar profundo e enterrado no gelo do Ártico
(fotografia: Keith A. Ellenbogen, AP)

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