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Domingo, Novembro 24, 2024

Brasil reconhece Añez como “nova presidente” após golpe militar na Bolívia

M. Azancot de Menezes
M. Azancot de Menezes
PhD em Educação / Universidade de Lisboa. Timor-Leste

O ministro das Relações Exteriores brasileiro tornou público que o Brasil reconhece Jeanine Añez como “nova presidente” da Bolívia. Enquanto isso, a violação dos direitos humanos com espancamentos e detenções acontece um pouco por toda a parte.

Cumplicidade da extrema-direita brasileira no golpe ganha novos contornos

Há uns dias afirmei neste jornal que o golpe militar perpetrado pela extrema-direita boliviana contra Evo Morales teve apoio do exterior, nomeadamente do Brasil. As minhas afirmações ganham agora novos contornos na medida em que o ministro brasileiro, com o beneplácito de Jair Bolsonaro, afirmou publicamente reconhecer Jeanine Añez como presidente da Bolívia, note-se, sem quórum legislativo.

As evidências do envolvimento do Brasil de Jair Bolsonaro na preparação do golpe  militar resultam também das acusações dos partidos brasileiros da oposição. Segundo relatos que começam a circular nos meios de comunicação social há fortes suspeitas do ministro das Relações Exteriores ter apoiado o golpe militar na Bolívia, um plano que terá começado em Maio, quando o chanceler brasileiro se encontrou com Luís Camacho, líder da extrema-direita boliviana.

Segundo gravações de conversas filtradas, Ernesto Fraga, o ministro brasileiro, terá afirmado que para o golpe iria haver apoio das “igrejas evangélicas e do governo brasileiro”. Também é referido nessas gravações a presença de um “homem de confiança de Jair Bolsonaro, que assessora um candidato presidencial”. Estas suspeições, estou em crer, brevemente serão devidamente esclarecidas porque os partidos brasileiros já pediram explicações ao Itamaraty.

Jeanine Añez: a auto-proclamada presidente da Bolívia

É absolutamente necessário entender que para além de Evo Morales ter sido obrigado a renunciar ao cargo de presidente da Bolívia, mesmo depois de ter vencido as eleições com mais de 40% dos votos, sem qualquer indício de fraude, também o presidente do Senado e o primeiro vice-presidente foram obrigados a renunciar, para dar espaço à segunda vice-presidente, apoiante do golpe, auto-proclamar-se, mesmo sem quórum, como sendo a nova presidente da Bolívia.

A proclamação de Jeanine Añez como presidente da Bolívia não tem qualquer fundamento legal, nem quórum no Senado, e duvido que os deputados apoiantes de Morales aceitem de ânimo leve essa imposição.

Aliás, Evo Morales, sobre esta matéria, em declarações, afirmou que Jeanine Añez é uma “senadora golpista de direita” que “se auto-proclama presidenta do senado e depois presidente interina da Bolívia sem quórum legislativo, cercada por um grupo de cúmplices e apoiada pelas Forças Armadas e pela Polícia que reprimem o povo”.

Militares espancam e fazem detenções de apoiantes de Evo Morales

A repressão que se está a viver na Bolívia, com o total silêncio das Nações Unidas, é absolutamente inqualificável e inadmissível. Há vídeos a circular pelas redes sociais com militares e polícias conotados com a extrema-direita a espancar e a deter apoiantes de Evo Morales nas ruas da Bolívia, principalmente em La Paz e em El Alto.

Esta forte repressão que se segue ao golpe militar para depor Evo Morales é o resultado da mobilização popular que está a ser concretizada por milhares de indígenas, principalmente camponeses e operários, que caminham em marcha rumo a La Paz, contra a ditadura que a extrema-direita quer instalar na Bolívia.

 

Evo Morales logo após ter chegado ao México denuncia golpe militar e repressão


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