Terão um perfil de vida comum?
A FEANTSA, a Federação Europeia de Organizações Nacionais que trabalha com os sem-abrigo, é a única grande rede europeia que se concentra exclusivamente no grupo vulnerável de pessoas sem residência a nível europeu e recebe apoio financeiro da Comissão Europeia para a implementação das suas atividades.
Definição
A pessoa em situação de sem-abrigo é aquela que, independentemente da sua nacionalidade, idade, sexo, condição sócio económica e condição de saúde física e mental, se encontra sem teto, a viver no espaço público, alojada em abrigo de emergência ou com paradeiro em local precário, ou sem casa, encontrando-se em alojamento temporário destinado para o efeito.
Alguns exemplos de cidades onde vivem elites ricas
- Amesterdão Segundo esta organização, de 500 a 1000 são os sem-abrigo de Amesterdão para um total de 800.000 habitantes. Isso é muito? É difícil dizer porque os países têm maneiras diferentes de contar os sem-abrigo. Além disso, eles não estão registados.
- Antuérpia Com 510.000 habitantes a cidade conta 500 sem-abrigo.
- Paris Entre 200 e 350 pessoas dormem todas as noites nos corredores do metro de Paris, de acordo com um estudo da RATP e do Observatório Social de Samu, em Paris, publicado segunda-feira 18 de novembro. Uma luta diária e medos.Um número variável de acordo com as estações do ano. Mais de 2.500 foram identificados ao longo de 2018. Desses, 20% têm um emprego. Esse número edificante une o CDI ao setor terciário, contratos precários, empregos não declarados e pequenas missões. Odile Macchi, a socióloga por trás desse primeiro grande estudo sobre o metro e os sem-abrigo – em 53 entrevistas e muitas discussões informais com esses trabalhadores invisíveis e pobres, “em aumento significativo”.
- Lisboa 361 pessoas sem-abrigo nas ruas de Lisboa.
- Londres O número de pessoas que dormem mal em Londres está atualmente em um nível recorde: 8.855 pessoas foram vistas dormindo na rua em 2018/19.
- Roma Em 2014 eram 50.724 pessoas.
Perfil
Ser sem-abrigo é uma situação que pode acontecer a jovens, pessoas de meia idade e idosos. Pode acontecer a trabalhadores ou a desempregados. Pessoas que perderam os frágeis laços familiares por morte de um ou de ambos os pais, por divórcio, por guerrilhas familiares causadas pelo consumo excessivo de álcool, drogas, dependência do jogo. Muitos dos sem-abrigo vêm de famílias desestruturadas e não conhecem nem nunca sentiram afeto, bons tratos, carinho. Têm os sentimentos embotados e não confiam nos outros. Palavras como solidariedade, amizade, confraternização carecem de sentido porque nunca fizeram a experiência da relação entre essas palavras e uma vivência significativa.
A escolaridade que fizeram foi aos tropeções e teve mais expulsões e suspensões do que prémios. Cadernos e livros rasgados, sacolas vazias de sentido, desinteresse e encolher de ombros do pessoal que trabalha nas escolas, nas Juntas de Freguesia, dos vizinhos, de todos nós.
A vida sentimental e afetiva foi muitas vezes começada com intenção maldosa e manipuladora de um adulto próximo e familiar, de um suposto protector, padre, professor, treinador desportivo. baseada na promessa de jogos, guloseimas, roupas, mergulhos na piscina de uma qualquer casa rica. E o futuro emocional e afetivo ficou definitivamente comprometido.
Gravidezes incompreensíveis que fizeram misteriosamente crescer a barriga de meninas que nunca tiveram bonecas.
Casamentos não desejados orquestrados pelas circunstâncias, pautados pelas pancadas e estaladões corrosivos.
Divórcios consumptivos num acumular petrificante de dívidas para sustento de filhos, que nenhum laço liga a qualquer um dos progenitores, divórcios em casamentos em que o amor e a amizade nunca tiveram lugar.
Mais recentemente, com a situação excecional no Médio Oriente e em África temos ainda a procurar um lugar sem teto, nos meandros e subterrâneos das grandes e pequenas cidades, os sem-abrigo que acreditaram que a Europa era o el dorado e chegam aqui cheios de amargura e desilusão quando não morreram no Mar mediterrâneo.
Instituições de abrigo, técnicos desinformados e insensíveis, burocracias, institutos de emprego em que ninguém sabe a que balcão se dirigir. Policias, tribunais, Comissões de Proteção de Menores deficitárias em interesse, sobrecarregadas de papeis, de ordens e contra ordens, onde o rasto de crianças desaparecidas se perde.
Estes são apenas alguns dos muros que nos separam a nós, todos os que temos um teto, um futuro, sonhos, que nos abrigam. Um muro intransponível.
Do lado bom do muro, pessoas simpáticas, cheias de boa vontade, estão cheias de ideias sobre como lidar com os sem-abrigo. Também sempre prontas a atirar a primeira pedra às Madalenas que não se arrependem em devido tempo, ou àqueles que estando na rua , mentem para se defenderem de um mundo de onde estão excluídos e que não entendem.
Mas, milhares de pessoa boas e simpáticas, que contribuem com o que podem para reforçar esta sociedade de bancos alimentares, não conhecem a realidade escondida do outro lado do muro da vergonha.
Ilustração: Uma mão cheia de nada, outra cheia de coisa nenhuma, de Beatriz Lamas Oliveira
Por opção do autor, este artigo respeita o AO90