Não existe fronteira entre política e economia. Por mais que os ministros da Economia e da Justiça, Paulo Guedes e Sérgio Moro, insistam em dizer que não são “políticos”, há evidências de sobra dos laços que unem todo o governo ao programa neoliberal e neocolonial que vem sendo implementado. O fio histórico que conduziu a Operação Lava Jato tem esse viés bem perceptível.
Por ser uma organização que atuou com muita política e nada de justiça, agindo abertamente como partido adepto do Estado de exceção, ela abriu caminho para a agenda econômica, capitaneada por Paulo Guedes, que uniu amplos setores em torno de Jair Bolsonaro. Consequentemente, esse arranjo é o cerne do governo, uma viga mestra que não se abala com os atritos entre o bolsonarismo e setores dominantes que convergiram para a sua candidatura em 2018.
É um projeto de poder que tem nos métodos da Lava Jato o seu sustentáculo, constatação que explica a obsessão de Moro por ideias como o excludente de ilicitude e a prisão após a condenação em segunda instância. São medidas que vão dando nova feição à Constituição, tirando dela a sua essência democrática e social. Ao mesmo tempo, vão moldando o Estado de acordo com esse projeto de poder.
Trocando em miúdos: está em marcha um processo de mudança de regime, a desfiguração do pacto democrático firmado na Assembleia Nacional Constituinte de 1988. Querem a volta da lei como status a serviço de quem detém o poder econômico, um país regido pela prática da tortura medieval e dos assassinatos impunes.
O bolsonarismo precisa dessa lógica policial para implantar o que Paulo Gudes diz ser um novo “mix macroeconômico”. Na verdade, não há nada de novo. São palavras tiradas do mesmo dicionário dos ministros da ditadura militar, que já falavam em “estabilidade monetária”, “ajustes” e “austeridade fiscal”. Por ser um filme conhecido, com cenas dramáticas de explosões sociais, o novo “mix macroeconômico” constrói o seu aparato policialesco.
Sob todos os ângulos e regras que se analise os dados da economia, é impossível não visualizar dias tomentosos pelo frente. E com eles pode haver a reedição das revoltas populares do início dos anos 1980 e de agora, em muitos países vizinhos. O Produto Interno Bruto (PIB) e a taxa de desemprego, duas variáveis fundamentais da economia, são indicadores infalíveis para esse prognóstico.
O baixíssimo crescimento da economia e o desemprego renitente convergem para criar uma situação explosiva. Sem contar outros elementos, como a precarização dos serviços públicos e a perda de direitos sociais. Mesmo a redução dos juros, uma das vertentes da alta e da fuga do dólar, que poderia beneficiar a atividade produtiva, se anula diante da mediocridade do governo, ideologicamente imobilizado para promover investimentos públicos, a mola mestra da retomada econômica.
Em um país com tantas carências históricas, que só seriam resolvidas com anos e anos de crescimento, uma política de distribuição de renda — ideia proscrita dos manuais da “ortodoxia” pregados por Paulo Guedes —, é uma necessidade básica. O bolsonarismo representa a negação dessa premissa. Consequentemente, ele impõe a urgência da unidade política das forças democráticas, patrióticas e desenvolvimentistas.
Texto original em português do Brasil
Exclusivo Editorial PV / Tornado