A premiação acusa o governo Bolsonaro de ter desmontado as políticas ambientais que levaram às reduções de emissões do país, enquanto criminaliza ambientalista.
A imagem do Brasil no exterior se deteriora rapidamente por inúmeros motivos – desde o piriri verborrágico racista, machista e homofóbico de Jair Bolsonaro até as mancadas da “diplomacia olavista” em vários fóruns internacionais. Mas o que mais desgasta o país segue sendo a política ambiental destrutiva e irresponsável imposta pelo “capetão” e seu ministro das queimadas, Ricardo Salles. Nesta sexta-feira (13), o Brasil recebeu o vexatório prêmio de “Fóssil do Ano” no final da conferência da ONU sobre mudanças climáticas (COP-25), em Madri.
Segundo relato da Folha, “é a primeira vez que o país leva o prêmio em referência às suas ações ao longo de todo o ano. A premiação acusa o governo Bolsonaro de ter desmontado as políticas ambientais que levaram às reduções de emissões do país, enquanto criminaliza ambientalista. Também aponta o aumento nas taxas de desmatamento e da invasão de terras indígenas”. A “honraria” foi concedida por uma rede que representa mais de 1.000 ONGs ambientalistas no mundo, a CAN (Rede de Ação Climática) e que já havia dado outros dois “prêmios” ao país. “Com a marca inédita de três troféus, o Brasil sofre uma mudança radical na sua imagem”.
Confira a íntegra do texto lido na entrega do prêmio “Fóssil do Ano” ao Brasil:
Que diferença um ano faz. Berço da Convenção do Clima da ONU e amplamente elogiado por cortes impressionantes em suas emissões na última década, o Brasil se tornou um pária climático.
Onze meses após o início do governo de Jair Bolsonaro, o país se juntou aos Estados Unidos como uma das maiores ameaças ao Acordo de Paris – e ao planeta.
Bolsonaro, autointitulado “Capitão Motosserra”, conseguiu desmontar as políticas ambientais que ajudaram o Brasil a conseguir reduções espetaculares de emissões entre 2005 e 2012.
Os resultados disso foram as maiores taxas de desmatamento na Amazônia em uma década, um salto nas invasões de terras e o assassinato de três lideranças indígenas apenas nesta semana. O governo também está criminalizando ambientalistas – que Bolsonaro notoriamente culpou pelos incêndios na floresta.
O ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, um negacionista do clima, chefiou a delegação brasileira na COP25, amordaçando diplomatas e tentando chantagear países ricos a lhe dar dinheiro em troca do aumento da destruição da Amazônia. Isso, é claro, não funcionou, então Salles começou a criticar a própria NDC de seu país, chamando-a de “caridade com chapéu alheio”.
O cenário de terra arrasada doméstico teve efeitos em Madri. O Brasil apresentou alguns comportamentos bizarros, como o de bloquear a menção a direitos humanos no artigo 6.4 e opor-se à menção a “emergência climática” na decisão da COP. E alguns comportamentos tradicionais, como insistir em regras frouxas de contabilidade no artigo 6.4 e inundar o mercado com créditos podres do Protocolo de Kyoto para agradar a antigos lobbies que, ao contrário da sociedade civil, não deixaram de receber crachás oficiais para vir a Madri.
Jair Bolsonaro é uma bomba de carbono ambulante que sem dúvida merece esse grande reconhecimento, o Fóssil Colossal.
Para confirmar a justeza da premiação, nesta semana o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), que o laranjal bolsonariano tentou desqualificar, divulgou que o desmatamento na Amazônia cresceu 104% em novembro em relação ao mesmo mês de 2018. Até o início de dezembro, 2019 já apresenta um aumento da destruição na região de 84% em relação ao mesmo período do ano passado. Os dados são do Deter (sistema de Detecção do Desmatamento em Tempo Real), que auxilia as ações de combate à destruição da floresta.
Ainda segundo a Folha, “desde o fim do ano passado, o Deter já vinha apontando um crescimento acentuado no desmatamento. Alertado sobre os dados, o governo Jair Bolsonaro os questionou. O caso culminou na demissão do então diretor do Inpe, Ricardo Galvão, em agosto. Mas a tendência de alta de desmate apontada pelo Deter se confirmou… Mesmo com as altas constantes, Ricardo Salles ainda não apresentou planos para reverter a situação… Recentemente, após se reunir com infratores ambientais – entre eles, o autor de uma ameaça de morte contra um servidor do ICMBio –, o ministro suspendeu a fiscalização na reserva Chico Mendes”.
por Altamiro Borges, Jornalista e presidente do Centro Barão de Itararé | Texto original em português do Brasil
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