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Terça-feira, Julho 16, 2024

As cores da rutura

Vitor Burity da Silva
Vitor Burity da Silva
Professor Doutor Catedrático, Ph.D em Filosofia das Ciências Políticas Pós-Doutorado em Filosofia, Sociologia e Literatura (UR) Pós-Doutorado em Ciências da Educação e Psicologia (PT) Investigador - Universidade de Évora Membro associação portuguesa de Filosofia Membro da associação portuguesa de Escritores

Um pacto entre mim e o silêncio. Calei-me de vez. Brincarei apenas nestas ravinas de saudade e medo, nestes eucaliptos da verdade num cheiro de alecrim se der e pronto, tudo luzirá como o escuro.

Neste bar obuses como abutres.

Que raio este ruído que escorre paredes abaixo como pinceladas de nervos.

Ouvem-se tiros de metralhadoras cansadas e sem o brilho de anos no exílio.

Mortalhas verdes como sumos de vertigens nesta insónia impotente e crua como qualquer vaidade inexistente. É verdade, não valer nada dá nisto.

Passeios de rua como sufocos num assoprar isolado, um ar de esgana enfeita a garganta de sangue como brumas de espuma neste mar de todos os infinitos, desço a melodia mais próxima de mim para que a sinta envernizada de cinza, visto-a na pele como escamas de cobras isoladas e as paredes fechadas ao fundo sigo, sou eu um mesmo igual a tantos outros eus nesta caminhada sem vingança, canso-me somente e por isso apenas nada mais, verdade, as cores da rotura são o silêncio a que me imputam os juízes deste purgatório estrelado numa frigideira de sangue amarrotado.

Neste bar obuses como abutres.

Como cóleras nos ossos do futuro.

Esse vindouro ido num tempo nunca esquecido. A fome de ter sede. Tanto me apetecia o verde dos jardins de infância.

Um pacto entre mim e o silêncio. Calei-me de vez. Brincarei apenas nestas ravinas de saudade e medo, nestes eucaliptos da verdade num cheiro de alecrim se der e pronto, tudo luzirá como o escuro.

Os amigos arrancaram-se de dentro de mim como uma viagem sem paradeiro, tudo é floresta e fogo num jasmim de cores pintadas na fantasia do sorriso, da alegria ofuscada em cada gesto de tempo que se queira e onde as mãos que me agarrem como o prisioneiro dos meus casulos de vento?

Nada é pontapé na bola. Tudo isto é neve que derrete de cansaço e esgana nas escamas dos silêncios mais felizes da partida para lugares ainda não descobertos, sim, esses mesmo, os que recrio apenas na gramática da fonética vadia da saúde.

Cada vez mais lentamente palpita o coração, sente o ritmo da melodia que escorre o horizonte e inventa nos ouvidos gemidos de felicidade, de velocidades esquecidas, pois, nada valem os contrários deste tapete a que chamam de tornado. Entorne-me num voraz acocorar de diarreias vomitadas na falésia, na fronteira das certezas e em frente a isto o instinto nada como torpedos ou tiros na cabeça cada vez mais dentro de si mesma. Multiplicou-se em si para que se possa talvez pertencer.

Escurece na maresia.

Os funcos na areia.

Raízes perdidas de gente desaparecida das consciências e nelas a cama da despedida. Adorar o cheiro cru do mar em mim para dentro de todos os sonos vencidos.


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