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Terça-feira, Julho 16, 2024

Associação Mutualista: A pesada herança

Eugénio Rosa
Eugénio Rosa
Licenciado em economia e doutorado pelo ISEG

Tomás Correia saiu do Montepio mas deixou uma pesada herança de destruição que demorará muito tempo a recuperar e uma cultura de arbítrio e de ostentação que infelizmente persiste e que só uma administração de unidade ampla poderá eliminar e gerar uma nova confiança nos Associados.

Nesta Informação aos Associados do Montepio analiso a situação atual da Associação Mutualista, do Banco Montepio, e da Lusitânia SA (não vida) empresas do grupo Montepio que, como consequência da gestão ruinosa da administração de Tomás Correia, enfrentam atualmente situações de extrema dificuldade. E que Tomás Correia, embora obrigado a sair do Montepio, deixa uma pesada herança de destruição e delapidação das poupanças dos associados que levará muitos anos a recuperar. E isso só será possível com uma nova administração de unidade alargada, que inspire confiança aos associados,  e não com uma administração de continuidade como se pretende.

Apesar de Tomas Correia já não estar no Montepio a cultura de desrespeito pelos associados e de abuso na utilização dos dinheiros do grupo Montepio continua a imperar de que são exemplos comprovativos a marcação de uma assembleia geral de associados para o dia 30 de Dezembro de 2019, com o objetivo de dificultar a participação dos associados, e a realização de uma Festa do Natal do grupo Montepio cujo custo foi de 235€ por pessoa.

Mesmo que não seja associado do Montepio peço a sua ajuda para que esta informação chegue ao maior número de associados da Associação Mutualista.

 

Finalmente, este é o ultimo estudo de 2019. Durante este ano publiquei 57 estudos, mais do que as semanas do ano. Embora isso me tenha exigido um grande esforço, e o sacrifício de quase todos os fins de semanas, considero que esse esforço valeu a pena se este trabalho foi útil a todos aqueles que leram os meus estudos e os divulgaram. Como sempre afirmei não existe, da minha parte, qualquer pretensão de substituir o pensamento único dominante nos media por outro, mas apenas o propósito de fornecer ao leitor uma outra forma de analisar os problemas económicos e sociais, na ótica da defesa de quem trabalha, para que ele, confrontando-a com a do pensamento neoliberal dominante nos media, forme a sua própria opinião, que é o mais importante.

Aproveito para desejar a todos Festas Felizes, e um Novo Ano 2020 melhor que o que agora termina

 

 

 

Dois episódios recentes mostram que a cultura de marginalização e de desprezo pelos direitos dos associados e de utilização abusiva dos seus dinheiros continua a imperar no Montepio apesar do afastamento compulsivo de Tomás Correia da Associação Mutualista pelo facto do supervisor (ASF) não ter reconhecido com idoneidade para continuar como presidente da Associação Mutualista.

O primeiro episódio refere-se à realização da festa de Natal do Montepio no Altice Arena, um espaço caro e, segundo o jornal OBSERVADOR, “a festa vai ser de arromba e não se poupa despesas”. “A  refeição será servida pela Casa do Marquês, a cozinha oficial do Protocolo de Estado, e custo por pessoa será de 235 euros” que foi naturalmente paga pelos associados do Montepio. Embora a maioria dos trabalhadores do grupo Montepio se tenham recusado em participar na dita festança, ela foi ofensiva para com os associados e mais num altura em que as empresas do grupo Montepio enfrentam sérias dificuldades (acumularam enormes prejuízos, não têm rentabilidade suficiente para transferir excedentes para a AMMG e esta poder distribuir benefícios aos associados nem para recuperar as poupanças que foram delapidadas pela gestão de Tomás Correia), mesmo apesar da reduzida participação, o grupo Montepio despendeu cerca de 400.000 € com a ”festança” como refere o jornal.

O segundo episódio também caraterizador da cultura de desprezo pelos associados, é a marcação da assembleia geral de associados precisamente para 30 de Dezembro de 2019, pela 21 horas, na Rua Áurea, 219-241, em Lisboa, para debater o “Programa e o Orçamento para 2020”, um dia em que os associados do Montepio estão naturalmente a preparar a passagem do ano ou em deslocação para estarem com os seus familiares, portanto um dia não apropriado para a realização de uma assembleia, a não ser que o objetivo deliberado seja dificultar a participação dos associados (certamente foi esse o objetivo). Para os associados que tenham a possibilidade de participar nessa assembleia a convocatório e o Programa e Orçamento – Informação Legal.

 

 


Estudo

Tomás Correia saiu do Montepio mas deixou uma pesada herança de destruição que demorará muito tempo a recuperar e uma cultura de arbítrio e de ostentação que infelizmente persiste e que só uma administração de unidade ampla poderá eliminar e gerar uma nova confiança nos Associados.

Informação 7/2019 aos Associados do Montepio

 

 

O agravamento da situação da Associação Mutualista Montepio Geral

A diminuição de associados, a redução da liquidez imediata, uma margem associativa que não garante o reembolso das poupanças dos associados, uma Situação Líquida real negativa

O quadro 1, com os dados mais importantes dos Relatórios e contas individuais e dos Programas de Ação e Orçamento da Associação Mutualista permite tirar algumas conclusões importantes sobre a evolução da situação real da Associação Mutualista no período 2016/2019 e conhecer a sua situação atual, ou seja, a herança deixada pela administração ruinosa de Tomás Correia.

 

Quadro 1 – Contas individuais do Montepio – Associação Mutualista: as previsões de Tomás Correia e a realidade – 2016/2020

Fonte: Relatório e Contas e Programa de Ação e Orçamento de 2016, 2017, 2018, 2019 e 2020 do Montepio – Associação Mutualista

 

A primeira conclusão que se tira dos dados do período 2016/2019 é diminuição dos associados em todos os anos. Em 2016 eram 632.447 e, em 2019, tinham-se reduzido para 604.500.

A segunda conclusão importante que se tira é que existe uma grande diferença entre as previsões fantasiosas da administração de Tomás Correia, constantes do Orçamento que apresenta todos os anos e o que depois é realizado. Para concluir isso basta analisar os dados que estão nas colunas a laranjas, onde constam as diferenças entre o previsto (Orçamento) e o realizado (o constante das Contas finais ou das estimativas feitas no fim de cada ano). Uma dúvida legitima que se coloca é em relação ao Orçamento para 2020. Acontecerá o mesmo?

Mas os dados do quadro 1 levantam outras questões que são ainda mais preocupantes. Em primeiro lugar, que as saídas de poupanças da Associação Mutualista tem sido superiores às entradas. Esse facto é revelado pela Margem Associativa negativa (em 2016, -122,4 milhões €; em 2017: – 373,9 milhões €; em 2018 :-191,2 milhões €, o soma que as saídas de dinheiro foram superiores às entradas em 687,5 milhões €) . A pequena Margem associativa positiva de 43,3 milhões € em 2019, que tem ainda de ser confirmada quando forem publicadas as Contas de 2019, não compensa o ritmo de saídas de poupanças verificado neste período, naturalmente devido à falta de confiança que a administração de Tomás Correia inspirava.

E a previsão constante do Orçamento para 2020 (+60,6 milhões €) revela por quem fez tal previsão falta de confiança no futuro, até porque existe, como os dados do quadro revelam, uma diferença grande entre o que se prevê o que se realiza para muito menos. Devido aos maus investimentos que a administração de Tomás Correia fez, investimentos de elevado risco porque concentrado fundamentalmente em duas empresas – Caixa Económica e Lusitânia SA – e devido aos enormes prejuízos acumulados e à falta de rentabilidade destas empresas, a Associação Mutualista só se aguentará enquanto as entradas de dinheiro forem superiores às saídas, à semelhança de uma “pirâmide de PONZI”.

Outro aspeto preocupante, que está também associada a referida anteriormente, é a quebra brutal da “Liquidez imediata” (soma dos “Depósitos em bancos” e dos “investimentos financeiros” , nomeadamente obrigações que podem ser facilmente resgatadas e transformadas em dinheiro) da Associação Mutualista para acudir a dificuldades de tesouraria. Foi o que ocorreu em 2018, quando Tomás Coreia desencadeou uma campanha nos media contra Félix Morgado, o que causou forte turbulência no grupo Montepio, e levou muitos associados a levantarem as suas poupanças por sentirem insegurança.

E a “Liquidez imediata” diminuiu entre 2016 e 2019, como revelam os dados do quadro 1, de 1.510 milhões €  para apenas 541 milhões €, ou seja, reduziu-se para um terço (-64,2%) em apenas 3 anos. Basta qualquer turbulência na Associação Mutualista ou qualquer insegurança que se alastre para Associação Mutualista enfrentar problemas de liquidez, até porque a Caixa Económica está limitada pelo supervisor no apoio que pode dar à Associação Mutualista. E será muito difícil, a não ser que seja a saldo, vender as empresas em que as poupanças dos associados estão aplicadas (BM, Lusitânia SA).

Finalmente, um outro aspeto preocupante é que, em 2019, o ATIVO da Associação Mutualista, ou seja, aquilo que ela possui ou tem a receber, era já inferior ao seu PASSIVO, ou seja, aquilo que ela deve ou tem de pagar. Como mostram os dados do quadro 1, se se deduzir ao valor do ATIVO os chamados “Ativos por impostos diferidos”, que não são verdadeiramente ativos, pois com eles não se pode pagar qualquer divida (por ex. não se pode reembolsar as poupanças aos associados), conclui-se que, em 2019, o ATIVO da Associação Mutualista sem “Ativos por impostos diferidos”, era inferior ao seu PASSIVO em 73 milhões €. Se fosse uma empresas diríamos que ela estava tecnicamente falida.

É esta a pesada herança deixada pela administração de Tomás Correia que ele tem procurado esconder, com mentiras e realizando “festanças” com dinheiro dos associados, mas que a realidade fria e objetiva dos números divulgados pela Associação Mutualista revelam. E é preciso que se diga com clareza, até para que não existam ilusões: a recuperação da enorme destruição levada a cabo pela gestão de Tomás Correia durante vários anos vai ser difícil e demorada. Só quem ainda acredita em milagres é que pode acreditar o contrário. É por isso que defendo que seja constituída uma lista de unidade alargada de todos aqueles que estão interessados em salvar o Montepio, o que não será possível por uma administração de continuidade.

 


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