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Terça-feira, Julho 16, 2024

Crise de direitos humanos dos Uigur na China

Beatriz Lamas Oliveira
Beatriz Lamas Oliveira
Médica Especialista em Saúde Publica e Medicina Tropical. Editora na "Escrivaninha". Autora e ilustradora.

A população uigur de Xinjiang é de cerca de 11 milhões de pessoas. Portanto, entre 1 e 10% da população da província está detida contra a sua vontade.

Os Uigures na China

A sua situação foi descrita como a pior crise de direitos humanos do mundo – a detenção arbitrária em amplos campos de um milhão ou mais de muçulmanos uigures na província de Xinjiang, no noroeste da China, que faz fronteira com o Paquistão e o Afeganistão.

Um painel de investigadores da ONU disse que no ano passado que mais de um milhão de muçulmanos uigures estariam detidos no que são basicamente enormes campos de concentração em Xinjiang.

Mas no início deste ano, o Departamento de Estado Americano disse que o número real pode estar próximo de 3 milhões.

A população uigur de Xinjiang é de cerca de 11 milhões de pessoas. Portanto, entre 1 e 10% da população da província está detida contra a sua vontade.

O governo chinês tenta dizer que os campos são meramente centros de treino profissional, mas em novembro um grande número de documentos confidenciais tornados públicos, chamados de China Cables, e publicados pelo New York Times confirmam as suspeitas de ativistas e políticos com interesse nestas questões: os campos são centros de reeducação do Partido Comunista e no seu interior os uigures são forçados a abandonar sua religião e idioma tradicionais.

 

China Cables:ICIJ – International Consortium of Investigative Journalists

 

Nury Turkel, é um conhecido advogado uigur americano, ativista dos direitos humanos. Nury diz que a China está a orquestrar um “genocídio cultural” contra seu povo.

Porque se houve falar tão pouco nesta questão e já, por exemplo, a tentativa de genocídio dos royingha do Myanmar, ou a recente tentativa do Presidente indiano Modi de restringir os direitos civis, incluindo o direito de nacionalidade dos muçulmanos nascidos na Índia se tornou muito mais visível nos órgãos de comunicação social.

Quem são os uigures, por que importam, a quem importam? São um dos 56 grupos étnicos oficialmente reconhecidos pelo governo chinês; um grupo minoritário de maioria turca e de língua turca que representa menos de 1% da população chinesa. Vivem maioritariamente na maior província da China, Xinjiang, sendo a capital a cidade de Urumqi. Turquestão Oriental, como os uigures lhe chamam, especialmente aqueles que querem a independência . No começo do século 20, os uigures chegaram a declarar mesmo assa independência. Mas, em 1949, a região passou a ser controlada pela China. O governo chinês reprime os uigures há décadas, mas após o 11 de setembro, Pequim aproveitou a chamada Guerra ao Terror de George Bush para chamar a toda e qualquer oposição ao domínio chinês como “terrorismo islâmico”. Nos últimos anos, eles foram muito além e agora parecem ver todos os uigures como terroristas em potencial, extremistas, e separatistas.

Alguns uigures que foram libertados e os que fugiram do país dizem que nesses campos os muçulmanos uigures não são levados à força a declamarem o seu amor pelo Presidente Xi Jinping e pelo Partido Comunista Chinês. Devem também mostrar que odeiam a sua religião. Morrem de fome, são esterilizados, torturados, violados e mortos. É um pogrom. Limpeza étnica pelo terror.

Em suma, toda a província de Xinjyang se transformou num estado policial discriminatório.

Nury Turkel insiste em que o governo chinês não é apenas poderoso em casa, é poderoso no mundo. A influência económica e tamanho da China fazem com que os governos, incluindo os governos ocidentais, não sejam capazes de denunciar ou enfrentar esta realidade, ou não farão muito para ajudar os uigures. Momentos depois de Trump assinar algum tipo de acordo comercial com a China e o fim da guerra comercial com Pequim esteja no horizonte , suspeito que o governo americano esqueça os uigures.

Vivemos tempos de diplomacia de conveniência e de conflitos em que os direitos civis e os direitos humanos se defendem apenas se não colidirem ou interferirem com interesses económicos.

Neste ]ultimo caso os interesses económicos prevalecem e os direitos civis e humanos são uma pantomina. Até o obeso Mike Pompeo declarou recentemente: “A China vive uma das piores crises de direitos humanos do nosso tempo. É verdadeiramente a mancha do século.”

Mike Pompeu vê manchas onde lhe convém! Deve ser um glaucoma distorcido.

E mesmo os países com populações de maioria muçulmana não têm pedido contas a Pequim, nem |têm feito nenhum esforço para tornar a situação dos uigures conhecida. Ou revertida.

Em fevereiro de 2019 a Turquia considerou “uma vergonha para a humanidade” o tratamento dos Uigures muçulmanos pela China.“

“Os Uigures que não estão detidos nos campos também estão sob forte pressão”, acrescentou Hami Aksoy, porta-voz do ministério dos Negócios Estrangeiros da Turquia. Apelou à comunidade internacional e ao secretário-geral da ONU para “pôr termo a uma tragédia humana que se desenrola em Xinjiang”.

Os uigures dentro da província de Xinjiang tem as suas comunicações privadas e familiares monitorizadas, espiadas e controladas com técnicas sofisticadas, técnicas de reconhecimento facial, linhas telefónicas vigiadas.

Pequim declara que militantes étnicos uigures que se juntaram à luta da EI na Síria e são membros da Organização de Libertação do Turquestão Oriental (ETIM), são “terroristas”. Desse modo tudo lhes é permitido! Xinjiang pode ser comparada a um modelo gigante de Guantanamo Bay.

 Os Uigures no mundo

Há uma grande presença uigur nos países da Ásia Central que fazem fronteira com Xinjiang, como no Cazaquistão,Quirguistão, Uzbequistão.

O Congresso Mundial Uigur, com sede em Munique (Alemanha), tem como vice presidente Seyit Tumyurk – representa esse grupo étnico no exílio e faz oposição e denuncia do governo chinês em Xinjiang O congresso mundial uigur diz representar 20 milhões de uigures no mundo, com comunidades importantes também nos Estados Unidos, Suécia, Alemanha e Turquia.

Uns são filhos outros são enteados, uns são espezinhados outros enaltecidos. Justiça é que não há.

Há é um MERCADO implacável.


Por opção do autor, este artigo respeita o AO90


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