Diário
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João de Sousa

Terça-feira, Julho 16, 2024

A seiva do capitalismo selvagem

O que é, afinal, o capitalismo selvagem?

Onde se encontra a seiva estrutural de afirmação e aceitação de um modelo de organização social em que uns quantos mandam e, a generalidade dos cidadãos obedecem?

Como é possível a uma minoria deter a posse administrativa de recursos naturais que são de todos e a partir dessa mesma posse impor domínio e subjugação?

Tenho para mim de que, mais do que as qualificações encontradas por comentadores, economistas, pensadores e outros, para a definição de um modelo de organização social tido por “capitalismo selvagem”, a seiva da sua génese de ódio interclassista, racial, religioso, étnico, faculdades genéticas ou adquiridas e outros, é a raiz cultural de onde emerge a orientação intelectual do individuo capaz de assumir como êxito:

  • o êxodo em busca do direito a viver;
  • a sustentabilidade alicerçada em miserabilismo;
  • a iliteracia como forma de coartar a informação;
  • o medo como garante da falta de liberdade;
  • a megalomania como estandarte;
  • a guerra como solução para o equilíbrio;

Estes serão, a meu ver, os pilares mentais indispensáveis para a construção de uma sociedade que implemente e aceite uma organização onde as regras são as do poder e só essas. Porque, as regras complementares, serão sempre as ditadas por cacique local que detenha poder de decisão em circunstância adequada e decisiva em um qualquer local de um qualquer Estado.

Acontece que, a organização administrativa e territorial nacional, no Estado Português, é permeável a diversas tipologias de organização política local não condicentes com a orientação política nacional, mas que no quadro da aceitação democrática de sufrágio a legitimidade é juridicamente reconhecida como sendo a correta.

As opções ideológicas e políticas dos poderes distintos fazem o resto.

Ora, a educação continua a ser o alvo principal para se conseguir uma matriz especifica de cidadãos que se ajuste aos diversos interesses articulados instalados no poder. Uma cidadania submissa, amorfa, de onde se extraia matéria a manipular consoante a conveniência inclusive os futuros dirigentes.

Nessa senda e como se prevê, em face da conjuntura internacional e o caminho que o ensino superior leva, a médio prazo, a maioria esmagadora dos alunos a frequentar o Ensino Superior serão cerceados pela dimensão da bolsa económica familiar.

Como mero exemplo local dessa realidade anote-se que, na cidade de Braga, um edifício expropriado por interesse publico, volvidos alguns anos foi vendido e, para “segurar o subterfúgio”, será um hotel apelidado de “residência para estudantes”. Algo que é “ouro sobre azul” para um “investimento” seguro com rendibilidade garantida e, quiçá, apoios estatais, sem a necessidade de concorrer no agressivo mercado de turismo e hotelaria. Aos apoios estatais acresce como é óbvio o custo estimado pela entidade que irá explorar o espaço da hospedagem.

Será também uma forma de segregar os alunos de menores recursos económicos um pouco à semelhança do que já acontece em outros estabelecimentos de ensino:

  • quem pode frequenta o ensino gerido por privados publicitado como sendo mais confiável e seguro;
  • quem não pode frequenta o ensino publico socialmente tido como menos proveitoso e mais inseguro;

Um pouco há semelhança da nova vaga de IPSS’s para pessoas com disponibilidade financeira, mas onde a entidade gestora, privada, diga-se, não prescinde de se pendurar no Estado ao abrigo de protocolo legal e acordos com a Segurança Social.

A que acrescem os Hospitais privados todos pendurados num OGE para o qual todo o contribuinte contribui, mas de que só é ressarcido de acordo com o estatuto social e família singular ou coletivo e, acordos com subsistemas de saúde a que, quando as coisas correm mal o Serviço Nacional de Saúde tem de dar resposta.

Neste contexto o Município de Braga dá mostra da sua inicial intenção ideológica de privatizar tudo aquilo que o dinheiro público paga e que devia ser fonte de sustentabilidade municipal e, manter como despesa publica a pesada engrenagem em que assenta o seu funcionamento burocrático ou de encargo.

Algumas tentativas falharam, mas virão de novo como o são a AGERE e os TUB que até já tem um recurso de recetação de receita; os parquímetros, e mantem a sua necessária renovação de frota.

Da futura exploração do Mercado Municipal a informação de que tenho conhecimento continua escassa.

Por estas e outras Jean Paul Sartre e a sua teoria sobre o existencialismo onde analisa os comportamentos do cidadão que não assume o efeito das suas próprias ações de cidadania está mais do que nunca na ordem do dia.

Quem votou na atual solução política devia saber ao que se estava a prestar.

Porque por detrás de todas as movimentações sociais há interesses em disputa:

  • uns na defesa dos interesses coletivos;
  • outros na defesa dos interesses individuais com poder ou, de grupos estruturalmente afetos a fins geradores de assimetrias sociais porque são essas assimetrias que garantem o exercício desse efetivo poder.

Resulta desta minha forma de olhar o preceito filosófico e a prática política de que a seiva do capitalismo selvagem ultrapassa as megapolíticas nacionais porque essas serão sempre o somatório dos resultados das micropolíticas locais.


Por opção do autor, este artigo respeita o AO90


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