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Terça-feira, Julho 16, 2024

O Acordo do Século

Beatriz Lamas Oliveira
Beatriz Lamas Oliveira
Médica Especialista em Saúde Publica e Medicina Tropical. Editora na "Escrivaninha". Autora e ilustradora.

A obsessão pela eliminação da questão palestiniana tornou-se o principal objetivo do governo americano, que aumentou o seu apoio e patrocínio ao poder sionista desde que Donald Trump assumiu o poder na Casa Branca.

Fornecendo armas avançadas, com decisões políticas contrárias a todas as resoluções e leis internacionais relacionadas com a questão palestiniana, tal como o reconhecimento americano de Jerusalém como capital da ocupação israelita e a declaração sobre a ocupação dos Montes Golan sírios. O governo Trump deu apoio para acordos na região que servem os ocupantes israelitas, até mesmo incentivando a normalização de relações entre os sheiks do Golfo e Israel. Tudo isto culmina no “Acordo do Século” congeminado pelo governo americano como sendo um “plano de paz”, mas que na prática se destina a eliminar a questão palestiniana. Este triste e miserável acordo está publicado pelos órgãos de comunicação social israelitas. Entretanto Washington pretende publicar seus “princípios” nos próximos dias.

As cláusulas mais que dúbias e perigosas, como a falta de controle da Autoridade Palestina nas fronteiras com a ocupação, e o controle total de Israel sobre Jerusalém, deixando para a Palestina uma presença simbólica, gritam bem alto as incongruências do Acordo do Assalto do Século.

Outra questão séria que eclode do plano americano, de acordo com os rumores que circulam e que afetaria milhões de refugiados palestinianos, é que não haveria compensação para os refugiados, nem possibilidade destes regressarem às casa e terrenos de onde foram expulsos, ou seja abolir o direito de retorno de refugiados palestinianos à terra natal. Ocupação e controle israelita do Vale Jordão e de partes da Cisjordânia.

A primeira reação oficial palestiniana foi feita da parte da presidência palestiniana, pelo porta-voz Nabil Abu Rudeina, que hoje alertou contra qualquer medida americana que viole a legitimidade internacional, enfatizando que a posição da Autoridade Palestiniana é clara e firme:

Rejeitam as decisões de Trump sobre Jerusalém ocupada e todo o conteúdo do “acordo do século”

Abu Rudeina afirmou ainda desmentir afirmações de Trump, esclarecendo que”Não houve conversas nem haverá com o governo dos EUA”.

É irónico notar que Trump enfrenta um processo de impeachment, e Netanyahu enfrenta três acusações de corrupção criminal e uma campanha eleitoral incerta.

Uns chefes e condutores de orquestra um tanto ridículos, manhosos mas poderosos.

“Este é um plano para proteger Trump do impeachment e proteger Netanyahu da prisão. Não é um plano de paz no Oriente Médio ”, disse Mohammad Shtayyeh, Primeiro Ministro da Autoridade Nacional Palestiniana numa reunião do gabinete.

Este Acordo do Século pareceu trouxe consigo uma demonstração de unidade das fações rivais palestinianas, Hamas em Gaza e Fatah na Cisjordânia ocupada.

Os dois partidos, inimigos de longa data e que travaram uma curta guerra civil em 2007 pelo controle de Gaza, concordaram em realizar uma reunião de emergência em Ramallah para discutir uma resposta conjunta.

Haverá protestos nos territórios palestinianos,aumentando a possibildade de confrontos com as tropas israelitas, que já declararam ter reforçado a segurança no vale do Jordão, aquela grande fatia da Cisjordânia que o governo de Israel pretende anexar.

E como vai a paz neste Acordo do Século?

À evidência, a paz vai como uma noz perdida nas ondas alterosas da História.


Por opção do autor, este artigo respeita o AO90


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