O procurador-geral de El Salvador, Raúl Melara, anunciou nesta segunda-feira (10) que uma equipe de procuradores irá investigar as ações do presidente salvadorenho Nayib Bukele que ordenou uma invasão militar na sala de sessões da Assembleia Legislativa do país na noite deste domingo (09).
“Se houve um crime, isso será analisado. Acredite em mim, uma equipe de procuradores estava acompanhando com atenção tudo o que aconteceu ontem”, disse o procurador ao jornal La Prensa Gráfica.
Ainda segundo Melara, “existem denúncias que foram apresentadas ontem pelo (partido de esquerda) FMLN (Frente Farabundo Martí de Libertação Nacional) para a Procuradoria Geral e também serão analisadas”.
O procurador ainda classificou a invasão como uma ação “lamentável” e afirmou que houve um emprego excessivo da força por parte dos militares. “Isso é algo que não deve se repetir”, disse Melara.
Na noite de domingo, o presidente Nayib Bukele ordenou que militares e agentes da Polícia Nacional Civil (PNC) invadissem o prédio do Legislativo para “pressionar” os parlamentares pela aprovação de um empréstimo de US$ 109 milhões para financiar um plano de segurança.
A “sessão” que discutiria a medida havia sido convocada de forma extraordinária pelo próprio presidente para este domingo. No entanto, poucos deputados apareceram, o que impediu a aprovação. Muitos deixaram a Casa no momento da entrada das Forças Armadas.
Após a movimentação golpista, Bukele fez um discurso aos apoiadores reunidos na frente do Congresso e “deu” uma semana “de prazo” para que os deputados aprovassem o empréstimo. Caso contrário, mandaria de volta o Exército para o Parlamento.
O presidente disse também que os deputados, os quais classificou de “sem-vergonhas” e “delinquentes”, sairiam “pela porta dos fundos” da Assembleia nas próximas eleições, em fevereiro de 2021.
“Se, em alguns meses, vamos ter esta Assembleia, por que vamos tomá-la pela força?”, questionou Bukele frente a seus apoiadores. “Peço a vocês paciência.”
A junta diretiva da Assembleia se reuniu na tarde desta segunda-feira em uma “reunião de emergência” para discutir a invasão da Casa e deve emitir um comunicado após o encontro.
Plano de segurança
O financiamento, que, segundo o governo, será usado para combater gangues que agem no país, já havia sido rejeitado pelo Legislativo por ter tramitado em caráter de urgência, o que, segundo os deputados, não poderia ter acontecido – faltava o aval da comissão de Fazenda da Assembleia para tal, e Bukele não tinha os apoios necessários.
Segundo os membros da comissão, o governo não explicou como o dinheiro seria gasto. Além disso, acusações de corrupção envolvem membros do gabinete de Bukele.
Com a negativa da Assembleia de aprovar o projeto, o Conselho de Ministros do governo emitiu uma resolução por meio da qual, invocando um artigo da Constituição, convocou a Casa de forma extraordinária para discutir o assunto. Ao mesmo tempo, Bukele convocou uma mobilização na frente do Palácio Legislativo para pressionar e exigir a aprovação do financiamento.
Texto original em português do Brasil
Exclusivo Editorial PV (Fonte: Opera Mundi) / Tornado