Aconteceram as eleições e, pasme-se, a coligação governamental, contra algumas expectativas, venceu. Sei, também, que a maior parte das minhas amizades digitais e sociais tende a dizer que é de esquerda, alguns confirmam esse apoio publicamente, outros por meias palavras mas muitos, sim, muitos, parece que preferem ir com a maré, escolher um hashtag viral, fazer parte de clubes e grupos de apoio a isto e aquilo. Se não for assim, como explicar o extraordinário rancor e ódio extremista contra, não só a coligação vitoriosa, como com os portugueses em geral, esses “ordinários”, e, pior, atacando a própria pátria ou, pelo menos, a noção que se tem dela.
A fronteira entre o ódio digital e o extremar opinativo é cada vez mais ténue. E as pessoas escrevem coisas de que se arrependem. Acontece sempre quando um ricalhaço abate um animal selvagem, um golo em fora de jogo ganha o desafio, um bebé é encontrado na rebentação, um jornalista é degolado ou uma redacção satírica é abatida.
Quando algo de extraordinário acontece, existe um imediato momento de comunhão nas redes sociais e, tenho vindo a reparar, o meu mural é inundado por todos quantos não têm uma posição semelhante à minha. Um dia destes terei de conversar com o “real dono disto tudo”, Zuckerberg, para saber até que ponto o famoso algoritmo não está também pensado para conseguir inflamar as respostas aos vários posts e transformar amigos em adversários. Nem que seja momentaneamente.
Ninguém gosta de perder, nem a feijões, muito menos quando se segue um qualquer messias ou “mister” que entra em desgraça. Mas daí a atirar-se de cabeça para o penhasco que é uma opinião inflamada e de que se vai arrepender quando pesar os factos e ouvir opiniões construtivas, existe uma fronteira que não se deve, digo eu, atravessar. Logicamente que a maior parte dos posts são apagados após umas horas ou quando alguém mais chegado telefona ou envia um sms com o bom conselho. E esses posts geralmente desaparecem por algum “problema técnico” do Facebook ou, melhor, alguém com poder o mandou “apagar”.
O povo que ontem era fantástico porque se uniu em torno de um hashtag francês, quando alimenta os mais desfavorecidos sem pedir nada em troca, quando se mete num carro e vai buscar refugiados, é hoje o povo que sacaneou a pátria, desonrou a democracia e é a causa de todos os males, até das cheias que esta chuvada promete.
O DigitalHate surge após o sucesso do hatemail e do cyberbulling, um novo império do mal que ultrapassa a grande velocidade os pensamentos mais densos de Darth Vader ou Donald Trump. Há que ter cuidado quando se pisa o palco porque a plateia é demasiado vasta. E, diz-se, a democracia e liberdade de opinião (e escolha, neste caso) foi uma conquista de Abril e há que respeitá-la. Começar pelo Facebook poderá ser um bom caminho.