A libertação de Aleppo, capital industrial da Síria, Campo de Damasco, Daraa, Deir Ezzor, Raqqa e todos os quartéis e territórios sírios tem sido o foco e o centro da atenção de todos os habitantes deste martirizado país.
Os sírios celebraram a recente libertação de Aleppo conquistada aos terroristas da Frente Al-Nusra, pelo Exército Sírio. Mas se o povo não tivesse apoiado a campanha militar do exército e os sacrifícios dos militares,se as pessoas que vivenciaram anos de medo, insónia e desassossego, que sofreram bombardeamentos dias e noites a fio, sem poderem dormir, não tivessem apoiado o exército, duvido que esta vitória da Síria, mesmo apoiada pela Rússia, tivesse sido possível. O Presidente Assad dedicou a vitória ao povo e ao exército sírio e às forças aliadas. O Presidente Al-Assad falou recentemente na televisão e lembrou os anos de cerco sem água, sem eletricidade e sem cuidados básicos de saúde ou de escolaridade a poderem ser garantidos.
Aqui no Ocidente a campanha contra o direito dos Sírios decidirem o seu destino foi posto e continua a sê-lo,em causa. Uma qualquer primavera árabe cheira aos ocidentais a amendoeiras em flor.
Mas nem tudo são rosas, amêndoas e romances. Nem tudo, senhor!
O domínio territorial do exército sírio significa finalmente o fim da guerra e isso levará a oportunidades de mudanças políticas no país. Tal como previu o Senador Republicano Richard Black a Turquia perdeu e isolou-se pela sua própria arrogância.
Já em 17 de setembro de 2019, na cidade russa de Sochi, o presidente turco Recep Tayyip Erdogan e o presidente russo Vladimir Putin concordaram em criar uma zona tampão entre os rebeldes da Síria e as forças pró-governo. Na reunião, o presidente russo Vladimir Putin considerou os comentários de seu colega turco sobre a prevenção de desastres humanitários e violação de direitos humanos, dado o número cada vez maior de refugiados sírios. Putin assumiu o comando de um plano para desencorajar os líderes sírios de usar as operações militares para limpar Idlib de terroristas. Prometeu criar uma zona-tampão com 15 a 25 quilómetros de largura a entrar em vigor em 15 de outubro daquele ano. Putin convenceu o presidente sírio a aceitar o acordo de Sochi, celebrado entre a Rússia e a Turquia.
O Irão e a Rússia foram e são grandes aliados do presidente sírio Bashar al-Assad.
Surpreendentemente, o acordo de Sochi foi apoiado ativamente pelos países ocidentais, que já haviam expressado sérias preocupações sobre a situação dos direitos humanos em Idlib. O Ocidente, especialmente Washington, Londres e Paris, que sempre estiveram em contacto direto com os grupos governamentais anti-sírios em Idlib, foram obviamente indiferentes à situação enfrentada pelos civis em Idlib.
O Ministério das Relações Exteriores da Síria foi descrevendo as operações realizadas pelas forças da coligação liderada pelos Estados Unidos como crimes contra a humanidade e o genocídio. Grande parte da Síria foi destruída e centenas de milhares morreram. Em Idlib, parecia, de início, que o acordo alcançado em Sochi entre Moscovo e Ancara poderia melhorar a situação. Mas, com o termo de um prazo para a Turquia negociar com os chamados oponentes de Assad, Ancara deixou de cumprir suas obrigações.
Muitos analistas acreditam que Ancara deliberadamente negligenciou a questão da retirada das forças armadas contra Assad, a fim de usá-las como um “trunfo” para sua política. Erdoğan também pareceu adotar um jogo duplo com a Rússia, o Irão e a Síria, por um lado, e com o Ocidente, especialmente a Europa e os Estados Unidos, por outro. A falta de progresso na implementação dos acordos alcançados em Sochi entre a Turquia e a Rússia, agravou a administração quotidiana da situação em Idlib.
Agora, estamos em Março de 2010 e Erdogan, Sultão da Turquia, volta a ter de ir encontrar-se com o presidente Vladimir Putin, da Rússia Federal, por ter sido obrigado a bater À PORTA do Kremlin.
Será um encontro entre o ocupante turco e as forças que apoiaram o governo legítimo da Síria.
As ameaças barbaras de manipular a crise de refugiados não vai funcionar desta vez. Os refugiados de dezenas de países em todo o mundo foram explorados por Erdoğan.
Assim, as mentiras, distorções e promessas vazias da Turquia caíram de maduras e sem frutos.
Os líderes autoritários e fora de controle, como Recep Tayyip Erdoğan, tendem a pensar que sabem tudo sobre tudo, nunca se enganam, raramente têm dúvidas e são ferozmente intolerantes às críticas. É essa arrogância que finalmente levou Erdoğan e a Turquia ao desastre na Síria, após nove anos de ameaças bombásticas, conflitos por procuração e por último, intervenção militar direta.
Erdoğan está agora isolado, em desacordo com todos os beligerantes na Síria. Enviou 7 mil soldados e material de guerra pesado para Idlib no mês passado para reforçar os postos militares existentes, e vê-se mergulhado numa guerra aberta com a Síria. Atacou aeroportos e instalações de radar muito atrás da “linha de frente”. Declarou todos os “elementos” sírios como alvos legítimos.
Mas o que está acontecendo agora no noroeste da Síria não é mais uma guerra por procuração. É um confronto direto entre os dois estados vizinhos fortemente armados. E ameaça aprofundar a Turquia no conflito militar com a Rússia.
Erdoğan controla a imprensa turca. Não se sabe o número total de militares turcos mortos nesta ofensiva.
Os comandantes russos traçaram a linha vermelha: um comboio militar turco foi atingido nesse mesmo dia. Nas horas que se seguiram, havia soldados turcos feridos com necessidade urgente de assistência médica, e Moscovo negou o pedido de Ancara de abrir o espaço aéreo de Idlib para permitir a evacuação.
Putin deu uma lição ao candidato a sultão. E Erdoğan terá de se ir sentar num divã muito diferente do dos seus sonhos, em Moscovo. Vai na quinta-feira em busca de um cessar-fogo, perfilado no Kremlin.
É previsível que a Rússia exija que a Turquia abandone o território do noroeste da Síria. E até talvez também a região nordeste, dominada pelos curdos, que Erdoğan invadiu no outono passado.
Erdoğan será, espero, obrigado a comer a maçã do paraíso no Kremlin, sentado numa antiga cadeira dos czares. Deve ser semelhante ao Divã com que sonhou!
Mustafa Kemal Atatürk, o estadista revolucionário, autor e fundador da República da Turquia, primeiro presidente de 1923 até sua morte em 1938 devia sentir os ossos gelados dentro da tumba.
Por opção do autor, este artigo respeita o AO90