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Quarta-feira, Fevereiro 26, 2025

Uma avaliação preliminar do impacto do Covid-19

Arnaldo Xarim
Arnaldo Xarim
Economista

Ainda mal se começaram a revelar os primeiros sinais da dimensão do impacto económico-social do Covid-19, agora declarada pandemia pela OMS (Organização Mundial de Saúde), e já são por demais evidentes os efeitos que um fenómeno desta dimensão tem sobre todos nós.

Desde as primeiras notícias que deram conta do aparecimento de um surto epidemiológico desconhecido com origem na cidade chinesa de Wuhan e das que de pronto se lhe foram seguindo que se puderam notar duas características, onde a primeira reduzia o flagelo a um problema chinês, enquanto a segunda chegava a apontar os benefícios económicos que dele poderia advir para o Ocidente.

Esta abordagem começou a mudar, não quando o vírus chegou aos vizinhos Japão e Coreia ou até ao mais distante Irão, mas quando chegou a Itália. Aí parece ter começado a haver outra preocupação e consciência e a par do problema de saúde pública começou a falar-se abertamente nas dificuldades económicas que acarretava e começaram a ouvir-se vozes a falar na necessidade de intervenções públicas e de maiores facilidades de crédito.

Enquanto isto a UNCTAD (órgão da Assembleia Geral das Nações Unidas criado em 1964 para a promover a integração de países em desenvolvimento na economia mundial) publicou no início deste mês um primeiro trabalho sobre a avaliação económica do impacto do Covid-19, cujo resumo passo a traduzir:

Uma avaliação preliminar do impacto

Uma tentativa de avaliação empírica em duas etapas do impacto do Covid-19 na economia global usando o Modelo de Política Global das Nações Unidas pode indicar os países e regiões que podem sofrer maiores perturbações. O primeiro passo implica uma quantificação aproximada das mudanças macroeconómicas, seja através do encerramento de fábricas no centro de algumas cadeias de valor global, de quebras em viagens e turismo, de variações de preços de activos, de mudanças nos preços de mercadorias etc. Ao longo deste ano, algumas economias ainda sofrerão quedas no seu crescimento. Por exemplo, a China e Estados Unidos provavelmente registarão em 2020 taxas de crescimento de 5,6% e 1,7%, respectivamente, e isso terá repercussões variáveis noutras economias, desenvolvidas e em desenvolvimento.

Uma segunda etapa de projecção implicaria uma cadeia de impactos macroeconómicos um pouco mais duradoura. Nesse caso, um conjunto (ainda conservador) de suposições inclui:

  1. um ritmo contínuo, mesmo que moderado, de encerramento de fábrica nos principais centros de produção globais, que, mesmo com despedimentos limitados, terão efeitos sobre a actividade doméstica, inclusive sobre as actividades ‘informais’ e do sector de serviços;
  2. um efeito um pouco mais acentuado nas importações de mercadorias, energia e produtos intermédios de produção;
  3. stress adicional nos mercados financeiros com efeitos no consumo nas principais economias.

Traduzir essas premissas em números de crescimento pode sugerir uma desaceleração adicional do crescimento na China e no Japão de cerca de 0,5%, nos EUA de 0,4% e na União Europeia de 0,5%.

As implicações de tais quebras de crescimento para o resto do mundo dependem de uma variedade de factores, incluindo a extensão dos vínculos comerciais e de produção com esses centros, a sensibilidade às mudanças de preço e volume em energia e mercadorias básicas e a força actual das suas economias, especialmente no que diz respeito à capacidade de atrair uma demanda doméstica robusta.

Num cenário desse tipo, onde as principais economias desenvolvidas perderão em média 0,5% do PIB, a economia mundial sofrerá uma desaceleração adicional de cerca de 0,6% do PIB. No geral, os países em desenvolvimento (excluindo a China) registrariam uma perda de rendimento ao longo do ano de 220 mil milhões de dólares.

As economias mais afectadas serão as dos países exportadores de petróleo, mas também outros exportadores de mercadorias, que perderão mais de um ponto percentual de crescimento, e aqueles com fortes vínculos comerciais com as economias inicialmente atingidas. Países como Canadá, México e região da América Central, nas Américas; países profundamente inseridos nas cadeias de valor global do leste e sul da Ásia; e os países próximos da União Europeia provavelmente sofrerão desacelerações de crescimento entre 0,7 e 0,9%.»

A este cenário descrito pelos técnicos da UNCTAD, nomeadamente o do elevado peso da economia chinesa na cadeia de valor global…

e o da estimativa de evolução do PIB mundial…

seguiram-se as agitações das praças bolsistas e a reacção do Fed norte-americano, com um aumento da injecção de liquidez e um primeiro corte na taxa de referência (aqui abordadas na passada semana), a que rapidamente se seguiu um segundo, enquanto a nível nacional e na expectativa pela declaração do estado de emergência foram dados à estampa opiniões (Oito medidas obrigatórias e urgentes para a economia não ir pelo buraco) e manifestos de economistas, apontando caminhos e soluções que avaliaremos na segunda parte.


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