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João de Sousa

Domingo, Novembro 24, 2024

Heráclito de Creta

Vitor Burity da Silva
Vitor Burity da Silva
Professor Doutor Catedrático, Ph.D em Filosofia das Ciências Políticas Pós-Doutorado em Filosofia, Sociologia e Literatura (UR) Pós-Doutorado em Ciências da Educação e Psicologia (PT) Investigador - Universidade de Évora Membro associação portuguesa de Filosofia Membro da associação portuguesa de Escritores

Que me deslumbrem estes desassossegos. Este asno de escárnio vomitado nas sanitas da ira.

Este quadradinho imundo de diabinhos pequenos. Sabes, que ânsia de voar contra as masmorras do esquecimento, paredes de ferro a afogarem-me a sede de sono definitivo.

Sonhaste-me este futuro como desenhos no deserto, pasmos de vento como a saudade. Morri um dia destes numa cama perdida em todas as falésias da memória. Este armário de nadas numa praia inventada.

Queria uma paz nos devemos deste norte sem rumo como o frio cantado nestes navios ancorados no infinito.

A vida são três degraus para baixo e com eles a felicidade, sim, está incapacidade de pensar nos claustros do além.

Um dia destes serei uma pedra a mais na minha própria consciência, escárnio da ciência, escritor vagabundo neste mundo que mata.

Um destes serei futuro, todos os futuros nas memórias que ficam, remorsos são catadupas para castelos e neles nada de mim, que serei apenas quem já fui. Voarei, garanto, quando os meus ímpetos me despertarem, sair deste nefasto bem fazer apenas para agradar, sim, estas grades invisíveis no meu olhar virado para um horizonte sem rumo.

Não quero ser o escorbuto mimado, mas sim a arma para o meu sucesso neste triângulo vândalo, repleto de vértices voláteis como o desdém dos sonhos. O fumo das inconstâncias são o meu alimento, aqui, sentado no pedestal dos infortúnios e que assim seja, descansado para nunca mais cansar nos pensamentos que me consomem.

Não quero falar porque ninguém me entenderá, escrevo para que não me intendam.

Cada palavra escrita é o código do meu desejo, a viagem há muito ansiada, o jardim dos meus mais profundos coloridos rosais, a invenção da minha partida ou a descoberta dos beijos que nunca senti, as vozes das rosas encantadas ladeiam-me como que se de tudo com elas se tratasse, viver na areia com as raízes bem embutidas nas vozes mais sibilinas da vida.

Ainda assim desisto de ouvir quem que seja, venha de vier o que quer que seja, sou o meu próprio desígnio mesmo enfeitiçado pelas minhas nunca sentidas ânsias. Sinto-me assim, como quero e desejo, de facto e engravatado para as minhas mais sentidas perdições, o prospecto dos meus dedos e mãos nesta caneta que me descreve no resto de tudo. Nada mais haverá.

O bagaço iluminar me há nesta escuridão acesa com as luzes da fantasia encantada. Canta, dizer-me de longe os profetas de Saturno, mas não sequer rumo, por isso durmo no silicone derretido das saudades de mim mesmo. Jamais me sentirei perdido. Sou o meu próprio destino.

Dor aqui, dor ali, sou o condor do Texas nestas páginas sonhadas.

Faz falta apenas a coragem de mergulhar os infortúnios da verdade. Estes caminhos são sombrios de mais para que compense existir.

A única verdade é o não compensar nada com os pés descalços, por isso vou rumo ao desafio deste disfarçado jogo de damas e cavalheiros, serei o meu próprio cavaleiro neste combate de enfartes.

Um dia destes, alguém enjaulado me disse: a única liberdade é a alma. É nela que moram as minhas mais profundas santidades. Como Cristo, voarei para o céu, é onde se encontram os descontentes com a voz dos sábios.

E o certame mais certo é absolutamente o contentamento. Nada existirá para além disso. Esquece-te que vocês o bebé da sicota dos heróis. Deles hoje, apenas glórias. E de que me valem? Parti como sempre quis: sozinho.

Não nasci para multidões como uma sinfonia de Beethoven, nasci para mim, que me devolvo a natureza que me pariu.

A solidão é o canto mais perfeito para me acolher. E ouvi dela: bem-vindo guerreiro da verdade!

Um dia destes farei greve a existência e partirei como um cromossoma que me somará aos restos da minha origem. De novo nada.

Não quero exéquias nem certames, quero a minha própria irracionalidade.

É no fundo do mar que se encontram os meus últimos registos, sim, na ostra que me mordeu o sentido e o rumo que não existe. A esta altura já nada conta, sou a exclusão das virtudes que o vento levou.

É um som de mim e apenas isso, o desejo é deixar-vos na mesma, como se eu nunca tivesse existido. Durmam, por favor, em paz. A minha vida sempre foi um vendaval.

Serei ingrato para sempre. Nunca pensei nos que me amam.

Sou o escorbuto mais ponteado neste jogo, nem os árbitros da verdade me salvam. Consigo ainda assim a minha própria e sucumbirá verdade. Sou e serei terra como a carne que lhe devolvo. Este eu que nunca me pertenceu. Verdade.


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