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Terça-feira, Julho 16, 2024

O mundo novo vira sonho possível com a união de quem acredita no futuro

Marcos Aurélio Ruy, em São Paulo
Marcos Aurélio Ruy, em São Paulo
Jornalista, assessor do Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo

Em tempos de combate à pandemia do coronavírus, a seleção de músicas desta edição versa sobre a vida que temos e a que desejamos para nós e para as futuras gerações. Mesmo em isolamento, continuar trabalhando com afinco para queimar toda a semente do mal. O dinheiro não vale mais que a vida humana.

As cinco canções aqui apresentadas vislumbram toda a força necessária para resistir e derrotar o inimigo da vida.

Admirável Gado Novo (1979), de Alceu Valença e Zé Ramalho

“Admirável Gado Novo”, de Alceu Valença e Zé Ramalho, fez muito sucesso, principalmente ao ser incluída na novela “Rei do Gado”, em 1996, da Rede Globo, como música de um personagem sem-terra em luta pela reforma agrária.

Uma contundente crítica à exploração da força de trabalho pelo capital voraz e demolidor de sonhos. Porque para não levar uma vida de gado é preciso ciência no que se faz e fazer com conhecimento de causa.

Admirável Gado Novo (1979)

Vocês que fazem parte dessa massa
Que passa nos projetos do futuro
É duro tanto ter que caminhar
E dar muito mais do que receber
E ter que demonstrar sua coragem
À margem do que possa parecer
E ver que toda essa engrenagem
Já sente a ferrugem lhe comer

Eh! Oh! Oh! Vida de gado
Povo marcado eh! Povo feliz…

Lá fora faz um tempo confortável
A vigilância cuida do ¨normal¨
Os automóveis ouvem a notícia
Os homens a publicam no jornal
E correm através da madrugada
A única velhice que chegou
Demoram-se na beira da estrada
E passam a contar o que sobrou

Eh! Oh! Oh! Vida de gado
Povo marcado eh! Povo feliz…

O povo foge da ignorância
Apesar de viver tão perto dela
E sonham com melhores tempos idos
Contemplam esta vida numa cela
Esperam nova possibilidade
De verem esse mundo se acabar
A arca de Noé, o dirigível
Não voam nem se pode flutuar
Não voam nem se pode flutuar

 

 

Maiakovski (E Então que quereis; 1989), de João Bosco

João Bosco homenageia o poeta russo Vladmir Maikovski (1893-1930). Chamado de o “Poeta da Revolução” russa, de 1917, que instaurou o primeiro Estado socialista no mundo. Além de revolucionário, Maiakovski é considerado um dos maiores poetas do mundo. Recitou as dores e os amores de um povo em busca do futuro.

O mineiro João Bosco é um dos grandes nomes da música popular brasileira. Canta e toca violão de um modo único e inconfundível. Suas melodias e poesias cantam as necessidades de um povo faminto de justiça.

Maiakovski (E Então que quereis; 1989)

Fiz ranger as folhas de jornal
Abrindo-lhes as pálpebras piscantes.
E logo
De cada fronteira distante
Subiu um cheiro de pólvora
Perseguindo-me até em casa.
Nestes últimos vinte anos
Nada de novo há
No rugir das tempestades
Não estamos alegres,
É certo,
Mas também por que razão
Haveríamos de ficar tristes?
O mar da história
É agitado.
As ameaças
E as guerras
Havemos de atravessá-las.
Rompê-las ao meio,
Cortando-as
Como uma quilha corta
As ondas.

 

 

Sonho Impossível (1972), versão de Chico Buarque; interpretação de Maria Bethânia

Em sua versão de “Impossible Dream” (1966) de Joe Darion e Mitch Leigh, Chico Buarque mostra a necessidade de tenacidade para suplantar o inimigo maior da classe trabalhadora e a ditadura vigente em 1972 quando fez a versão.

“Sonhar mais um sonho impossível” é mostrar resistência a tudo o que torna a vida um inferno para quem vive dos frutos de seu trabalho e não pensa em acumular riquezas.

Sonho Impossível (1972)

Sonhar
Mais um sonho impossível
Lutar
Quando é fácil ceder
Vencer
O inimigo invencível
Negar
Quando a regra é vender
Sofrer
A tortura implacável
Romper
A incabível prisão
Voar
Num limite improvável
Tocar
O inacessível chão
É minha lei, é minha questão
Virar esse mundo
Cravar esse chão
Não me importa saber
Se é terrível demais
Quantas guerras terei que vencer
Por um pouco de paz
E amanhã, se esse chão que eu beijei
For meu leito e perdão
Vou saber que valeu delirar
E morrer de paixão
E assim, seja lá como for
Vai ter fim a infinita aflição
E o mundo vai ver uma flor
Brotar do impossível chão

 

 

Chuva (2016), de Iara Rennó e Thalma de Freitas; interpretação de Jaloo

Jaime Melo Maciel Júnior, conhecido por Jaloo, é um cantor, DJ e compositor paraense. Canta em Chuva o sentimento de transgressão ao status quo de uma burguesia voltada apenas para os seus interesses mesquinhos.

Porque “o ciclo d’agua é uma dança eterna” e sem água não se vive. Por isso quando ouvir que querem privatizar a água resista.

Chuva (2016)

Ar quente vai subir
Ar frio vai descer
Vapor que vem do mar
Geleiras vão derreter

O vento vai soprar
Tudo pode acontecer
As nuvens vão se condensar
E, depois, vão dissolver

Porque quando o sol aquece a Terra
Muita água se libera
E a gravidade da atmosfera
Faz pressão que nem panela

Quando vai chover bem muito
Você vem para o meu mundo
E eu te conto como acontece a chuva
E eu te conto como acontece a chuva

Chuva molha, molha, cai
Chuva chove, chove, sai
Chuva molha, molha, vem
Chuva, chuva

Chuva molha, molha, cai
Chuva chove, chove, sai
Chuva molha, molha, vem
Chuva, chuva
O ciclo d’agua é uma dança eterna!
Oh, lua lua luar
Me leva contigo pra passear

 

 

Juízo Final (1973), de Élcio Soares e Nelson Cavaquinho; interpretação de Beth Carvalho

Nelson Cavaquinho talvez seja o compositor brasileiro mais melancólico, porém, em “Juízo Final” a sua melancolia se transformou num grito de esperança. Essa esperança que enche as pessoas de brios para defender o que é justo.

Como neste momento, todas as pessoas se unem contra o egoísmo de um sistema que escraviza e põe o dinheiro acima de tudo, inclusive da vida. Pois o amor ainda será eterno novamente porque os sol sempre brilha.

Juízo Final (1973)

O sol há de brilhar mais uma vez
A luz há de chegar aos corações
Do mal será queimada a semente
O amor será eterno novamente

É o Juízo Final
A história do Bem e do Mal
Quero ter olhos pra ver
A maldade desaparecer

 


Texto em português do Brasil


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