Diário
Director

Independente
João de Sousa

Quarta-feira, Julho 17, 2024

Meia-noite no Planeta Quarentena: Dylan ataca de novo

Como um tiro ricochetando nas Portas do Céu, Bob Dylan acaba de lançar uma obra-prima que disseca o assassinato de JFK.

Que timing espetacular. Como um tiro ricocheteando nas Portas do Céu, enquanto uma pandemia viral faz estragos ferozes e o Planeta Quarentena é o novo normal, Bob Dylan produziu uma estarrecedora obra-prima de 17 minutos, dissecando o assassinato de JFK, ocorrido em 22 de novembro de 1963, lançando-a à meia-noite, horário da Costa Leste dos Estados Unidos.

Para a geração do baby-boom, para não mencionar os dylanólogos obsessivos, esse é o sucker punch supremo. Incontáveis olhos mergulharão em piscinas para revisitar todas as lembranças que redemoinham em torno “do dia em que estouraram os miolos do rei / Milhares assistiam, ninguém viu nada” (the day they blew out the brains of the king/ Thousands were watching, no one saw a thing).  Mas isso não é tudo: o Dylanmobile nos leva num tour mágico e misterioso dos anos 60 e 70, junto com os Beatles, a Era de Aquário e o Tommy, do The Who.

Se há algum artefato cultural capaz de disparar um poderoso solavanco por toda uma América perplexa, que tenta se haver com um Beco da Desolação distópico, aqui está ele, obra do verdadeiro e incontestado Excepcionalista americano. Os tempos estão mudando. Sim, estão mesmo.

Há tantas jóias nas letras de Dylan que seria necessário um tratado para rastrear o turbilhão de música, literatura, referências cinematográficas e de miscelânea Americana entrelaçados em cada verso.

Agência do Álcool, Tabaco, Armas de Fogo e Explosivos

Trata-se, essencialmente, de um mantra encantatório com um arranjo para piano, percussão esparsa e violino. Temos dois narradores: um Kennedy moribundo:

“No banco de trás, ao lado de minha mulher
Rumando direto para o além
Tombo para a esquerda, minha cabeça em seu colo
Ó, Deus, me armaram uma cilada”

“Ridin’ in the backseat next to my wife
Headin’ straight on in to the afterlife
I’m leanin’ to the left, got my head in her lap
Oh Lord, I’ve been led into some kind of a trap

E o próprio Dylan.

Ou isso pode ser lido como Dylan no papel do duplo de Kennedy, com intervenções ocasionais, como as dos supostos assassinos:

“Então estouraram seus miolos ainda no carro
Abatido como um cão em plena luz do dia
Questão de timing, e o timing foi preciso
Você tem dívidas a pagar, e viemos cobrar
Vamos matar você com ódio e sem o menor respeito
Vamos zombar de você, e chocar você e rir na sua cara
Já temos alguém para pôr no seu lugar”

Then they blew off his head while he was still in the car
Shot down like a dog in broad daylight
Was a matter of timin’ and the timin’ was right
You got unpaid debts we’ve come to collect
We gonna kill you with hatred, without any respect
We’ll mock you and shock you and we’ll grin in your face
We’ve already got someone here to take your place

A pérola no coração do mantra é nada menos que apocalíptica:

“Mataram ele uma vez, mataram ele duas vezes
Mataram como num sacrifício humano
No dia em que mataram ele alguém me disse:
‘Filho, a era do Anticristo está só começando’”

They killed him once and they killed him twice
Killed him like a human sacrifice
The day that they killed him someone said to me,
‘Son, The Age of the Antichrist has just only begun’

Qualquer palavra adicional para definir a canção seria desnecessária. Onde quer que você esteja no Planeta Quarentena, recoste-se, entre em modo trancado em casa/socialmente distanciado, ligue o som, sintonize e  viaje no tempo.  Haverá sangue nas faixas.

Escute a nova música de Bob Dylan


por Pepe Escobar, Jornalista e correspondente de várias publicações internacionais   |   Texto em português do Brasil

Exclusivo Editorial PV / Tornado


 

Receba a nossa newsletter

Contorne o cinzentismo dominante subscrevendo a nossa Newsletter. Oferecemos-lhe ângulos de visão e análise que não encontrará disponíveis na imprensa mainstream.

- Publicidade -

Outros artigos

- Publicidade -

Últimas notícias

Mais lidos

Uma Aventura | Na Caixa

Manuel de Azevedo

Auto-retrato, Pablo Picasso

Mentores espirituais

- Publicidade -