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Sexta-feira, Julho 26, 2024

Como combater a violência doméstica em meio ao confinamento da Covid-19

Marcos Aurélio Ruy, em São Paulo
Marcos Aurélio Ruy, em São Paulo
Jornalista, assessor do Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo

Especialistas do mundo todo indicam o confinamento como a melhor maneira de evitar a rápida disseminação da Covid-19. No entanto, várias organizações não governamentais (ONGs) e a Organização das Nações Unidas (ONU) indicam um aumento da violência doméstica contra mulheres, crianças e adolescentes.

Preocupados com o aumento da violência doméstica no mundo, a ONU Mulheres e o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) propõem algumas medidas preventivas como o treinamento de equipes de saúde, educação e serviços para crianças sobre a prevenção de exploração, abuso sexual e negligência e como denunciar as agressões, sem risco para quem denuncia.

Às mulheres e meninas as dicas são o compartilhamento com amigas, pessoas próximas ou vizinhas denunciando as agressões. Pode-se combinar um sinal (tipo um emoji) em caso de emergência, além de manter o celular sempre carregado e conectado à internet e “se tiver carro, deixar com gasolina, as chaves na ignição” para facilitar o caso de necessidade de fuga.

O problema já começa com a sobrecarga de trabalho crescente com o isolamento, pois “os homens não costumam dividir as tarefas domésticas no Brasil”, afirma Celina Arêas, secretária da Mulher Trabalhadora da Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB).

Em nosso país, de acordo com pesquisa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), no ano passado as mulheres dedicaram 18,5 horas semanais, em média aos afazeres domésticos e os homens 10,3 horas, além de haver mais de 11 milhões de mulheres chefes de família.

No caso da violência doméstica em si, que já é gigantesca, aumentou 17%, de acordo com o Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos. O próprio ministério promete a ampliação do “alcance dos serviços do Disque 100 e do Ligue 180 para o meio digital com o lançamento do aplicativo Direitos Humanos Brasil e de portal exclusivo”.

Segundo o Anuário Brasileiro de Segurança Pública 2019 foram registrados 237.067 casos de violência doméstica em 2018 no país, um registro a cada 2 minutos. “Imagine em situação de confinamento domiciliar?”, questiona Vânia Marques Pinto, secretária de Políticas Sociais da CTB.

Isabella Quintana/Pixabay

Para Celina, “o Estado deve tomar medidas urgentes de proteção das mulheres, crianças e jovens com facilitação de acesso aos canais de denúncia e amplo funcionamento dos órgãos de assistência e repressão ao crime de gênero, racial e contra a infância”.

Se a situação já era gravíssima antes do confinamento como mostra um levantamento feito pelo Datafolha, que aponta para a exorbitância de 16 milhões de mulheres acima de 16 anos terem sofrido algum tipo de violência, em 2018, sendo 3% ao se divertir num bar, 8% no trabalho, 8% na internet, 29% na rua e 42% em casa.

Lembrando ainda que em 2018 ocorreram 66.041 estupros, com 4 meninas de até 13 anos estupradas por hora e a maioria dentro de casa. Ocorreram também 1.206 crimes notificados como feminicídio com 88,8% deles cometidos por companheiros ou ex-companheiros.

“A situação já é alarmante e as mulheres precisam encontrar meios de se defender com apoio do Estado para coibir a violência e reprimir os agressores”, reforça Gicélia Bitencourt, secretária da Mulher da CTB-SP.

Ainda em 2018, o Ligue 180 recebeu 92.663 denúncias de agressões às mulheres. “Esse tipo de violência é fruto da sociedade patriarcal, amplamente machista e violenta contra a infância e a juventude”, afirma Luiza Bezerra, secretária da Juventude Trabalhadora da CTB. “Ser jovem no Brasil é um desafio constante”.

Para se ter uma ideia, o Atlas da Violência 2018 aponta para 324.967 jovens, entre 15 e 29 anos, assassinados no país, já o Anuário Brasileiro de Segurança Pública 2019 mostra que a polícia matou 6.220 pessoas em 2018, sendo 99,3% homens, 77,9% entre 15 e 29 anos e 75,5% negros.

E para quem pensa que a violência doméstica afeta apenas as mulheres que não trabalham fora, 52,2% das vítimas são compostas por mulheres economicamente ativas, alerta estudo do Instituto de Pesquisa Econômica e Aplicada, de 2019.

“Todos os Estados devem fazer esforços significativos para lidar com a ameaça da COVID-19, mas sem deixar para trás mulheres e crianças vítimas de violência doméstica, já que isto poderia levar a um aumento da violência doméstica, incluindo feminicídios provocados por parceiros”, alerta Dubravka Simonovic , relatora especial da ONU sobre Violência contra a Mulher.

Pexels/Its Me Neosiam/Creative Commons

Outra pesquisa feita pelo Datafolha, encomendada pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública, mostra que 536 mulheres foram agredidas fisicamente a cada hora com socos, empurrões ou chutes, em 2018 e apenas 52% das vítimas não denunciou o algoz. Isto sem o confinamento.

“É importante, neste momento, a promoção de intensas campanhas educativas aliadas aos mecanismos de proteção e de isolamento dos agressores com mais investimentos em políticas de prevenção e repressão à violência de gênero, acentua Berenice Darc, secretária de Relações de Gênero da Confederação Nacional de Trabalhadores em Educação.

Celina finaliza com insistência para o fortalecimento dos mecanismos de denúncia anônima. Ela assinala que o Brasil tem as tristes marcas de ser o quinto país mais violento contra as mulheres e o primeiro que mais mata LGBTs. “Todas as pessoas devem ter a segurança de denunciar esse tipo de crime, seja a própria vítima ou quem tenha conhecimento da violência”.


Texto em português do Brasil


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