Desta vez uma seleção com a presença da rica diversidade cultural do país. Mas uma voz uníssona em defesa da vida, da liberdade e do respeito ao diferente.
Meu Lugar
Arlindo Cruz conclui que o melhor lugar:
“é cercado de luta e suor
Esperança num mundo melhor
E cerveja pra comemorar”.
Quem não quer poesia, um samba para dançar e a vida para levar com muita garra e disposição de tudo mudar?
Meu Lugar, de Arlindo Cruz e Mauro Diniz
O meu lugar
É caminho de Ogum e Iansã
Lá tem samba até de manhã
Uma ginga em cada andarO meu lugar
É cercado de luta e suor
Esperança num mundo melhor
E cerveja pra comemorarO meu lugar
Tem seus mitos e seres de luz
É bem perto de Osvaldo Cruz
Cascadura, Vaz Lobo e IrajáO meu lugar
É sorriso, é paz e prazer
O seu nome é doce dizer
Madureira, iá laiá
Madureira, iá laiáO meu lugar
É caminho de Ogum e Iansã
Lá tem samba até de manhã
Uma ginga em cada andarO meu lugar
É cercado de luta e suor
Esperança num mundo melhor
E cerveja pra comemorarO meu lugar
Tem seus mitos e Seres de Luz
É bem perto de Osvaldo Cruz
Cascadura, Vaz Lobo e IrajáO meu lugar
É sorriso, é paz e prazer
O seu nome é doce dizer
Madureira, iá laiá
Madureira, iá laiáDoce lugar
Que é eterno no meu coração
E aos poetas traz inspiração
Pra cantar e escreverAi, meu lugar
Quem não viu Tia Eulália dançar?
Vó Maria o terreiro benzer?
E ainda tem jongo à luz do luarAi, meu lugar
Tem mil coisas pra gente dizer
O difícil é saber terminar
Madureira, iá laiá
Madureira, iá laiá
MadureiraEm cada esquina, um pagode, um bar
Em Madureira
Império e Portela também são de lá
Em MadureiraE no Mercadão você pode comprar
Por uma pechincha, você vai levar
Um dengo, um sonho pra quem quer sonhar
Em MadureiraE quem se habilita, até pode chegar
Tem jogo de ronda, caipira e bilhar
Buraco, sueca pro tempo passar
Em MadureiraE uma fezinha até posso fazer
No grupo dezena, centena e milhar
Pelos 7 lados eu vou te cercar
Em MadureiraE lalalaia, lalaia, lalaia
E lalalaia, lalaia, lalaia
E lalalaia, lalaia, lalaia
Em MadureiraIá, laiá, em Madureira
Preta Rara
Nascida em Santos, Joyce Fernandes se transformou na Preta Rara do rapper paulista. “As pessoas me falam: ‘nossa, Preta, você é muito pesada quando fala, vai lá no fundo mesmo’. E desde criança escuto minha mãe dizer que sou muito agressiva”, disse à revista Cult, em 2017.
A força de suas letras retratam as mazelas de um país com uma elite sórdida e arcaica. O sofrimento das mulheres negras na hipocrisia de uma sociedade racista e patriarcal, com mentalidade escravista em pleno século 21.
Ela escreveu o livro “Eu, Empregada Doméstica”, depois da grande repercussão da postagem que fez em redes sociais sobre sua vida como trabalhadora doméstica, como tinha sua mãe. A crueldade de patroas e patrões contadas em diversas histórias de muitas trabalhadoras que se identificaram com o que ela postou, a levou ao livro.
Negra Sim, de Preta Rara
Mulher negra brasileira codinome mulata
Nos comparavam com um ser sem alma
Pra gringos somos atração
Se vem de fora Jão, já querem pôr a mão
No carnaval eu represento, samba no pé
eu mostro meu talento
Mas não confunda não se iluda
Eu tenho alma e coração e não sou feita só de bunda
Épocas passadas nós fomos usadas
Pros portugueses quando eles não arrumavam nada
Se encantavam com a pele escura
Quando não estava com as negras
eles usavam as mulas
Sendo assim o nome surgiu
Generalizando toda preta do Brasil
É um esculacho é o que eu acho
Se vou pra fora minha carne tem um preço alto
Se me chamarem de neguinha, assim me anima
Mas se chama de mulata ai arruma briga
Pela pele pelo cabelo tirarão conclusões
A hipocrisia impera no meio dos vilões
Vou falar bem ato pra todo mundo ouvir
Sou fruto dessa terra que a cor predomina sim
Não tenha vergonha do que você é
Se eu não tive orgulho, não estaria de pé
Sou mais uma mulher negra que relata
Sou muito mais do que uma simples mulataNegra Sim, não sou mulata
Hei! Corrijam suas palavras (Refrão)
Negra Sim, não sou mulata
Nós somos negras não importa o que hajaNo país do carnaval olha o que já mudou
A pretinha, Jão, já tem o seu valor
Não chega a tanto com um jogador de futebol
Tudo que consegue um filho por baixo do lençol
Vira famosa na TV fazendo graça
Protagonista negra ganha pra apanhar na cara
É xingada pela cor e o cabelo pixaim
Se olha no espelho e não tenha vergonha de si
Se não tenho razão venha me corrigir
Meu rap é pesado fazendo você agir
Se minha voz em algum momento falhar
Se junte a nós e faça continuar
O que somos, o que merecemos
Aceitando a sua cor até não querendo
Se no passado sofremos, hoje vai ser diferente
Tratadas como mulher preta que pesa na menteNegra sim, não sou mulata
Hei! Corrijam suas palavras (Refrão)
Negra sim, não sou mulata
Nós somos negras não importa o que hajaInspiração papel e caneta na mão
Vou escrever a real sem esquecer de nada não
Não vou deixar ninguém me humilhar
Pela cor que tenho, pelo jeito de falar
Se não entende o porquê da minha revolta
Preste atenção
Olhe a sua volta
Oportunidade de emprego não é pra qualquer um
Sem o cabelo liso não arrumo trampo algum
É assim que a sociedade nos trata
Valor é só no carnaval, quando acaba isso passa
Eu me esforço eu estudo e tenho educação
Não sou menos que loira, sem discriminação
O negão não é nada sem uma loirinha
E os brancos não vivem sem uma pretinha
Eu não entendo o que vem acontecendo
Fugindo da raça clareando os filhos com tempo
Movimento negro as muitos por aqui identifique-se
Informe-se sobre si
Se quiser me condenar pensa nas suas palavras
Vou repetir
Negra sim! não sou mulata!Negra sim, não sou mulata
Hei! Corrijam suas palavras (Refrão)
Negra sim, não sou mulata
Nós somos negras não importa o que haja
Kaê Guajajara
Kaê Guajajara, indígena da etnia Guajajara, 25 anos, abraçou o rap como uma maneira de falar das aflições dos povos indígenas, numa sociedade inconsciente com predominância do egoísmo.
Ela faz parte do coletivo indígena que ocupa hoje a Aldeia Maracanã, situada ao lado do estádio de mesmo nome, na capital fluminense. Ela mistura línguas indígenas com o português e denuncia a expropriação de terras indígenas e o preconceito destruidor desses povos.
Território Ancestral, de Kaê Guajajara
Alô mãe, você sente minha falta?
Por que eu também sinto falta de mim
Alô mãe, canta que o corpo transpassa o tempo
E nos faz resistirDeixei meu cocar no quadro
Retrato falado, escrevo daqui
Num apagamento histórico
Me perguntam como eu cheguei aqui
A verdade é que eu sempre estiveVou te contar uma história real
Um a um morrendo desde os navios de Cabral
Nós temos nomes, não somos númerosPra me manter viva, preciso reexistir
Dizem que não sou de verdade
Que não deveria nem estar aqui
O lugar onde vivo me apaga e me incrimina
Me cala e me torna invisívelA arma de fogo superou a minha flecha
Minha nudez se tornou escandalização
Minha língua mantida no anonimato
Kaê na mata, Aline na urbanizaçãoMesmo vivendo na cidade
Nos unimos por um ideal
Na busca pelo direito
Território ancestralVou te contar uma história real
Pindorama (território ancestral)
Brasil (tekohaw)
Demarcação já!
No território ancestral
Criolo
O paulista Kleber Cavalcante Gomes virou o Criolo Doido do rapper paulistano. Atualmente é Criolo, um dos mais importantes cantores e compositores da música popular brasileira contemporânea. Presença certa na defesa dos direitos humanos, sociais e individuais. Dispensa maiores comentários.
Por isso canta que “meninos mimados não podem reger a nação”. Ele tem toda razão, Jair Bolsonaro que o diga. Dispensa maiores comentários.
Menino Mimado, de Criolo
Não, eu não aceito essa indisciplina
Acho que você não me entendeu
Meus meninos são o que você teceu
Em resistência ao mundo que Deus deu
E eu não aceito, nãoNão, eu não aceito essa indisciplina
Acho que você não me entendeu
Meus meninos são o que você teceu
Em resistência ao mundo que Deus deuEntão pare de correr na esteira e vá correr na rua
Veja a beleza da vida no ventre da mulher
Pois quem não vive em verdade, meu bem, flutua
Nas ilusões da mente de um louco qualquer
E eu não aceito, nãoNão, eu não aceito essa indisciplina
Acho que você não me entendeu
Meus meninos são o que você teceu
Em resistência ao mundo que Deus deuEu não quero viver assim, mastigar desilusão
Este abismo social requer atenção
Foco, força e fé, já falou meu irmão
Meninos mimados não podem reger a naçãoEu não quero viver assim, mastigar desilusão
Este abismo social requer atenção
Foco, força e fé, já falou meu irmão
Meninos mimados não podem reger a nação
Meninos mimados não podem reger a nação
Filipe Catto
Filipe Catto é um cantor e compositor gaúcho. Defende a causa LGBT e mistura variados sons. Ele canta:
O que o tempo vai falar de nós, quando o dia amanhecer?
O que dirão cortinas e lençóis, os beijos sem iguais quando a história se escrever?
O que o cinema vai falar de nós, quem vai nos interpretar?
Quantos livros vão arder para nos contradizer quando a noite arrebentar?
Depois de Amanhã, de Filipe Catto e Paulinho Moska
O que o tempo vai falar de nós, quando o dia amanhecer?
O que dirão cortinas e lençóis, os beijos sem iguais quando a história se escrever?
O que o cinema vai falar de nós, quem vai nos interpretar?
Quantos livros vão arder para nos contradizer quando a noite arrebentar?
Depois de amanhã, depois de amanhã, depois…
Depois de amanhã, depois de amanhã, depois…O que o tempo vai falar depois, dessa cama naufragar?
Dos espelhos refletirem sons, do chão se partir em dois, da poeira espantar?
Que lembranças vão sobrar de nós, se não há como adiar
Não há como te expirar de mim, nem respirar o bastante pra estender esse fim
Depois de amanhã, depois de amanhã, baby depois de amanhã…
Depois de amanhã, depois de amanhã, depois de amanhã…
Texto em português do Brasil
Receba a nossa newsletter
Contorne o cinzentismo dominante subscrevendo a Newsletter do Jornal Tornado. Oferecemos-lhe ângulos de visão e análise que não encontrará disponíveis na imprensa mainstream.