O vídeo da reunião ministerial de 22 de abril revela as entranhas fascistas do governo Bolsonaro, e a intenção do capitão-presidente em intervir na Polícia Federal para proteger familiares e amigos ante as investigações em andamento.
O vídeo mostra, entre outras coisas, que Bolsonaro acusou, naquela reunião escandalosa, a Polícia Federal do Rio de Janeiro de perseguir sua família. Quem pode assisti-lo classifica o vídeo de “devastador para o presidente”.
A repercussão do vídeo – cuja liberação depende de decisão do ministro Celso de Mello, do STF, relator do caso naquela Corte, que o assistiu na segunda-feira (18) – diz que ele é profundamente negativo para a imagem do governo e do presidente Bolsonaro; muitos o veem como demonstração da degeneração do governo.
Deputados federais, juristas, comentaristas políticos e outras personalidades – são unânimes em ressaltar o escândalo da reunião de um governo sem decoro, e que não tem nenhum respeito ao que se acostuma designar como a “liturgia do cargo”.
O deputado Márcio Jerry (PCdoB-MA) ressalta que a Polícia Federal existe para “proteger de criminosos e não proteger os criminosos.” E proclama: “Solta o vídeo, ministro!”. Quem pode assisti-lo revela que, no vídeo, Bolsonaro, aparece dizendo que precisava “saber das coisas” que ocorriam na Polícia Federal do Rio de Janeiro e que suas investigações não podem “prejudicar a minha família” nem “meus amigos”. Comportamento em que, acusa o deputado Orlando Silva (PCdoB-SP), Bolsonaro “deixou de ser presidente e virou chefe mafioso”. A deputada Professora Marcivânia (PCdoB-AP) – que assistiu à exibição no Instituto Nacional de Criminalística – acusa Bolsonaro de dizer que gostaria de substituir o superintendente da Polícia Federal do Rio de Janeiro e que demitiria até o então ministro da Justiça Sergio Moro caso não pudesse fazer isso.
O caráter pró-fascista do governo Bolsonaro é demonstrado também nos pedidos de prisão ilegais e abusivos feitos naquela reunião. Damares Alves, ministra da Mulher, Família e Direitos Humanos, pediu a prisão de prefeitos e governadores, e o ministro da Educação, Abraham Weintraub, chamou os ministros do STF de “filhos da puta” que “tinham que ir para a cadeia”.
“As entranhas autoritárias e perigosíssimas desse governo expostas”, disse a deputada comunista Jandira Feghali (RJ).
Bolsonaro e muitos ministros usaram, na constrangedora reunião, palavras duras e palavrões. Bolsonaro estava em “dia de fúria”, disse um participante da reunião. O chefe do executivo disse: “Não vou esperar foder alguém da minha família. Troco todo mundo da segurança. Troco o chefe, troco o ministro”. Reclamou de “apanhar sozinho” e que, se fosse preciso, chamaria as Forças Armadas “para evitar um golpe”. Citou inimigos políticos com palavras de baixo calão e chamou os governadores João Doria (PSDB-SP) e Wilson Witzel (PSC-RJ), de “bosta” e “estrume”.
A falta de compostura do inquilino do Palácio do Planalto e seus cupinchas demonstra mais uma vez, e de forma muito clara, seu desrespeito às instituições, à divisão constitucional e harmonia dos poderes – numa ação que vai, além do golpismo, à tentativa de impor o fascismo que foca, na figura do presidente, o exercício do poder. Isto, no meio de uma pandemia que já matou cerca de 20 mil brasileiros, significa, além do atentado à democracia e ao Estado Democrático de Direito, o desprezo pela vida – e repete o grito dos fascistas espanhóis: “viva la muerte.”
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