As cinco canções destacadas nos remetem ao trabalho como a essência da vida. Tudo gira em torno dele e nada pode mudar para valer sem a presença da classe trabalhadora. Necessário destacar que a arte tem o poder de ajudar na transformação do mundo.
Cazuza
O que seria de nós pobres mortais sem a criatividade mordaz de Agenor de Miranda Araújo Neto, o nosso Cazuza (1958-1990). Começou carreira com o grupo Barão Vermelho nos anos 1980 e não parou de brilhar e ainda brilha, mesmo 30 anos após a sua morte.
Vai à luta mostra a sua acidez lúcida contra um mundo hipócrita e caótico.
“O pessoal gosta de escrachar
De ver a gente por baixo
Pra depois aconselhar
Dizer o que é certo e errado
Eu te avisei: Vai à luta
Marca teu ponto na justa
Eu te avisei: Vai à luta
Marca teu ponto na justa
O resto deixa pra lá
Deixa pra lá”.
Cazuza dispensa maiores comentários.
Vai à luta (1987), de Cazuza e Rogério Meanda
Chico Science
Outro grande nome da música popular brasileira é o pernambucano Francisco de Assis França, conhecido como Chico Science (1966-1997), talvez o principal criador do manguebeat, em 1991, movimento de contracultura surgido no Brasil a partir de 1991 em Recife (Pernambuco), que mistura ritmos regionais, com rock, hip hop, funk, soul e música eletrônica. Som sem igual que permanece com o grupo Nação Zumbi, do qual ele fazia parte e outros.
Em A Cidade ele canta que:
“E a cidade se apresenta
Centro das ambições
Para mendigos ou ricos
E outras armações
Coletivos, automóveis,
Motos e metrôs
Trabalhadores, patrões,
Policiais, camelôs
A cidade não para
A cidade só cresce
O de cima sobe
E o de baixo desce”.
A Cidade (1993), de Chico Science
Liniker
Liniker de Barros Ferreira Campos, conhecida como Liniker, é de Araraquara, no interior de São Paulo. Mulher transgênero, ela canta o cotidiano e o afeto. Mescla soul, jazz e samba e com sua voz potente apresenta um trabalho singular na MPB.
Os versos “Ouvi dizer que colocaram meu amor numa estante de brechó/Passe de lá e pegue ele pra mim/Borde, pinte, reinvente como tudo que você já faz” estão em Brechoque. Vale apreciar com atenção.
Brechoque (2019), de Liniker
Almir Sater
O sul-matogrossense Almir Sater, está na estrada da música sertaneja profissionalmente desde 1981, com inúmeros grandes sucessos, tem uma carreira consolidada e um estilo ímpar. Em Tocando em Frente divide a autoria com o paulista Renato Teixeira, outro grande nome da música sertaneja.
“Ando devagar
Porque já tive pressa
E levo esse sorriso
Porque já chorei demais
Hoje me sinto mais forte
Mais feliz, quem sabe
Só levo a certeza
De que muito pouco sei
Ou nada sei”,
se todas as pessoas seguissem os versos de Tocando em Frente, o mundo seria outro com certeza.
Tocando em Frente (1992), de Almir Sater e Renato Teixeira
Noel Rosa
Um dos maiores nomes da música popular brasileira morreu antes de completar 27 anos, mas suas canções jamais esquecidas tamanho o seu valor rítmico e poético. Noel Rosa (1910-1937), da Vila Isabel para o mundo. Subiu o morro e bebeu na fonte o samba que se fortaleceu ainda mais com sua poesia urbana. Em tão pouco tempo deixou centenas de músicas para a eternidade.
A palavra cantada de Três Apitos toca fundo: “Mas, você anda/Sem dúvida, bem zangada/E está interessada/Em fingir que não me vê/Você que atende ao apito/De uma chaminé de barro/Por que não atende ao grito, tão aflito/Da buzina do meu carro?”. Feliz da musa do grande poeta da Vila Isabel, no Rio de Janeiro.
Três Apitos (1933), de Noel Rosa; canta Maria Bethânia
Texto em português do Brasil
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