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Sábado, Novembro 2, 2024

A sutileza do fascismo

Beatriz Aquino
Beatriz Aquino
Formada em Publicidade e Propaganda. É escritora e atriz de teatro. Nascida no Brasil a viver em Portugal.

O nosso clown. O representante mor da nossa mais íntima e primitiva barbárie. Protegido e ancorado por um subliminar fascismo. O futuro é o reproduzir de um tosco passado. Tosco e sem qualquer originalidade. O que teremos à seguir é bem óbvio.

Queria mesmo era desenhar os contornos do globo com o lápis e com minhas palavras recriar novas espécies. Seres luminosos que haveriam de governar o mundo das larvas. E toda contundência do mundo haveria de não existir. Os governantes virariam pó químico e só ganhariam vida se os hidratássemos com a água da nossa ignorância. – e já não é assim? – Escolheríamos ressuscita-los de tempos em tempos para que desfilassem em marcha fúnebre e cômica. Riríamos de suas carrancas e as crianças usariam seus rostos como máscaras de Halloween.

Riríamos também da nossa estupidez pretérita onde fuzis eram adereços comuns e onde joelhos de autoridades obstruíam o ar das artérias de homens negros. E então não teríamos uma terça feira negra, nem carros queimando em labaredas coloridas.

Sim, nesse mundo que inventaria com minhas palavras não haveria formas. A forma é a régua mais cruel que existe porque ao delimitar espaços, corta também a cabeça de seres pensantes, seres que sentem. E a rígida organização não foi feita para sentir.

Vejo pessoas caminhando nas ruas. Cada qual com suas rasas convicções. Ninguém faz a menor ideia do que se passa. Estamos todos órfãos de entendimento. Se eu fosse um raio, cairia na cabeça do homem mais vil. Ou sobre a criatura mais inocente. Para poupa-la desse grande constrangimento.

Não quero ser enfática ou má. Mas sou os dois. Há equações bem simples de entender. Veja:

  1. Tira-se a educação de um povo.
  2. Instala-se o medo nas ruas.
  3. Um ditador moderno profere impropérios impensáveis com ar de divertimento.
  4. Guia-se os dedos da grande massa nas urnas.
  5. Troca-se um governo corrupto por um governo corrupto e violento.

E temos o resultado. O nosso clown. O representante mor da nossa mais íntima e primitiva barbárie. Protegido e ancorado por um subliminar fascismo.

E o futuro é o reproduzir de um tosco passado. Tosco e sem qualquer originalidade. O que teremos à seguir é bem óbvio.

Governa-se com mãos de ferros as almas fracas, desinformadas e omissas. E queima-se em branda fogueira, mulheres como eu.

No entanto, o verbo é força que não cala.

Eis aqui o meu…


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