É necessário pensar em todos – as populações mártires de Cabo Delgado, ou do Irão, como todas as outras vítimas do jihadismo – e ver com eles as formas de defender os sagrados valores da vida e da dignidade humana.
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Jihad em Moçambique
A opinião pública portuguesa parece ter despertado agora para o fenómeno da Jihad em Moçambique que, como explica Fernando Jorge Cardoso no Diário de Notícias de 30 de Junho, se desenrola já há três anos, e que na verdade decorre da fundação em 2015 da secção moçambicana Ahlu Sunnah Wa-Jamo/Ansar al-Sunna, do capítulo Somali jihadista Shabaab que é hoje parte da rede do Califado.
Moçambique foi na verdade o último dos países islâmicos africanos a ser assaltado pela Jihad – e isto por uma razão muito simples, é o mais periférico – mas a cegueira ocidental é tão grande que mesmo assim se recusa a ver o óbvio e discorre longamente por uma longa lista de ‘verdadeiras razões’ que explicam o fenómeno, e que vão do tráfico de droga, herança colonial, exploração do gás e da madeira até aos conflitos étnico-religiosos e a inaptidão da autocracia governante, tudo factores importantes a ter em conta mas que obviamente não podem explicar fenómenos que têm o jihadismo como único denominados comum, dimensão planetária e que são generalizados em África.
De acordo com a principal organização de combate ao financiamento do terrorismo – Financial Action Task Force, FAFT – num relatório datado de 2016, o Jihadismo já estava então em desenvolvimento em toda a África Ocidental (incluindo na Guiné Bissau). Desde então tem-se expandido por toda a África muçulmana e mesmo por grande parte daquela onde não existe essa tradição religiosa.
As barbaridades jihadistas em Moçambique são apenas uma pequena parte dos assassínios cometidos pela Jihad no continente e que se cifram em muitos milhares, mas de que não se encontram estimativas fiáveis globais, em pleno contraste com o impacto muito maior na opinião pública das vítimas da Jihad no Ocidente, muito menos numerosas, num reflexo do desprezo pela vida dos africanos que me parece intolerável.
A Jihad é hoje o principal instrumento de massacre das populações africanas, e é de resto também a recordista noutras desumanidades, como o seja a escravatura que aberta e massivamente se pratica hoje na Líbia e que ressurge um pouco em todo o continente, bem como a misoginia e o pedo crime.
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Black Lives Matter ou Black Lives Do not Matter?
Fundada há seis anos e de âmbito global, a organização denominada de ‘Black Lives Matter’ pelo seu nome, parecia moldada para modificar este estado de coisas: chamar a atenção para o facto de o Jihadismo provocar incomensuravelmente mais mortos em África do que na Europa ou nos EUA, que a escravatura continua e se desenvolve nessas latitudes, que o Ocidente parece mais propenso a fechar os olhos sobre os crimes cometidos mais longe – como por exemplo em África – na esperança de que os criminosos saciem aí os seus instintos.
Na verdade, nada disto foi feito mas, pelo contrário, a organização concentrou-se nas violações de direitos e crimes cometidos contra camadas mais pobres e menos influentes da população ocidental, onde a população de origem africana está sobre representada. Passou daí para a conclusão, assaz discutível, de que essas políticas ocidentais teriam por único fio condutor o ‘racismo’ perante populações africanas.
Passou daí ainda para uma reescritura da história pela qual racismo, esclavagismo e imperialismo seriam invenções e exclusivos das nações que têm hoje regime democráticos, pelo que os que as nações submetidas a regimes autocráticos deviam ser absolvidas desses pecados, mesmo quando, como é o caso de muitas delas, racismo, esclavagismo e imperialismo não são heranças do passado, mas antes realidades do presente.
O regime iraniano – que ainda há poucos meses assassinou mil e quinhentos jovens envolvidos em protestos e que todos os dias enforca e condena à pena capital muitos dos sobreviventes – aparece assim como um dos patrocinadores máximos desse movimento que se chama, absurdamente, de ‘Blacks Life Matter’. Em Bruxelas, sob essa bandeira, hordas protonazis exigindo o massacre dos judeus manifestam-se abertamente, sem estados de alma pelo facto de os seus promotores iranianos promoverem igualmente o NPD, partido Nazi alemão para o mesmo efeito, sem disfarce ou pinturas de vermelho.
Nesta sórdida mascarada, o que é óbvio é que os que se autointitulam de ‘Black Lives Matter’ têm como característica central o total desprezo pela vida dos Africanos, que são utilizados como carne para canhão numa guerra em que têm sido eles as principais vítimas.
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O racismo da psicose ocidental
A psicose ocidental que leva a sério esta grotesca manifestação de hipocrisia é cúmplice dos seus crimes. Ela procura aliviar a sua consciência pelo seu apaziguamento dos crimes do Jihadismo e outras ideologias totalitárias aceitando a charada pseudo-histórica do derrube dos símbolos do passado histórico das nações que são hoje democráticas.
É necessário dizer que essa psicose ocidental é claramente racista; que ela procura esconder o desprezo pela vida dos africanos massacrados ou escravizados no Continente ou afogados na sua tentativa de fugir ao martírio.
A alternativa é a de não fechar os olhos nem embarcar em fantasias, mas ver bem a realidade. As reformas necessárias no Ocidente para com os seus cidadãos marginalizados – e que passam necessariamente por uma justiça cheia de garantias a quem tem meios e vazia para quem não os tem – devem ir de mão em mão com a solidariedade para com os povos que enfrentam a barbárie, e nomeadamente, a barbárie ideologicamente mais vasta que é a do Jihadismo.
É necessário pensar em todos – as populações mártires de Cabo Delgado, ou do Irão, como todas as outras vítimas do jihadismo – e ver com eles as formas de defender os sagrados valores da vida e da dignidade humana.
Porque a vida de todos os seres humanos, africanos ou não, tem de ser a maior preocupação política de todos os humanistas.
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