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Sábado, Novembro 2, 2024

Personagens femininas mostram o empoderamento da mulher em diferentes filmes

Marcos Aurélio Ruy, em São Paulo
Marcos Aurélio Ruy, em São Paulo
Jornalista, assessor do Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo

“Quem não tem cinema caça com Netflix”. Alguém me disse essa frase e para contemplar o pedido de várias pessoas para a indicação de filmes nestes tempos de quarentena por causa da pandemia do novo coronavírus. Dá para destacar algumas obras que estão na plataforma norte-americana, infelizmente disponível somente para quem paga.

Mas sem poder sair de casa e com os cinemas fechados somente quem tem acesso à internet pode procurar filmes pelo YouTube, online e pela Netflix ou ter TV a cabo e, mesmo assim com dificuldade para ter boas obras disponíveis.

Quatro filmes, de diferentes nacionalidades, disponíveis na Netflix ou produzidos por essa empresa mostram fortes personagens femininas para mostrar como é possível transformar a vida com todas as suas imprevisibilidades.

Nada muito dramático ou pesado para este momento angustiante de isolamento social, mortes pela Covid-19 e um presidente no Brasil que não está nem aí para a vida, principalmente a vida dos mais pobres.

No brasileiro Aquarius (2016), de Kleber Mendonça Filho (Bacurau), a protagonista Clara (Sonia Braga) é a única moradora a se manter em um antigo edifício próximo à praia de Recife. A especulação imobiliária quer o terreno para a construção de um grande empreendimento imobiliário.

As tentativas da construtora em minar a resistência de Clara representam os artifícios de capitalistas para aumentar seus lucros sem dar importância à vida, aos sentimentos, à natureza e menos ainda preocupam-se com a dignidade de quem vive de sua força de trabalho. A burguesia sempre fede em todos os lugares.

O filme foi hostilizado pelo governo de Michel Temer por denunciar no Festival de Cannes, na França, o golpe de Estado de 2016 com grandes riscos para a jovem democracia brasileira. Por isso, foi preterido pelo Ministério da Cultura e não representou o Brasil no Oscar. Quem ainda não assistiu tem a oportunidade, quem já viu pode rever essa grande obra.

A diretora e roteirista de Você Nem Imagina (2020) conta que baseou a sua obra original da Netflix em uma história vivenciada por ela. A trama se passa em uma cidade do interior no Estados Unidos. A protagonista Ellie Chu (Leah Lewis) é uma adolescente, filha de um engenheiro chinês, viúvo e depressivo.

O desenrolar do filme tenta a desconstrução de clichês com o relacionamento de Ellie com Paul (Daniel Diemer), jogador do time do colégio de futebol americano e Aster (Alexxis Lemire), formando um trio inimaginável à primeira vista.

As descobertas da adolescências, os clichês hollywoodianos de estudantes nerds versus populares e atletas são desconstruídos quando a tentativa de aproximação feita por Paul com Aster (a bela da turma) o aproxima de Ellie, que ganha dinheiro escrevendo as redações para os colegas.

A obra mostra como o desabrochar da sexualidade vai muito além do conceito binário de macho e fêmea e as descobertas são fundamentais para o crescimento de cada um, principalmente nessa fase da vida.

O francês Jovem e Bela (2013), de François Ozon também trata de sexualidade. Isabelle (Marine Vacth) é uma menina de classe média em Paris, que resolve ganhar dinheiro com o sexo. Busca informação pela internet, cria um pseudônimo e vai à caça de clientes.

Com menos de 18 anos e pouquíssima experiência, mas com uma sagacidade peculiar passa por constrangimentos, mas não desiste da “profissão” que escolheu. Um acidente de percurso revela a sua identidade profissional e choca a família.

Apesar da pouca idade, Isabelle está determinada a ser dona de seu destino e se propõe a tudo para chegar onde quer. O filme foge de estereótipos e mostra a importância de liberdade e diálogo no relacionamento entre pais e filhos e de discussão sobre as questões de gênero na escola.

Como uma comédia meio musical romântica, o filme indiano Queen (2014) mostra a força do cinema do país asiático, o segundo mais habitado do mundo. O diretor Vikas Bahl consegue levar à reflexões importantes ao mostrar o empoderamento de sua protagonista Rani (Kangasna Ranaut), que significa rainha, que se transforma da água para o vinho.

Rani é uma indiana de classe média alta pronta para casar, quando o seu noivo Vijay (Rajkummar Rao) desiste de casar com ela, dois dias antes do casamento. Ela tem tudo para desabar.

Logicamente ela sofre, mas depois resolve viajar sozinha para a lua de mel em Paris (França), onde encontra VIjaayalakshmi (Lisa Haydon) quando começa a sua transformação coma nova amizade com a empoderada camareira. Lembra um pouco a música Olhos nos Olhos, de Chico Buarque: “Quando você me deixou disse pra ser feliz e passar bem, quase enlouqueci. Quando me quiser rever vai me encontrar refeita, podes crer”.

As transformações são visíveis no rosto e no corpo de Rani para mostrar a importância de estarmos bem com nós mesmos e assim poder compartilhar a vida e os sentimentos com outras pessoas. Em Amsterdã, na Holanda, divide o quarto de um hostel com três imprevisíveis homens. Um japonês, um russo e um francês.

Ela descobre novas perspectivas de vida e amadurece, deixando para trás a mulher submissa à família, às instituições e ao noivo, quase marido. Em um diálogo entre o casal quando Vijay tenta a reconciliação mostra a dinâmica do filme, muito bem roteirizado e dirigido, quando ele diz que ela não poderia ser feliz sem ele. Mas Rani vai além.


Texto em português do Brasil


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