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João de Sousa

Domingo, Novembro 3, 2024

Porquê?

Editorial - Porque é que porquê?

Dizem as regras básicas do jornalismo que perguntar é essencial para adquirir saber. A curiosidade é também a regra primordial para a evolução do ser humano e aquela que a Escola deve estimular mais no aluno, elevando-a ao expoente máximo na universidade, se quisermos ter cidadãos interventivos, participativos, que façam mover o mundo. A idade dos porquês, habitualmente conotada com a infância, deve acompanhar-nos por toda a vida se pretendermos conhecer-nos melhor, conhecer o mundo e, até, responder à pergunta das perguntas: porque estamos neste mundo?

Certa vez, numa conversa com uma criança nessa fase, esforcei-me por não deixar sem resposta cada pergunta “porquê?” formulada à exaustão. A cada uma delas tentei fornecer nova explicação, resistindo ao clássico “porque sim”. Acabei vencido quando apenas consegui responder com um sorriso amarelo à pergunta terminal: “Porque é que porquê?”.

Se há coisa de que devemos orgulhar-nos é de tentarmos continuamente alimentar “a criança que há em nós”, continuando pela vida fora a buscar o porquê dos porquês.

O Jornal Tornado, também ele ainda uma criança, nasce de um parto a várias mãos das mais diversas gerações de profissionais da comunicação e com as mais variadas experiências, mas que têm em comum o facto de todas elas pertencerem a “crianças” ávidas de saber porquê. E que, como qualquer criança, têm prazer em partilhar as suas descobertas, mas não deixando de questioná-las.

Mandaria a tradição recorrer a algumas citações filosóficas ou de teóricos da comunicação, bem como anunciar que o Jornal Tornado vem “preencher um nicho de mercado” ou “colmatar uma falha no panorama mediático”. Se parece certo que, caso assim não fosse, talvez não tivéssemos razão para nascer, mais importante é explicar que é o porquê, justamente, o que nos move.

Mais do que os soundbytes e a espuma dos dias mediáticos, queremos contagiar o nosso público com a nossa curiosidade, apresentar-lhe as diferentes vertentes que a “verdade” sempre tem, questionar o “preto e branco” a que muitos reduzem o mundo, descobrir as restantes cores e matizes. Apresentar-lhe possíveis e variáveis explicações para determinada realidade, seja ela a migração de refugiados ou a transformação climatérica do planeta, seja o escândalo da indústria automóvel ou a preponderância das micro-empresas no tecido económico. Seja também o afastamento dos jovens (e não só) da participação política, a influência das redes sociais no comportamento humano ou a actuação de organizações ao serviço de interesses não declarados. E tudo o mais que faz parte ou influencia o quotidiano do cidadão comum e que, demasiadas vezes, não entra nas agendas noticiosas ou sequer políticas.

Nesta edição especial, a propósito das eleições legislativas portuguesas, ensaiamos a procura de respostas para muitos porquês que giram em torno da abstenção ao longo dos tempos. Porque surge? Porque cresce? Porque é a resposta de tantos eleitores?

Questionamos também o fenómeno das sondagens e das pseudo-sondagens, cuja credibilidade parece abalada com as recentes multiplicações de dados com bases científicas duvidosas. Porque surgem? Com que objectivos e com que efeitos? De que forma se “intrometem” aí as redes sociais e porquê?

Fizemo-lo com recurso a investigação própria e de especialistas, procurámos a opinião de conhecedores menos habituais, de modo a fornecer ao leitor novas perspectivas, por vezes de sentido oposto. Porquê? Para que, em vez de consumir a opinião formatada e massificada, veja estimulado o seu próprio sentido crítico e crie a sua própria opinião, crescendo enquanto cidadão participativo na construção da sociedade que deseja.

Queremos também saber se, de alguma forma, o leitor, o anunciante, o parceiro, se revê nesta abordagem ao mundo que nos rodeia. E porquê.

 

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