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Terça-feira, Julho 16, 2024

Pandemia reforça a necessidade de superação do complexo de vira-latas do Brasil

Marcos Aurélio Ruy, em São Paulo
Marcos Aurélio Ruy, em São Paulo
Jornalista, assessor do Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo

Pode parecer pouco, mas uma música do grupo cubano Buena Fé em homenagem ao trabalho voluntário desenvolvido pelos médicos cubanos no combate à pandemia do coronavírus em diversos países, mostra a importância da cultura na vida humana. Os médicos cubanos estão merecidamente entre os indicados ao Prêmio Nobel da Paz de 2021.

A homenagem destaca o espírito humano e de solidariedade dos povos em um momento tão crucial para a humanidade. Os médicos cubanos não medem esforços para pratica a medicina em favor de quem mais necessita.

Trecho da música canta que:

“Nós somos a mesma humanidade
Todos enfrentando o mesmo quebra-cabeça.
O que estou fazendo aqui
Amando este país como a mim mesmo”

(Israel Rojas Fiel)

 

Ao contrário do Brasil, Cuba valoriza a cultura nacional. Os cubanos sentem muito orgulho de seus artistas, de seu cinema, do teatro, da literatura, das artes plásticas, mas o orgulho maior é por sua música. A Revolução Cubana, de 1959, trouxe esse orgulho para o povo da ilha caribenha.

Não à toa disse certa vez o maestro Tom Jobim que em música popular se destacam a brasileira, a norte-americana e a cubana. “O resto é valsa”. Mesmo que seja exagerada essa citação mostra a qualidade e diversidade das músicas desses países, principalmente do Brasil, evidente. Mesmo assim, os brasileiros dão mais valor par ao que vem de fora, seja na música, no cinema, nas artes plásticas, em tudo.

Foi dessa crença de inferioridade, que surgiu a frase “complexo de vira-latas” dos brasileiros, criada pelo dramaturgo, jornalista e escritor Nelson Rodrigues (1912-1980), nos anos 1950. E como me disse certa vez o amigo Mouzar Benedito “a dominação (de uma nação) começa pela cultura. Pela destruição da identidade cultural de um povo, por isso, inclusive, se ataca a educação pública democrática e ampla”.

O que mostra a importância do papel da cultura na criação de uma identidade nacional. Por isso, Getúlio Vargas utilizou, nas décadas de 1930-40, da força emergente do rádio, de forte penetração popular e do samba para criar uma identidade nacional, que ainda engatinhava no país, com diz Roque de Souza, pesquisador de cultura popular “a força desse novo veículo e a popularidade do samba fizeram com que Getúlio utilizasse ambos de forma muito eficaz”.

Com poucos avanços, a cultura tem sido muito relegada pelos governantes brasileiros. O Ministério da Cultura foi criado somente com o fim da ditadura (1964-1985), pelo então presidente José Sarney, em 1985. Ganhou valorização durante os governos de Lula e Dilma e caiu no ostracismo com o golpe de Estado de 2016. Hoje nem ministério é mais.

O desgoverno de Jair Bolsonaro despreza a cultura porque a cultura aviva a criatividade e o espírito crítico das pessoas. Assim como menospreza os profissionais da educação pública. Como diz Darcy Ribeiro, “cultura é a herança social de uma comunidade humana, representada pelo acervo coparticipado de modos padronizados de adaptação à natureza para o provimento da subsistência, de normas e instituições reguladoras das reações sociais e de corpos de saber, de valores e de crenças com que explicam sua experiência, exprimem sua criatividade artística e se motivam para ação”.

É o elo que une intrinsecamente educação e cultura. Por isso, os conservadores detestam o ensino de Artes, de Filosofia, Sociologia, Psicologia e História. Tudo o que pode ensejar espírito consciente e crítico de uma sociedade.

Por isso, a citação da banda Buena Fé, de Cuba, um país que valoriza seus artistas e sua cultura. Já no Brasil, nestes tempos sombrios, nossos maiores artistas são desprezados e os trabalhadores da cultura se veem em situação de penúria com a demora da promulgação da Lei Aldir Blanc de emergência cultural.

Mais do que nunca é preciso valorizar a cultura em todas as suas dimensões, afinal é o que os mantêm em pé como nação.

“A novidade é que o Brasil não é só litoral
É muito mais é muito mais que qualquer Zona Sul
Tem gente boa espalhada por esse Brasil
Que vai fazer desse lugar um bom país
Uma notícia está chegando lá do interior
Não deu no rádio, no jornal ou na televisão
Ficar de frente para o mar de costas pro Brasil
Não vai fazer desse lugar um bom país”

(Notícias do Brasil, de Fernando Brant e Milton Nascimento)

 


Texto em português do Brasil


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