Seis poemas inéditos de Beatriz Aquino
Shaped
A forma
O poro
A chuva
O esquecidoOs séculos
O dilúvio
Os milênios
A secaA sede
O poro
E por fim
E por fim,
O mudo grito.
Silenciado
O silêncio do mundo
O ai de Caim
O brado dos profetas
Os passos do Cristo
A marcha fúnebre e
a nupcial
O coturno do soldado
A dança do carnavalO acervo
A arqueologia
A estupidez
A sabedoriaA febre e o frio
O estanque e o curso do rio
A erosão
O calafrioTudo cabe na pedra
Tudo cabe
Remota
À deriva,
O meteoro frio
Distante da órbita
Atravessado por estrelas apressadasPedra porosa e insípida
Gasta pelas mãos de deuses cínicos
Poeira-sinaO frio?
Nem issoA dor?
TampoucoO nada?
O nada?
Quem dera…
Lasciva
Afia a espada do bárbaro
Pole o calcanhar da donzela
Aquecida,
adormece a tez do tirano
Fria,
coalha o sangue dos aflitosNa alcova, arranha as costas da prostituta
Na estrada, alivia o calor do peregrino
Na cachoeira, mata a sede da feraE no final,
Acolhe a todos,
no escuro sem eco de suas grutas
e se faz lápide de homens e bichos
Testemunha ocular e tátil
Cínica,
hermética,
e eterna
A primeira
O altar do rabino
Fóssil a rascunhar a ética humana
O estilhaço na cabeça da adúltera
A marca no rosto do desejoO peso da mão que julga
A que rola pelos dedos frouxos da culpa
E que depois vira alicerce de casa
Brincadeira de criança
Parede de guardar incenso,
liturgia,
sermão
e nada mais…
Promiscua
Sutil e abrupta
Taberna e santuário
Passarela e claustro
Megera e santa
Madona e MadalenaGuarda nas entranhas
O coro e o lamento
A aleluia e a discórdia
Os hinos e as conspirações
As guerras e os evangelhos
A luxúria e a penitência
A hóstia e o sangue
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