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Quarta-feira, Julho 17, 2024

Morte de Luciano Hornay provoca dor e consternação em Timor-Leste

M. Azancot de Menezes
M. Azancot de Menezes
PhD em Educação / Universidade de Lisboa. Timor-Leste

Luciano Hornay, Vice-Secretário Geral do Partido Socialista de Timor (PST), faleceu um dia antes de completar 42 anos de idade. Um dos melhores quadros superiores do PST, matemático e político, militante de primeira linha, deixou viúva e quatro filhos.

Luciano Hornay, conhecido na luta clandestina pelo nome de código “Namadoras”, teve um vasto e digno percurso de vida, a ser respeitado e seguido pelas gerações vindouras.

O saudoso nasceu no dia 18 de Agosto de 1978 em Barikafa, Luro, Lospalos (ponta Leste de Timor). Após ter frequentado estudos do ensino primário e secundário, conhecido pelos amigos por ser muito metódico e possuir um raciocínio lógico, rápido e excepcional, Luciano ingressou no Ensino Superior, estudou Ciências Políticas na Universidade de Díli (UNDIL), licenciou-se em Ciências Matemáticas na Universidade Nacional de Timor Lorosae (UNTL) e concluiu o curso de mestrado em Direito na Universidade da Paz, tendo sido professor assistente na Universidade de Díli.

Desde cedo iniciou actividades na luta clandestina pela libertação de Timor-Leste. De forma militante e patriótica, Namadoras destacou-se rapidamente pela sua capacidade de gestão e organização nas estruturas políticas onde esteve envolvido e pelo rigoroso sentido de disciplina táctica e estratégica.

 

O percurso de um militante nacionalista e socialista

Em 1995, Luciano Hornay foi chamado a integrar a célula política da Associação Socialista de Timor (AST), tornando-se um elemento estratégico de ligação com a frente armada, com o Comandante Asu e o Comandante Kia.

Em conformidade com o que está documentado no livro “Timor-Leste: Sociedade, Estado e Processos Eleitorais” da autoria da Comissão Nacional de Eleições (CNE), editado em 2015, a AST foi uma estrutura política que desempenhou um papel chave no processo de luta de libertação nacional de Timor-Leste.

Efectivamente, segundo relata a Comissão Nacional de Eleições (2015):

A AST resultou da determinação de um grupo de dirigentes da Organização da Juventude Católica Comunistas de Timor-Leste (OJECTIL), fundada em 20 de Dezembro de 1981, e vinculada ao Partido Marxista-Leninista/FRETILIN, criada em 3 de Março de 1981, que, com a evolução política nacional, por sua vez, se transformou em 31 de Outubro de 1989 na Frente Estudantil Clandestina para a Independência de Timor-Leste (FECLITIL) e em 20 de Dezembro de 1981 na Associação Socialista de Timor (AST), transformando-se, em 13 de Maio de 1997, no actual PST – Partido Socialista de Timor”.

Em 1995, Luciano Hornay, de forma determinada, decidiu integrar a célula política da AST como elemento de ligação com a frente armada.

Entre 1996 e 1997, sempre sob supervisão de Avelino Coelho / Shalar Kosi F.F., actual Presidente do PST, tornou-se membro da Brigada Negra (Comando Especial das FALINTIL – Forças Armadas de Libertação Nacional de Timor-Leste para a Guerrilha Urbana) tendo actuado em Sakobil, Díli, na luta urbana e clandestina, na ligação com a Frente Armada na ponta Leste.

Em 2000, como Delegado do Município de Lospalos, logo após o Referendo, participou no primeiro Congresso Nacional do PST tendo sido eleito membro do Comité Central (1999-2004).

A partir de 2000 destacou-se pela defesa dos direitos e dos interesses dos trabalhadores e organizou de forma muito activa os Centros de Trabalho em Díli sob supervisão do PST.

No período compreendido entre 2004 e 2009, como membro do Comité Central, fez parte do Congresso Nacional do PST e da Comissão de Reorganização do partido desde 2007. Entre 2004 e 2009 desempenhou funções como Comissário Político em Viqueque. Também neste período, Luciano Hornay ajudou a estabelecer o Comité de Base do PST em Covalima/Suai, tendo, em 2007, acompanhado a Direcção do Partido nas campanhas políticas em Suai.

Desde 2007 a 2017, durante dez anos, Luciano Hornay exerceu actividades políticas de muito relevo, com destaque para o seu envolvimento nas candidaturas presidenciais do PST.

Luciano, para além de Comissário Político, foi responsável pelo estabelecimento de Cooperativas de Produção do PST em Waguia-Ossu, em Kairui-Laleia, e no serviço de formação de quadros de Direcção do partido, bem como em actividades de formação para agricultores nas áreas de cooperativas do PST.

Em Bacau, com Avelino Coelho, Azancot de Menezes e outros membros (2016)

Entre 2004 e 2009, foi Presidente do “Sindicato de Camponeses e Trabalhadores Socialistas de Timor (SBST)”, um sindicato oficialmente registado nas estruturas governamentais, e integrou a equipa da redacção e edição da Revista “Vanguarda, Militância PST”.

Em 2015 participou no Congresso Nacional do PST como Comissário Político do Município de Viqueque, tendo sido eleito para o cargo de Primeiro Vice-Secretário Geral do Partido, membro do Departamento de Orientação Política e Ideológica e membro do Bureau Político.

Luciano Hornay também integrou a equipa de redacção do jornal “Suara Socialist PST” e coordenou a distribuição do jornal ao nível nacional.

Foi candidato pelo PST para o Parlamento Nacional nas eleições gerais de 2007, 2012 e 2017, bem como candidato pelo PST nas listas da coligação Movimento Social Democrata (MSD) para as eleições gerais antecipadas realizadas em 2018, tendo-se destacado pela sua actividade nas brigadas e campanhas eleitorais do Partido.

Entre 2007 e 2012, Luciano Hornnay foi Director Nacional de Energias Renováveis na Secretaria de Estado e até à sua morte desempenhou o cargo de Director Nacional de Energias Renováveis no Ministério das Obras Públicas de Timor-Leste.

 

Manifestação em Díli contra a assinatura do Tratado do Mar de Timor-Leste

Segundo o Tratado do Mar de Timor, as fronteiras marítimas não deviam ser discutidas durante um período de 50 anos. Após este acordo houve um grande levantamento popular de contestação em Díli.

O livro da Comissão Nacional de Eleições, sobre essa matéria, refere o seguinte:

A discordância não se fez esperar e em 2002 realizou-se uma grande manifestação organizada pelo Partido Socialista de Timor (PST) que em conjunto com a sociedade civil fizeram uma concentração e greve de fome frente à Embaixada da Austrália em Díli, exigindo a renegociação do Tratado de Timor acordado entre a Austrália e a Indonésia em 1989.”

Também, nesta intervenção, Luciano Hornay teve um papel decisivo na mobilização dos militantes e na campanha de sensibilização.

Mais tarde, em 2016, realizou-se nova manifestação e Luciano Hornay esteve presente.

Manifestação em Díli contra a Austrália (2016)

Nesta manifestação de 2016, organizada pela ACBN – Associação de Combatentes da Brigada Negra, pelo PST, pelo MKOTT e por outras organizações que defendiam a definição das fronteiras marítimas, conforme ilustra a foto, pode ver-se na primeira fila, à esquerda, Hélder Lopes, um outro notável militante de causas,Vice-presidente do PST (falecido em 2017), e Luciano Hornay.

Luciano Hornay faleceu por doença no Hospital Guido Valadares, em Díli. A sua memória permanecerá nos corações dos seus familiares, camaradas e amigos mais próximos como uma pessoa íntegra, sempre com um sorriso doce e aberto, um verdadeiro companheiro, simples e solidário. Que descanse em paz.

Saudozu Lorenco Hornai Hakotu Nia Peregrinasaun Iha Mundu

Saudozu Lorenco Hornai Hakotu Nia Peregrinasaun Iha Mundu

Publicado por RTTL LIVE em Quinta-feira, 20 de agosto de 2020

 

Avelino, Presidente do PST, muito transtornado, presta a última homenagem

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