A profundidade da crise está na precarização das condições de vida do povo, ilustrada pelo aumento do desemprego e da situação paupérrima da economia informal, pelo acelerado processo de perdas de direitos e o crescente empobrecimento da classe trabalhadora.
A vulnerabilidade social é uma das marcas da crise econômica e social sem precedentes que o nosso país enfrenta. O contexto mundial, o sistema capitalista também enfrenta uma de suas mais graves crises, comparável à de 1929 que acabou gerando as condições que ajudaram a provocar a Segunda Guerra Mundial. É um dos mais dramáticos períodos da história do Brasil. Uma de suas facetas dramáticas é a maior crise sanitária dos últimos 100 anos com mais de 3.7 milhões infectados e quase 120 mil óbitos.
A verdade é que o Brasil não sairá dessa tragédia sem sequelas. Seja pela legião de desempregados ou pelos milhares de vidas perdidas, ou por outras feridas abertas na sociedade advinda da recessão econômica. É impossível prever o fim da crise, mas é possível imaginar que com o aumento da retomada do emprego, a proteção e promoção social entre outras medidas que assegurem a recuperação da economia e do curso natural da vida social no país, inicia-se a cicatrização dessa ferida.
A profundidade da crise está na precarização das condições de vida do povo, ilustrada pelo aumento do desemprego e da situação paupérrima da economia informal, pelo acelerado processo de perdas de direitos e o crescente empobrecimento da classe trabalhadora. Com a crise sai da invisibilidade o Brasil real e vem à tona o significado da fome, da superlotação nos abrigos públicos, das investidas mais ousadas do crime organizado e das milícias. Elementos que compõe o panorama social de um país à beira do abismo.
Ganha centralidade nessa conjuntura a restauração do mercado de trabalho que com a pandemia ficou fragilizado. Recente pesquisa divulgada pelo IBGE atesta que 5 milhões de pessoas deixaram de trabalhar nos últimos meses. Além disso, são 26 milhões de pessoas que declararam não ter trabalhado e tão pouco procurado emprego devida a crise sanitária.
O agravamento da crise acabou trazendo dados não somente em relação aos desempregados, mas também em quanto a destruição do parque industrial brasileiro e à desnacionalização do setor produtivo. Um exemplo é setor hospitalar, entre outros que estão sendo desnacionalizado em plena crise econômica. A situação coloca na ordem do dia a necessidade do Estado investir nas atividades econômicas e sociais. Nosso país não saíra dessa crise profunda sem que o poder público assuma sua responsabilidade nesse contexto.
Não podemos subestimar os impactos da crise na classe trabalhadora e das dificuldades nas camadas médias da sociedade. Uma política de geração de emprego e a criação da renda básica serão fundamentais na construção nova política de desenvolvimento econômico e social na atual quadra. Colocar a defesa dos interesses nacionais em primeiro plano ajuda a combater a crise. Fazer investimentos pesados em ciência, tecnologia e inovação, infraestrutura e reaquecer o crédito são medidas que ajudam no combate a crise.
Importante ressaltar que as crises no Brasil sempre resultaram em aumento da miséria, empobrecimento da classe trabalhadora e fome. A Agência das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), mostrou que a fome atinge 5,2 milhões de pessoas no Brasil, segundo dados de 29 de abril de 2019. Esse é o reflexo de uma política econômica desastrosa, acompanhada do desmonte das políticas públicas em todo o país. Quadro que vem agravando muito a violência e a pobreza extremada e colocando o país em risco de insolvência social.
Enfrentar essa situação demanda um conjunto de medidas emergenciais e outras de médio e longo prazo. É preciso pressionar o Estado pela geração de empregos, mais investimentos nas políticas sociais, na preservação dos direitos e da democracia. É preciso colocar na agenda política esses elementos, que põem em perspectiva as condições mínimas de sobrevivência digna para os que vivem do trabalho e aos que vivem na pobreza absoluta.
Outro importante acontecimento que agrava a crise é a privatização da água. A aprovação do novo marco regulatório do saneamento no Brasil poderá agravar as condições de vida de 35 milhões de pessoas não têm acesso à água tratada e 100 milhões que não dispõem de sistema de esgotamento sanitário. É impossível o país vencer a crise e superar todas as suas sequelas sem o controle da água, uma riqueza estratégica ao funcionamento em todos os sentidos da vida econômica e social da nação.
A retirada de direitos, a limitação das políticas sociais com a vigência da EC-95 (teto de gastos), as privatizações, as reformas trabalhista e previdenciária compõem o conjunto de ataques aos direitos sociais e resultam na precarização dos serviços prestados à população.
A história ensina que o enfrentamento às crises sempre ajudou a sociedade a amadurecer, travar a luta política na defesa das conquistas históricas e da democracia é fundamental nesse momento e para o futuro. É preciso continuar denunciando as mazelas do sistema capitalista, buscar a unidade nacional e buscar elevar o nível de consciência do povo e, com isso, ajudar o país a sair dessa escuridão. Tudo isso fortalece a classe trabalhadora na sua missão história de derrotar as forças do atraso.
por Wanderley Gomes da Silva, Diretor da Confederação Nacional das Associações de Moradores-CONAM e membro do Conselho Estadual de Saúde do Amapá e do Conselho Nacional de Saúde-CNS | Texto original em português do Brasil
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