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João de Sousa

Terça-feira, Dezembro 24, 2024

AVANTE!

Não são de hoje nem de ontem as diversas tentativas de matar a festa de “O AVANTE”

Não são de hoje nem de ontem as diversas tentativas de matar a festa de “O AVANTE” jornal emblemático da luta antifascista distribuído clandestinamente pelos diversos agentes da oposição a  Oliveira Salazar e Marcelo Caetano denunciando as atrocidades do regime ditatorial e de perseguição política a que em geral se associava a perseguição pessoal localizada com agentes distintos desde o clero ao regedor passando por ativos  da PIDE (polícia Internacional e de Defesa do Estado) posteriormente renomeada na sequência da remodelação Governamental após uma alegada queda de uma cadeira tida pelo primeiro ministro em exercício, António de Oliveira Salazar, sucedendo-lhe no cargo, Marcelo Caetano,  como DGS (Direção Geral de Segurança) membros do partido do poder Ação Nacional Popular e aqueles que no tempo eram conhecidos e como sendo os bufos do regime.

O jornal AVANTE era distribuído graciosamente em condições de risco extremo e por isso recorriam os seus distribuidores, militantes e activistas anti regime, a uma engenharia mental sem precedentes. Desde a distribuição feita por depósito em campas nos cemitérios seguros por pedras para que o vento o não levasse – o jornal – até ao artefacto de uso de balões cheios de helogéneo alimentado por um ponto de fogo para se elevarem nas festividades ao São João no Porto e em Braga e, ao Santo António em Lisboa.

Era profusamente distribuído no Alentejo junto das comunidades rurais que trabalhavam à jorna e habitavam em aldeias o que facilitava a sua distribuição.

Nos centros urbanos a sua distribuição era mais complicada pela diversidade social com exceção nas suas zonas industriais onde o proletariado se organizava em torno de sindicatos setoriais mesmo sendo corporativos assim como os trabalhadores dos diversos serviços e do comércio em geral.

No Minho e demais Províncias onde o minifúndio, a pequena indústria, os serviços e o pequeno comercio predominavam, a distribuição era feita em mão de forma furtiva para evitar o olhar atento do regime através dos agentes no terreno acima citados.

Como contrapartida financeira recebia o PCP donativos dos seus militantes, simpatizantes e outros, como se veio a tomar conhecimento após a Revolução dos Cravos.

O AVANTE circulava também nos diversos círculos militares mas também nos corpos de polícia. Sempre na clandestinidade.

Teve um papel determinante na informação do que realmente acontecia no País mas também teve influência na formação de uma cultura democrática das populações tendo em vista a liberdade assim como foi o baluarte das lutas populares por melhores condições de vida em todos os domínios nos diversos cenários da estrutura social, política, profissional e outras, no nosso País

O jornal AVANTE é o Órgão de Comunicação oficial do PCP – Partido Comunista Português mas também, através da sua festa, a maior fonte de receita do citado o que lhe permite manter a sua atividade regular no País.

Desde o já longínquo ano de mil novecentos e setenta e quatro que a Festa do AVANTE se demarca dos demais eventos de massas pela sua heterogeneidade multicultural; multiracial; étnica; gastronómica; de inclusão e outros motivos que são o cunho indelével da identidade do nosso povo.

Tem sido desde então um motivo de combate da direita e aliados no tempo, em Portugal, tendo inclusive resistido a tentativa legislativa para a sua extinção, o que veio a acontecer com a sua homóloga Festa da Alegria, em Braga, por iniciativa do Município que impediu a sua realização no único espaço com condições para o efeito: o PEB – Parque de Exposições de Braga. E assim morreu a Festa da Alegria sem que mais alguma organização qualquer conseguisse realizar e então semelhante.

Como defendeu o Sr. General Melo Antunes em uma reunião crucial de o Grupo dos nove, para que a democracia vingasse; “O PCP é um partido político fundamental para a democracia”.

Não fora o seu caráter, energia e firmeza, e… talvez… a Revolução em curso tivesse morrido naquele momento. Era o tempo do PREC – Processo Revolucionário Em Curso.

No que toca ao surto pandémico em curso em que a curva ascendente ansiada estabilizou mas não desapareceu, a Festa do AVANTE assume responsabilidade acrescida de dar mostra de que a vida continua com novas regras de segurança, é certo, mas… Continua!

Será um exercício de exemplo de que é possível viver cumprindo as regras estabelecidas acreditando no Ser Humano e na sua capacidade resilente de apego ao ato de viver até à erradicação deste percalço Histórico.


Por opção do autor, este artigo respeita o AO90


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