Diário
Director

Independente
João de Sousa

Terça-feira, Julho 16, 2024

A Escola da Noite estreia “Palhaço velho, precisa-se” a 10 de Setembro

A Escola da Noite estreia a 10 de Setembro, no Teatro da Cerca de São Bernardo, em Coimbra, o espectáculo “Palhaço velho, precisa-se”, do dramaturgo romeno Matéi Visniec. A nova criação da companhia tem encenação de António Augusto Barros e fica em cena durante quatro semanas, de quinta a domingo.

“Palhaço velho, precisa-se” (“Petit Boulot pour vieux clown”, na versão original), é uma comédia trágica escrita em 1986 pelo escritor romeno, um ano antes de se exilar em França, face à censura de que os seus textos eram alvo na ditadura de Nicolae Ceausescu. Três palhaços velhos e sem trabalho reencontram-se numa sala de espera para uma entrevista de emprego e precisam de provar que estão à altura da “oportunidade”. No espaço apertado e claustrofóbico da sala de espera, perante uma porta que permanece fechada, os três antigos companheiros experimentam sensações contraditórias: a alegria de voltarem a estar juntos, o sabor agridoce das muitas memórias partilhadas e a amargura da competição a que foram obrigados, para poderem sobreviver.

Como muitas das obras de Visniec, o texto conjuga humor (às vezes negro), tensão, perfídia e constantes oscilações de ritmo, num exigente trabalho de actores a que Igor Lebreaud, Miguel Magalhães e Ricardo Kalash respondem ao longo de 1h45 de espectáculo.

A produção d’A Escola da Noite utiliza a tradução para português feita por Regina Guimarães, tem cenografia de João Mendes Ribeiro e Luísa Bebiano, figurinos e adereços de Ana Rosa Assunção, luz de Danilo Pinto e som de Zé Diogo.

Ensaios de “Palhaço velho, precisa-se!”, do dramaturgo romeno Matéi Visniec

Após a estreia, marcada para 10 de Setembro às 21h30, “Palhaço velho, precisa-se” fica em cena no TCSB até 4 de Outubro – às quintas-feiras às 19h00, às sextas e sábados às 21h30 e aos domingos às 16h00. Tendo em conta as limitações à lotação da sala, é ainda mais aconselhável efectuar a reserva de lugares ou a compra antecipada de bilhetes, no Teatro ou pela internet.

 

“Uma máquina concebida para nos humilhar e nos matar”

Em declarações feitas a propósito de uma encenação deste espectáculo em Fança, Matéi Visniec assumia há uns anos o seu gosto por palhaços, as memórias que guarda da chegada do circo à cidade onde vivia na infância e a impressão que lhe causou o filme “Clowns”, de Fellini: “Escrevi esta peça porque para mim o palhaço é uma personagem que ri enquanto chora e que chora enquanto ri; é ao mesmo tempo o bobo da corte que zomba do seu rei e o louco que diz a verdade; é o espelho impiedoso do seu tempo e o eco infantil do tempo que passa”.

Os palhaços desta peça, contudo, “não correspondem apenas a essa imagem divertida, ou até apaziguadora, de personagens encarregadas, perante a miséria reinante, de trazer um pouco de sol, um pouco de doçura, um momento de vigor, de alegria e consolação àqueles que têm de aguentar o insustentável”. Em “Palhaço velho, precisa-se” eles “podem tornar-se três mesquinhos gladiadores capazes de se matar por causa de um pequeno anúncio”.

Na escrita da peça – acrescentou Visniec – “interessou-me este lado cruel da vida”, “a vida que por vezes nos transforma em palhaços cruéis, em palhaços frágeis, obrigados a exibir-se e a representar a grande comédia social, obrigados até a entrar no jogo da máquina concebida para nos humilhar e nos matar”.

 

Matéi Visniec

Matéi Visniec

Matéi Visniec nasceu no norte da Roménia, a 29 de janeiro de 1956.

Na Roménia de Ceausescu, encontra rapidamente na literatura um espaço de liberdade. Alimenta-se de Kafka, Dostoievski, Camus, Beckett, Ionesco, Lautréamont… Ama os surrealistas, os dadaístas, os discursos fantásticos, o teatro do absurdo e do grotesco, a poesia onírica e mesmo o teatro realista anglo-saxão.

Estudante de Filosofia em Bucareste, torna-se muito activo no seio da chamada “geração de 1980”, que baralhou a paisagem poética e literária da Roménia da época. Acredita na resistência cultural e na capacidade da literatura para demolir o totalitarismo. Acredita sobretudo que o teatro e a poesia podem denunciar a manipulação das pessoas através das “grandes ideias”.

Afirma-se na Roménia com a sua poesia refinada, lúcida, escrita com amargura. Começa a escrever teatro em 1977: as suas peças circulam abundantemente no meio literário, mas a sua subida ao palco é proibida.

Deixa a Roménia em 1987 e pede asilo político em França. Redige, na Escola de Altos Estudos em Ciências Sociais, uma tese sobre a resistência cultural nos países da Europa de Leste na época comunista, mas começa também a escrever peças de teatro em francês. Entre 1988 e 1989 trabalha para a BBC e a partir de 1990 para a Radio France Internationale.

Depois de um primeiro sucesso nas Jornadas dos Autores organizadas pelo Théâtre les Célestins de Lyon, em 1991, com a peça “Les Chevaux à la fenêtre”, Matéi Visniec é descoberto por numerosas companhias e as suas peças são representadas em Paris, Lyon, Avignon, Marseille, Toulouse, La Rochelle, Grenoble, Nancy, Nice, etc. Neste momento, Matéi Visniec conta com numerosas criações em França. Cerca de trinta das suas peças escritas em francês estão editadas.

Esteve em cartaz em cerca de trinta países, como Itália, Grã-Bretanha, Polónia, Turquia, Suécia, Alemanha, Israel, Estados Unidos Canadá, Japão, Brasil e Portugal.

Tornou-se, desde 1992, um dos autores mais representados no Festival Off de Avignon com cerca de quarenta criações. Em Paris as suas peças foram representadas em vários teatros.

Na Roménia, depois da queda de Ceausescu, Matéi Visniec tornou-se o autor dramático vivo mais representado. É também autor de três romances editados na Roménia.

Recentemente recebeu: o Prémio Jean-Monnet da Literatura Europeia 2016; o Prémio Europeu 2009 da SACD; o Prémio “Coup de Coeur” (imprensa) Festival Off de Avignon 2009, pela peça “A palavra Progresso na boca de minha mãe soava terrivelmente falsa”; o Prémio “Coup du Coeur” (imprensa) Festival Off de Avignon 2008, pela peça “Os desvãos Cioran ou Mansarda em Paris com vista para a morte”.

 

Palhaço velho, precisa-se

de Matéi Visniec, A Escola da Noite
Coimbra, Teatro da Cerca de São Bernardo
estreia, 10 de Setembro de 2020, quinta-feira, 21h30

 

temporada

até 4 de Outubro de 2020

  • quintas-feiras, 19h00
  • sextas e sábados, 21h30
  • domingos, 16h00

 

  • texto Matéi Visniec
  • tradução Regina Guimarães
  • encenação António Augusto Barros
  • interpretação Igor Lebreaud, Miguel Magalhães e Ricardo Kalash
  • cenografia João Mendes Ribeiro e Luisa Bebiano figurinos e adereços Ana Rosa Assunção desenho de luz Danilo Pinto som Zé Diogo consultor de magia Tony Klauf cabelos Carlos Gago

Os assinantes solidários do Jornal TORNADO têm Desconto de 50%, em dois bilhetes para cada um destes nos espectáculos.


Receba a nossa newsletter

Contorne o cinzentismo dominante subscrevendo a Newsletter do Jornal Tornado. Oferecemos-lhe ângulos de visão e análise que não encontrará disponíveis na imprensa mainstream.

 

Receba a nossa newsletter

Contorne o cinzentismo dominante subscrevendo a nossa Newsletter. Oferecemos-lhe ângulos de visão e análise que não encontrará disponíveis na imprensa mainstream.

- Publicidade -

Outros artigos

- Publicidade -

Últimas notícias

Mais lidos

Uma Aventura | Na Caixa

Mentores espirituais

Manuel de Azevedo

Auto-retrato, Pablo Picasso

- Publicidade -