Diogo Madre Deus, editor de Julio Cortázar na Cavalo de Ferro, afirma que “a leitura das suas histórias continua a ser fonte de prazer em obrigação”.
A editora já publicou onze obras do autor argentino e anuncia que este projecto editorial vai continuar porque a resposta dos leitores tem sido “bastante positiva”.
Entretanto, acaba de chegar às livrarias o primeiro romance de Cortázar (Os Prémios), que nunca tinha sido publicado em Portugal.
Depois de uma dezena de títulos já nas livrarias, como está a ser a resposta dos leitores à (re)edição das obras de Julio Cortázar?
Diogo Madre Deus: Bastante positiva. Apesar de ser um nome conhecido pela maioria dos leitores, Cortázar tinha até aqui poucas obras editadas em Portugal e estava há muito afastado das livrarias. Agora, o corpus da sua obra está disponível e a ser recebido como novidade editorial.
De onde vem o interesse de leitores de várias gerações pela obra deste autor?
Usando um termo vagamente eclesiástico (a expressão não é minha), podemos dizer que a sua obra entrou no chamado cânone literário. De qualidade literária incontestável, mantém intactas a irreverência e a invenção narrativa mas, ao mesmo tempo, ganhou um sabor clássico sem acusar o «seu tempo». Sobretudo, a leitura das suas histórias continua a ser fonte de prazer sem obrigação.
Para os leitores que queiram conhecer Julio Cortázar e a sua obra que percurso de leituras lhes sugere?
É uma pergunta muito pessoal que pressupõe uma resposta igualmente pessoal. Há, pelo menos, três tipos de textos em que a obra de Cortázar pode ser dividida: os volumes de contos, género em que ele é mestre – e nestes, é algo arbitrário se se deve começar, por exemplo, pelo Bestiário ou pelo Final do Jogo ou antes pelo Octaedro – ; os romances – O Jogo do Mundo é claramente indispensável e pode ser lido aos pedaços- e, finalmente as miscelâneas, de que A Volta ao Dia em 80 Mundos é um grande exemplo, onde ele mistura prosas muito diferentes: desde observações e anotações rápidas sobre variados temas, a poesia, artigos, entrevistas «ao espelho» e imagens. E falta ainda mencionar outro tipo de obra: a ensaística, onde se (re)conhece um Cortázar «artesão» da sua própria arte e da dos outros.
Como editor, tem um livro preferido deste escritor?
Um livro, não, mas textos. Uma espécie de antologia pessoal.
Que livro é este (“Os Prémios”) que acaba de chegar às livrarias?
É uma verdadeira antecâmara do Rayuela porque se vêem(lêem) recursos estilísticos que mais tarde seriam aplicados nesse de forma muito mais radical. Ao mesmo tempo é um Cortazar diferente porque este é um romance coral.
Pensando no futuro: que edições de Cortázar estão previstas para o catálogo da Cavalo de Ferro?
Iremos reunir os contos em volumes completos, juntando aqueles ainda inéditos.
Julio Cortázar
Os Prémios
Cavalo de Ferro
Até ao momento, a Cavalo de Ferro editou:
- Os Prémios
- O Jogo do Mundo-Rayuela
- Bestiário
- Todos os Fogos o Fogo
- Final do Jogo
- As Armas Secretas
- Octaedro
- Gostamos Tanto de Glenda
- A Volta do Dia em 80 Mundos
- Papéis Inesperados
- Aulas de Literatura-Berkeley, 1980
Exclusivo Tornado / Novos Livros
Receba a nossa newsletter
Contorne o cinzentismo dominante subscrevendo a Newsletter do Jornal Tornado. Oferecemos-lhe ângulos de visão e análise que não encontrará disponíveis na imprensa mainstream.