Uma grande parte de nós, gente com idade para ter vivido apenas com dois canais de televisão na sua infância, a RTP1 e a RTP2, sem sentir que lhe tinham arrancado as unhas dos dedos dos pés com um alicate de pontas, terá assistido ao incrível e entusiasmante programa de “Os Marretas”.
Não é sobre a obsessão da Miss Piggy pelo Cocas que me proponho abordar, apesar de considerar tema de grande interesse a obstinada recusa do sapo Cocas em se deixar amar por tal porcina boneca, pois tal amor, sobretudo o beijo, transformá-lo-ia num belíssimo príncipe encantado ou, mais provavelmente, num belíssimo porco encantado ou num belíssimo príncipe porco. Talvez esta recusa possa estar ligada à excelente rubrica do programa intitulada “Pigs in space” (se calhar o sapo Cocas não gostava de viagens espaciais e um beijo da Miss Piggy podia mandá-lo para o espaço). “Porcos no espaço” fascinava pelo seu cenário de ficção científica, pelos fatos espaciais cinzentos, pelos painéis luminosos e intermitentes da nave espacial e pelo humor da Miss Piggy e do Captain Link Hogthrob, o porco comandante, e pela beleza exterior da Swinetrek, essa ogival arredondada nave que navegava pelas profundezas do espaço desconhecido e estrelado por pontinhos multicolores.
Na verdade, ao fascínio visual do “sketch” de “Os Marretas” eu adicionava o delírio mental, imaginado que os porcos podiam estar em todo o lado do Universo, colonizando novos planetas-pocilgas e multiplicando-se como porcos. Foi, pois, com grande admiração minha que verifiquei que um fenómeno semelhante ao da disseminação dos porcos de “Os Marretas” pelo Universo se estava a dar em Portugal.
No início de Setembro, realizou-se a “Festa do Avante”, evento promovido pelo Partido Comunista Português (PCP). Variadíssimas figuras do comentário político, populares e anónimas, começaram a bater com a vara da crítica sórdida no partido e no seu líder inconsciente, grunhindo argumentos de senso comum, prevendo a catástrofe pandémica na Quinta da Atalaia (apesar de o Partido garantir o cumprimento de todas as recomendações da DGS) e a previsível morte de vários militantes comunistas, já que toda a gente sabe que a base de apoio ao PCP é constituída por gente que já caminha de olhos postos na cova e com visões de reencontro com o incontestado líder Álvaro Cunhal e com os ideólogos Karl Marx e Friedrich Engels num paraíso ateu sem classes, a mais propensa a sucumbir ao covardemente letal Sarscov-2 que só sabe “bater” em velhinhos e doentes (o que só prova a ausência de inteligência política e de falta de cultura táctica dos partidos opositores ao PCP, pois, se, em vez de criticarem, apoiassem e incentivassem os comunistas dos grupos de risco a irem à Festa do Avante podiam muito bem assistir ao fim do PCP enquanto partido com representação parlamentar).
Eu, como só gosto de ouvir falar mal, de ver e ouvir programas que servem para criticar e maldizer, não sei se a Festa do Avante correu bem, pois não ouço nem vejo nem sequer sei se há espaços de comentário elogioso, mas não me lembro de críticas ou de provas evidentes do que correu mal durante esse período de 3 a 5 de Setembro de 2020, apesar de, antecipadamente, muita gente ter falado mal e porcamente do PCP e da “Festa do Avante”. Ainda assim, vagamente me lembro de um ou outro actor político ter vindo proferir “opiminhões” pós-Festa. Um deles foi aquele senhor de óculos, por muitos conhecido como o “Oráculo do Vale Salmão”, o Sr. Marques Mendes, futurólogo e vidente (consta-se que as lentes dos seus óculos foram produzidas a partir de bolas de cristal que o Son Goku recuperou do planeta Namec) que disse que o PCP fez mal, que a Festa deveria ter sido reduzida ao comício final (mais ou menos o que eu acho do seu comentário semanal na SIC que, na minha opinião, deveria ser reduzido ao momento final, quando ele diz “Boa noite e até para a semana”).
Um outro senhor foi aquele que molha um pente em solução aqua-sapónica de alta densidade e depois faz deslizar os seus dentes apertados pelo seu cabelo da testa para a nuca num movimento perfeito e austero de frente para trás, vergando o seu cabelo à força da convicção de que, se nada tem a esconder, mais vale afastar o mais possível o cabelo da testa e do início da cabeça para que nada fique por revelar. Disse o Dr. Rui Rio, presidente do PSD, que o PCP percebeu o erro que cometeu ao organizar a Festa do Avante e que não o devia ter feito, numa declaração de grande clarividência e transparência, apesar de, como o “Oráculo do Vale Salmão”, nada ter dito sobre o que efectivamente correu mal na Festa.
Mais longe, porque também mais à direita daqueles dois anteriormente mencionados, e obviamente mais afastado do PCP, foi o líder do CDS-PP, o Chicão, pois não foi evasivo nem incipiente, foi contundente, apontando as falhas da Festa do Avante, exemplificando (unicamente, é verdade) com o repúdio por ele manifestado às atitudes de vandalismo à porta da Festa contra cartazes ofensivos à realização da mesma lá colocados por parte dos aprendizes do ofício politiqueiro da JSD e da JP. Eu gostava de saber o que fariam os partidários do CDS-PP se na Escola de Quadros da Juventude Popular, que ocorreu em Oliveira do Bairro, em meados de Setembro, vissem à entrada cartazes com uma fotomontagem de Paulo Portas em cima de um submarino alemão de braço estendido a fazer a saudação nazi e a dizer “Ich bin ein Irrevogável!”? E o que fariam os adeptos do PSD se à entrada da Festa do Pontal, a qual, para dar o exemplo, o PSD não realizou este ano, alguém pusesse uma foto do Passos Coelho com uma boina do Che Guevara a dizer “ Povo de Portugal, prometo não aumentar os impostos, não cortar salários, não suprimir subsídios, não cortar pensões mais baixas.” e a segurar o livro do génio da literatura-basura, Pedro Chagas Freitas, “Prometo Falhar-te!”?
Apesar de tudo, fiquei com a clara ideia de que só uns néscios e imprevidentes comunistas se davam a ajuntamentos de milhares de pessoas. Assim, quando se anunciou em final de Julho a realização do Grande Prémio de Fórmula 1 em Portimão, não notei uma agressiva verborreia contra a realização do mesmo como a que fora proferida contra a Festa do Avante, o que evidenciaria que, de certeza, ninguém responsável sequer iria pensar em assistir a este espectáculo, muito menos os apoiantes de todos os partidos que criticaram a Festa, contando, pois, a organização do evento automobilístico com a adesão dos irresponsáveis que tinham ido à Festa do Avante para ocuparem os depois reduzidos de 46.000 espectadores para 27.500 por causa do aumento de contágios por Sarscov-2.
E foi então que imaginei que iria assistir a uma actualizada versão do “sketch” de “Os Marretas”, “Pigs in space”. Em vez da “Swinetrek” teríamos a nave espacial “Redstartrek” no “sketch” “Comunists in Allgarve”, e voariam nessa nave em forma de martelo com duas foices nas asas até ao Algarve para assistirem, com todo o “glamour” de alta sociedade, a essa corrida de carros ultra-rápidos, barulhentos e poluidores, cuja entrada oscilava entre os 85 e os 650 euros, só um pouco mais dos 26 euros pagos pela EP (Entrada Permanente) adquirida até ao dia 3 de Setembro e 38 euros depois do dia 3 e para os três dias da Festa do Avante. Eu posso garantir que eles voaram mesmo nesta “Redstartrek”, pois eu vi a nave espacial a cruzar os céus do Alentejo, enquanto tirava uma soneca debaixo de uma azinheira e afastava uma mosca com uma palhinha que entalara entre os dentes incisivos, tal como um antepassado meu vira a Passarola do Padre Bartolomeu Lourenço de Gusmão a sobrevoar o céu limpo de Lisboa enquanto uma mulher, que tanto podia ter sido a sua como a de outro homem qualquer, ia e vinha em cima dele que, de costas no chão, apreciava a vista.
Se dúvidas houvesse quanto à comparência dos comunistas, elas dissiparam-se porque eles eram facilmente identificáveis. Como são todos velhinhos e a maior parte deles não tem rendimentos para pagar, desde há muitos anos, as assinaturas dos canais SportTv e Elevensports, sendo que alguns deles só possuem os canais da TDT, era vê-los a cirandar de um lado para o outro nas imediações do Autódromo de Portimão e nas bancadas ostentado bandeiras com os rostos do Nikki Lauda, do Michele Alboreto, do Ayrton Senna, do Michael Schumacher, do Nelson Piquet, das escuderias Lotus, Brabham, Ferrari, Williams, destacando-se entre eles alguns comunistas oriundos do Algarve, e que não tiveram por isso de viajar na “Redstartek”, empunhando bandeiras com o rosto do Graham Hill, do Jackie Stewart, do Nigel Mansell ou do Damon Hill. Não dava para enganar, eram mesmo comunistas já velhinhos e parece evidente que se houve 14 casos de infectados com Covid-19 isso se deveu à óbvia transmissão do vírus do público para os bastidores e boxes das equipas de Fórmula 1.
Esta onda festiva dos festeiros comunistas estava de tal maneira imparável que eles foram atrás de ondas tão grandes como a sua e por isso ninguém estranhou a aglomeração de comunistas na Nazaré, todos uns em cima dos outros, muitos sem máscara e sem cumprirem o distanciamento social, mas é compreensível este esquecimento devido às várias doenças associadas à velhice, como demência, senilidade, Alzheimer. Estes comunistas velhinhos, mas muito sofisticados, assistem a eventos desportivos motorizados e agora apreciam o surf, numa evidência comportamental de quem não perde uma oportunidade de fazer de qualquer evento, previamente marcado ou espontâneo, uma nova “Festa do Avante”, pois, apesar de não haver as famosas barraquinhas de vários países do mundo, não falta gente de vários países. Aliás, eles gostam tanto de surf que já é tradição da “Festa” haver sessões de tingimento de cabelo à surfista, usar bermudas e chinelinhos de dedo, tudo muito “boa onda” e gente a fazer “luaus” enquanto a noite envolve o recinto da Festa e uma fogueira aquece e ilumina os “jovens” surfistas comunistas.
Bem, parece que, afinal, os comunistas não só não se portam bem na “Festa do Avante”, no terreno sagrado da Quinta da Atalaia, como fora de casa são velhinhos muito mal comportados, e que o comentário político e sobre a actualidade é uma verdadeira pocilga, onde se banham comentadores e opinadores, verdadeiros velhos rezingões de “Os Marretas”, Statler e Waldorf, que, do alto da sua tribuna, lançavam veneno corrosivo sobre todos os eventos e personagens que não fossem do seu agrado (político). Quem sabe se um dia destes a “Swinetrek” não aparece por aí a fazer várias abduções desta gente rezingona e, lá dentro da nave, a Miss Piggy com um beijo mágico transforma-os todos em porcos encantados e podemos assistir a um novo episódio de “Pigs in Space”.
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