Uma grata surpresa ao receber o e-book “Os Anos Verdes de Lindaura”, de Elder Vieira. Eu que prefiro ler livros físicos, li essa obra de crônicas e contos de uma vez só.
Nestes tempos de isolamento social precisamos de atividades eu nos distraiam. No caso deste livro, a distração acontece permeada de profundas reflexões sobre os anseios, desejos, necessidades e vontades das gentes que vivem de vender a sua força de trabalho para o capital e vivem na dureza.
Com simplicidade e candura, a obra retrata a vida de pessoas comuns e com isso apresenta um cenário do que é este país e este povo, sem grandes pretensões. Descreve “com delicadeza os dramas, dificuldades, sonhos e esperanças de personagens representativos da melhor índole do povo brasileiro. Para leitor especializado, o livro é um manancial de pesquisa sociolinguística e de filologia, uma vez que o autor registra por escrito as formas reais hodiernas das palavras pronunciadas por seus personagens representativos”, diz texto de apresentação do livro.
Para comprar acesse o site: Os anos verdes de Lindaura
Um claro exemplo da ligação intrínseca entre as questões sociais e individuais. “A metade do seu olhar/Está chamando pra luta, aflita/E metade quer madrugar/Na bodeguita”, como canta Chico Buarque em “Tanto Amar”, que poderia muito bem ilustrar o livro de Elder Vieira.
Como consta no conto “Planejamento Estratégico”, com uma fina ironia e recato:
– “Nastácia, que é aquele monte de embrulho na cama?
– Presente.
– Pra quem?
– Pra todo mundo, ué. Tem sua mãe, suas irmãs, o povo lá de casa, os meninos… Natal, meu filho; tá pensando o quê?
– Mas que Natal, Nastácia? Natal foi ano passado.
Que ano passado, Berto. Mané ano passado. É pra esse ano mesmo.
– Mas nós tamo em janeiro!
– E daí? Cê não tá vendo a inflação, não? Me admira você, bancário, não prestar atenção nessas coisas. Prevenir, meu filho”.
Já em “O homem que calculava”, uma falha de cálculo e humor sempre presente para mostrar que a vida vale a pena:
“Saiu de lá com uma promessa e já pensava no tamanho dos cômodos, no número de filhos e onde poderia arrumar um emprego e plantar sua esperança – medida de seu sonho. Não era de altas aritméticas, mas sabia o quanto valia aquele sorriso, aquelas cadeiras e aquele coração pulsando no peito”.
E o conto que dá título à obra:
“Dos olhos de Lindaura, sobram poucas lembranças. Ficam os quadris fartos, as lágrimas muitas, minadas de tantos filhos perdidos; ficam as festas pelas conquistas – poucas, mas significativas – e as perplexidades de tantos caminhos cruzados. Ficam também as revoltas, os passos atrás e as resignações. E ficam os eternos começos, frutos das marchas interrompidas.
Disso tudo, resta Lindaura, inteira, una e múltipla como uma multidão. E pronta para ser tudo aquilo que, um dia, sonharam que fosse”.
O livro “Os Anos Verdes de Lindaura” renova os sonhos e a vontade de permanecer firme na luta por um outro país, mais singelo, generoso e igual.
Serviço:
Os Anos Verdes de Lindaura, de Elder Vieira
Editora Serra Azul
E-book, 162 páginas, R$ 25
Texto em português do Brasil
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