Ao aumentar a taxa Selic, agora em 2,75% ao ano, Copom vai na contramão de outros países em momento de recessão, afirma Paulo Kliass.
O aumento da Selic, taxa básica de juros, em um momento de agravamento da crise econômica e social só atende aos interesses do sistema financeiro. A afirmação é do economista Paulo Kliass, que participou de live do PV nesta quinta-feira (25). Segundo Kliass, a elevação não terá efeitos sobre a inflação, pois a alta de preços no Brasil não está relacionada à alta de demanda.
Em sua última reunião, em 17 de março, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central decidiu elevar em 0,75 ponto percentual a taxa Selic, que com isso chegou a 2,75% ao ano. A taxa básica de juros estava em 2% desde agosto de 2020, o patamar mais baixo da história.
De acordo com Paulo Kliass, o país vinha em uma trajetória de queda e/ou estabilidade dos juros, seguindo uma tendência global de estímulo à economia desde a crise de 2008. “O Banco Central Europeu, o Fed começaram a praticar taxas bastante reduzidas desde a crise financeira de 2008,2009. Houve um momento em que as taxas nesses países eram negativas. Era um estímulo para pegar o dinheiro e fazer alguma coisa produtiva”, comentou.
Quando os juros estão mais baixos ou negativos, conforme citado por Kliass, não compensa deixar o dinheiro parado na poupança ou em outras aplicações. Por isso, em períodos de crise econômica, a tendência é que a autoridade monetária dos países reduza juros, a fim de estimular as pessoas e as empresas a movimentar dinheiro, seja consumindo bens e serviços ou tomando crédito.
Paulo Kliass ressalta que, em sua última reunião, o Copom optou por levar o Brasil justamente na direção oposta. “O Brasil é um dos poucos, senão o único do mundo país que, no momento de recessão, com 14 milhões de desempregados, no meio de uma pandemia, resolve aumentar juros”.
Além de aumentar da Selic em 0,75 ponto percentual, o Copom sinalizou que fará novas elevações na ata publicada no dia seguinte à reunião. De acordo com Paulo Kliass, um dos efeitos será o encarecimento do crédito, em um momento em que a economia está fechando de novo por causa da pandemia e muitas empresas precisam de socorro financeiro.
O economista também criticou a nova política de preços da Petrobras, que desde o governo de Michel Temer adota a paridade com os preços internacionais do petróleo. Somente este ano, a estatal reajustou seis vezes o preço da gasolina nas refinarias, por exemplo.
Ele também associou a alta dos alimentos ao fim dos estoques reguladores, movimento iniciado por Temer e mantido no governo Bolsonaro. Sem estoques, o preço de itens de primeira necessidade como o arroz, por exemplo, fica sujeito às oscilações do mercado internacional. Como o real está desvalorizado frente ao dólar, exportar acaba sendo mais atrativo para produtores rurais.
“Para esse tipo de subida de preços, o aumento da Selic não vai resolver nada. Só vai significar mais renda transferida para nata do sistema financeiro. Alguém tem a ilusão de que essa alta não vai ser seguida por aumento do custo dos empréstimos, do crédito nos bancos?”, questionou.
Para Paulo Kliass, a inflação oficial jamais deveria ser o único parâmetro para a elevação ou redução dos juros. Ele voltou a citar o Fed, banco central dos EUA, que tem duplo mandato, ou seja, persegue duas metas, enquanto o BC brasileiro tem como objetivo o controle da inflação.
tem que definir a taxa oficial de juros não apenas com relação à meta da inflação, mas também com relação ao nível de atividade econômica, de desemprego. A prioridade é reduzir desemprego, retomar o crescimento”, afirmou.
Confira o bate-papo na íntegra:
por Mariana Branco, Jornalista | Texto em português do Brasil
Exclusivo Editorial PV / Tornado