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Sábado, Novembro 16, 2024

Jornada de Lutas da Juventude mostra jovens ávidos de viver com respeito e dignidade

Marcos Aurélio Ruy, em São Paulo
Marcos Aurélio Ruy, em São Paulo
Jornalista, assessor do Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo

Já está nas redes sociais a Jornada de Lutas da Juventude 2021. O tema escolhido pelos jovens engajados em transformar o país já diz tudo. Vida, Pão, Vacina e Educação é um slogan autoexplicativo.

Quem deseja, porém, conhecer os anseios, os desejos, a educação, o país e a vida que a juventude brasileira quer para já, precisa ler esta entrevista com Rozana Barroso, presidenta da União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (Ubes).

Com a participação de inúmeros artistas, como as atrizes Taís Araújo e Dira Paes, a Jornada de Lutas da Juventude terá ações nesta terça-feira (30) pelas redes sociais. Além de projeções, outdoors, faixas e cartazes nas ruas com atos simbólicos, respeitando o distanciamento social, garante Rozana.

A Ubes representa os mais de 40 milhões de secundaristas de todo o país há quase 73 anos. A Jornada de Lutas da Juventude nasceu em 2013 para expressar a vontade dessa parcela significativa da população. A líder estudantil coloca a educação como tema central para o país vencer a miséria e a profunda desigualdade social.

A jovem de Campos dos Goytacazes, no Rio de Janeiro, pretende cursar biomedicina e diz que “costumamos dizer que os jovens não são apenas o futuro, são também o presente do nosso país e nesse presente estamos lutando muito para chegarmos ainda mais fortes no ano que vem para derrotar esse governo genocida e construir com as nossas mãos um Brasil que garanta segurança às nossas vidas, que garanta acesso à educação, que nos dê acesso à saúde, que tenha serviços públicos valorizados e que dê total prioridade à educação” para “o país voltar a sorrir, e possa ser feliz”.

Para ela, o momento impossibilita essa felicidade porque “a juventude anda de cabeça baixa” e “queremos a juventude de cabeça erguida com acesso aos seus direitos como educação, emprego, alimentação adequada e com uma vida digna”.

Porque “estamos lutando no presente para chegar mais fortes no futuro”. Ela não se cansa de repetir o tema da jornada deste ano: Vida, Pão, Vacina e Educação. Tema que remete à superação das crises sanitária e econômica. Crises que ceifam vidas e sonhos por causa da falta de ação de um governo inimigo da vida, da ciência e da inteligência.

Rozana segura cartaz com o tema da Jornada de Lutas da Juventude 2021 (Ubes)

Leia a entrevista abaixo:

Como vocês chegaram a esse tema tão forte e representativo deste momento crucial para a vida do país e da humanidade: Vida, Pão, Vacina e Educação?

Rozana Barroso: O tema surgiu após a nota técnica da Ubes sobre os Direitos Humanos e a Educação em tempos de pandemia. Pensamos como elaborar um tema para apontar os caminhos e as soluções que os estudantes precisam para que continuem tendo acesso à educação e para que aqueles que perderam essa possibilidade por causa da pandemia voltem a ter acesso à educação. Aquelas e aqueles que infelizmente evadiram, abandonaram a escola por causa dessa conjuntura adversa.

Analisando o cenário de agravamento da desigualdade social, pudemos perceber que os problemas abrangem toda a população, principalmente as pessoas que dependem do trabalho para viver. E, para tristeza de todos, neste momento enfrentamos um governo que tira e quer diminuir o auxílio emergencial, essencial para milhões de famílias fugirem da fome.

Esse governo não está nem aí para a ciência e para a pesquisa. O presidente Jair Bolsonaro ignora o papel da vacina, ignora a importância da educação e isso tem colaborado para o número gigantesco de abandono e de evasão escolar. Impossibilitando os jovens da periferia de ter acesso à educação.

O ensino remoto à distância parece não ter dado certo em parte nenhuma, não é?

A partir do momento em que não se disponibiliza a internet, o computador, os estudantes ficam sem a possibilidade de estudar. A situação se agrava ainda mais com as famílias passando fome, passando por situações muito difíceis e, para piorar, os estudantes ficaram sem a merenda escolar. A desnutrição infantil aumentou nesse período.

Daí surgiram essa palavras tão marcantes como tema desta jornada?

Começamos a pensar quais eram as palavras que poderiam traduzir a nossa nota técnica para o povo brasileiro e também serem as nossas reivindicações mais urgentes. Assim surgiu coletivamente: Vida, Pão, Vacina e Educação, que são as palavras de ordem de todo o povo brasileiro neste momento.

Junto com as nossas entidades irmãs, a UNE (União Nacional dos Estudantes) e a ANPG (Associação Nacional de Pós Graduandos) transformamos essas palavras no lema da Jornada de Lutas da Juventude de 2021.

Quais as saídas apontadas pela juventude para o país vencer a crise?

O tema da jornada já indica as saídas para que se possa solucionar os principais problemas da pandemia, do agravamento da desigualdade social e de um governo, que na nossa opinião, colabora com todo esse caos.

Por isso, quando falamos vida, dizemos sobre a importância de defender a vida neste momento tão difícil, com tantas mortes, mais de 3 mil óbitos por dia, um absurdo gigantesco. Quando falamos pão, se trata do auxílio emergencial, da merenda escolar, da garantia constitucional de uma alimentação suficiente e saudável. O tema vacina se trata de defender mais investimentos na ciência e na pesquisa. Levar a sério a imunização do povo brasileiro. A educação porque é daí que saem meninas e meninos prontos para colaborar com o desenvolvimento social, econômico e tecnológico do nosso país.

O nosso tema já direciona para algumas saídas e aponta algumas decisões que precisam ser tomadas para que possamos sair desse buraco de desespero.

Rozana discursa em manifestação estudantil em 2019 (Ubes)

Dá para resolver com Bolsonaro na Presidência?

Com certeza o impeachment e a campanha Fora Bolsonaro estão na pauta do movimento estudantil e da juventude. A saída de Bolsonaro para nós é uma questão de saúde pública. Temos um governo genocida. Desde o início minimizou os efeitos da pandemia. Algo desse tamanho. Apontado por inúmeros estudos que a humanidade não vivia há mais de 100 anos.

Mesmo assim, Bolsonaro chamou de “gripezinha” e banalizou a perda de tantas vidas. O nosso tema deste ano, direciona para os problemas que precisam ser solucionados com a maior urgência para o país sair do buraco de morte que Bolsonaro nos levou.

Qual educação os jovens brasileiros querem?

Os estudantes brasileiros querem uma educação que acompanhe o desenvolvimento da tecnologia. E a pandemia escancarou a desigualdade educacional do país. Porque grande parte das escolas públicas se mantém ainda na base da lousa e do giz. Grande parte dessas escolas não têm laboratório de informática e quando têm o computador não funciona. A falta de estrutura das escolas públicas não responde aos anseios de professores e estudantes, evidenciado neste momento de distanciamento social.

Nós sonhamos com uma educação livre, democrática. Uma educação que forme meninas e meninos para contribuir com o desenvolvimento do nosso país. Uma educação que esteja sempre no centro do debate da soberania nacional. Uma educação levada a sério para que possamos ter um Brasil que não só transforme a vida desses estudantes no individual, como eu, por exemplo, que quero ser a primeira da minha família a estar na universidade. Queremos uma educação que transforme o nosso Brasil como um todo porque a luta por uma educação de qualidade no Brasil não é só uma luta individual, de sonhos individuais, de transformar nossas vidas e de nossas famílias, mas de transformar o Brasil. Porque quando a educação avança, ninguém retrocede.

Queremos uma educação que esteja sempre avançando, sempre acompanhando as novas tecnologias, sempre pautando a necessidade da liberdade de expressão, de arte, mas também da importância desses jovens brasileiros para a construção de um país desenvolvido e soberano.

Como disse antes, não há país que consiga andar para a frente se a valorização da educação não estiver no centro do debate. Essa é a educação dos nossos sonhos. Livre, baseada o diálogo, no conteúdo democrático e na capacidade de transformar o país num lugar bom para se viver para todas as pessoas.

Nesta atual conjuntura, é possível ter esse sonho?

O sonho permanece porque nos alimenta. Mas infelizmente não acreditamos que o Brasil esteja perto disso, como disse acima, neste momento. Temos um governo que não valoriza a educação, não entende o seu papel estratégico e não dá importância para os necessários investimentos nesse setor vital para qualquer nação.

Um governo que queria aprovar o novo e permanente Fundeb (Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação) apenas em 2022. Um governo que acaba de vetar uma lei de conectividade, que ignora e orienta os seus ministros a não receber as entidades estudantis. Que defende sempre uma política de exclusão.

Porque para os ultraconservadores, a educação não podes ser uma ponte para o ensino superior. Para eles, o lugar dos jovens pobres, negros, da periferia é longe dos bancos escolares.

A educação brasileira retrocede?

Tudo o que conquistamos até aqui, o governo Bolsonaro tenta retroceder. Essa Jornada de Lutas da Juventude, portanto, é fundamental para reforçarmos a nossa resiliência e a resistência em defesa de uma educação pública, voltada para o diálogo, inclusiva e de qualidade.

A juventude sonha com o que?

As meninas e os meninos deste país querem viver em paz, em segurança e com perspectivas de futuro, de poder sonhar com uma vida digna, sem violência, sem discriminação, com justiça social, respeito à diversidade e aos direitos humanos.

Lutamos pelo Fora Bolsonaro para voltarmos a sonhar com um futuro construído com as nossas mãos. Queremos a juventude inserida na política, construindo a luta dos movimentos sociais, mas também entendendo a importância do voto, do seu papel de exercer a democracia. Assim iremos derrotar esse projeto de genocídio através das urnas. Um projeto que, mesmo em meio a uma pandemia, aumentou o número de jovens negros mortos.

Precisamos derrotar esse projeto que inclusive ignora o tanto de jovens que são violentados e mortos todos os dias, até dentro de casa com tiro na barriga, jovens mortos nas ruas. Jovens mortos pela fome, pelo subemprego, pela falta de escolas.

A presidenta da Ubes em protesto nas ruas em favor da vida, em 2020 (Ubes)

Dá para ter esperança?

A juventude está desesperada porque temos um governo que ignora o nosso papel para a contribuição, como disse anteriormente, na construção de um país soberano e desenvolvido.

Por isso, costumamos dizer que os jovens não são apenas o futuro, são também o presente do nosso país e nesse presente estamos lutando muito para chegarmos ainda mais fortes no ano que vem para derrotar esse governo genocida e construir com as nossas mãos um Brasil que garanta segurança às nossas vidas, que garanta acesso à educação, que nos dê acesso à saúde, que tenha serviços públicos valorizados e que dê total prioridade à educação” para “o país voltar a sorrir, e possa ser feliz.

Não é esse presente de mortes que desejamos e muito menos um futuro como esse que queremos legar para quem vier depois de nós. Queremos a juventude de cabeça erguida com acesso aos seus direitos como educação, emprego, alimentação adequada e com uma vida digna.

Estamos lutando no presente para chegar mais fortes no futuro e derrotar o medo, o ódio e a violência. Fora Bolsonaro. Vida, Pão, Vacina e Educação para tirarmos o Brasil do buraco e do cemitério.


Texto em português do Brasil


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